Descrição de chapéu Venezuela

Crise humanitária é fabricada para justificar intervenção, afirma Maduro

Ditador venezuelano critica arremetida dos EUA, mas se diz disposto a apertar mãos de Trump

Maduro levanta sua mão esquerda. Ele veste terno preto, camisa branca e gravata vermelha e está em um púlpito com fundo de cor verde.
O ditador da Venezuela, Nicolás Maduro, cumprimenta os delegados após seu discurso na Assembleia-Geral da ONU nesta quarta-feira (26) - Eduardo Muñoz/Reuters
Danielle Brant
Nova York

Em um dos discursos mais longos até agora na Assembleia-Geral da ONU, o ditador venezuelano, Nicolás Maduro, afirmou que a crise humanitária na Venezuela foi fabricada para justificar uma intervenção no país. Ele também se comparou com o líder sul-africano Nelson Mandela.

“Usam uma crise humanitária para justificar as sanções contra a Venezuela. Fabricaram uma crise migratória. Que caia sobre seu próprio peso”, afirmou durante seu discurso, que durou 50 minutos e foi interrompido por aplausos dos participantes em pelo menos quatro ocasiões.

“[Os Estados Unidos] fabricaram uma crise migratória para justificar uma intervenção humanitária, no mesmo esquema das armas de destruição em massa do Iraque, um esquema brutal de guerra psicológica”, acusou o ditador venezuelano.

Ele se referiu à justificativa usada pelo americano George W. Bush em 2003 para iniciar o conflito no Iraque e que depois descobriu-se ser falsa.

Segundo ele, o objetivo do que chamou de “ataques” do governo americano também é desviar a atenção da “verdadeira crise”, entre os países do Sul, “o muro de divisões entre nosso povo”. Assim como tirar o foco da política migratória conduzida pelo governo americano e que se caracterizou, entre abril e junho, pela separação de pais e filhos flagrados tentando entrar nos EUA pela fronteira com o México.

Cerca de 3.000 crianças foram separadas dos pais no período, em medida que provocou forte comoção mundial e fez com que o presidente americano, Donald Trump, precisasse assinar um decreto proibindo a prática.

As declarações de Maduro são uma resposta a Trump, que, mais cedo, afirmou que “todas as opções” estavam sobre a mesa em relação à Venezuela.

“Todas as opções estão na mesa, todas. As fortes e as menos fortes”, disse Trump à margem da Assembleia-Geral da ONU.

“E vocês sabem o que quero dizer com forte”, completou, em uma alusão a uma possível intervenção militar americana.

Os Estados Unidos receberam as críticas mais ferozes do venezuelano. “A Venezuela é vítima de uma agressão permanente econômica, política, diplomática e midiática por parte do governo americano”, disse.

Assim como o dirigente cubano, Miguel Díaz-Canel, o ditador venezuelano fez referência à Doutrina Monroe em seu discurso.“É a ‘America para Americanos’, o que quer dizer que o resto da América teria que pertencer a ele [EUA] para os interesses da elite que dominava de Washington desde sua configuração”, ressaltou.

No pronunciamento, fez referência a uma reportagem do jornal americano The New York Times que afirmava que o governo de Donald Trump manteve reuniões secretas com militares rebeldes na Venezuela para discutir planos de depor o ditador.“Pode a América Latina e o Caribe aceitarem esses métodos em pleno século XX?”, questionou.

Maduro, no entanto, manifestou a intenção de encontrar Trump. “Apesar de todas as diferenças, o presidente da Venezuela está disposto a apertar a mão de Trump”, afirmou Maduro, sendo aplaudido neste momento.

Segundo ele, a Venezuela tem uma tradição pacífica. “Somos um país amigável, não odiamos os EUA, pelo contrário, apreciamos os EUA, sua cultura, suas artes, sua sociedade”, acrescentou.

Ele disse estar disposto a tratar com agenda aberta sobre todos os temas que o governo americano queira debater.

O venezuelano recordou ainda o suposto ataque com drones que sofreu no início de agosto e pediu a nomeação de um delegado especial da Secretaria-Geral das Nações Unidas para conduzir uma investigação sobre a ação.

“A Venezuela propõe de maneira oficial o apoio para uma investigação independente de caráter internacional para que se determine a verdade sobre o que aconteceu”, disse no púlpito da Assembleia Geral.

Maduro disse ser seguidor do legado de Nelson Mandela e dos grandes líderes africanos na luta contra a desigualdade e injustiça contra a escravidão, racismo e colonialismo em todas as suas formas.

“Há 30 anos, Mandela era considerado um terrorista pelo Congresso dos Estados Unidos e pelos governos americanos. Apenas há uns anos, porém, Nelson Mandela estava na lista dos sancionados. Parece familiar, não é verdade?”, disse.

Mandela, continuou, foi sancionado, perseguido e abandonado. “E como mudou o mundo, onde Nelson Mandela é uma bandeira que abraçamos com amor, com convicção. É um símbolo do que é possível fazer se a rebeldia, se a luta, se a justiça for capaz de se apoderar dos corações nobres e das mentes nobres do povo”, concluiu.

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