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Populismo xenófobo atrai geração de europeus perdidos

Movimentos que pregam nações fechadas cativam cidadãos da periferia e já estão ocupando alguns governos na Europa

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A Europa não anda bem das pernas. As manifestações xenófobas —e até neonazistas— na cidade alemã de Chemnist são mais um sinal de alarme. Os movimentos populistas estão crescendo. Na maior parte dos casos, são ainda minoritários. Mas em alguns países europeus, como a Hungria, a Áustria, a Polônia e até a Itália, eles já conseguiram tomar o poder ou ocupar os governos.

Manifestação da extrema direita reuniu cerca de 8 mil pessoas em Chemnitz, na Alemanha, no dia 1 de setembro de 2018
Manifestação da extrema direita reuniu cerca de 8 mil pessoas em Chemnitz, na Alemanha, no dia 1 de setembro de 2018 - Kevin Voigt/Xinhua

As sondagens já estão prevendo que um partido racista anti-imigrante pode se tornar o fiel da balança parlamentar nas próximas eleições legislativas na Suécia.

Além de rejeitar os refugiados e os estrangeiros em geral, os populistas europeus sonham em voltar para um mundo onde não existia globalização econômica, onde as indústrias nacionais bastavam para a garantir emprego e bons níveis de vida. Um mundo onde eles viviam protegidos dentro de suas fronteiras, com governos ricos que distribuíam bem-estar social. E onde não havia ameaças terroristas ou climáticas transnacionais.

Essa nostalgia de um suposto paraíso perdido é uma ilusão: basta olhar para a história europeia do século 20, com duas terríveis guerras mundiais, massacres de massa e a angústia do holocausto nuclear durante a Guerra Fria.

Não há dúvida de que depois da Segunda Guerra Mundial a geração do “baby boom” viveu um período dourado. Mas tudo graças à ajuda e proteção americanas –econômica e militar. Um período de fartura para a Europa ocidental, mas que não conseguiu sobreviver à implosão do inimigo soviético que servia de fator ideológico aglutinador.

Hoje, a festa –efêmera– acabou. Integrar os antigos países comunistas da Europa do Leste à União Europeia tornou-se um quebra-cabeças.

O modelo industrial da produção de massa para o consumo de massa não é mais sustentável nem do ponto de vista do meio ambiente nem do sucesso econômico e social. As novas tecnologias digitais estão transformando rapidamente as economias e as próprias sociedades.

As informações, os circuitos produtivos e financeiros, as ameaças e até a criminalidade são globais. Além de tudo, a nova atitude dos Estados Unidos colocou os europeus frente às suas responsabilidades: agora, o protetor de sempre considera a Europa como um concorrente e não está mais a fim de garantir nem a paz nem a prosperidade do Velho Continente.

Ou bem a União Europeia consegue se entender para reforçar a sua integração e construir uma verdadeira “autonomia estratégica” –econômica e militar– ou bem o futuro será a fragmentação, a impotência política e a decadência econômica.

Tentar dar marcha à ré para um mundo que na verdade nunca existiu não faz nenhum sentido. Só que neste período onde tudo está mudando em alta velocidade, uma fatia dos europeus que vivem em regiões periféricas e que não encontram mais trabalho nessa “nova economia” se sente perdida e está bandeando para o populismo xenófobo. As eleições de 2019 para o Parlamento Europeu serão decisivas.

O presidente húngaro e o líder da extrema direita italiana, Matteo Salvini, acabam de lançar a campanha declarando que a escolha dos eleitores vai ser entre uma Europa “aberta” e uma Europa “fechada” nos seus Estados nacionais. E que o inimigo principal é o presidente francês, Emmanuel Macron, campeão da abertura. Na mesma hora, Macron assumiu plenamente esse papel de líder dos que querem uma Europa forte, dentro de um mundo globalizado, contra os extremistas nacionalistas entrincheirados nas suas fronteiras nacionais.

A estratégia do presidente francês é criar uma aliança pan-europeia das forças progressistas que querem avançar e recompor o jogo político, tanto no Parlamento Europeu quanto em um máximo de países da região. É tentar fazer o que ele conseguiu na França: criar um novo movimento político progressista, passando por cima dos partidos tradicionais decadentes e isolando o populismo extremista.

Ninguém sabe se uma novidade desse tamanho é possível. Mas é óbvio que o futuro da União Europeia vai depender dessa batalha eleitoral de 2019.

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