A jornada de um homem transgênero

Harrison Massie diz ter feito transição com 'o objetivo de me tornar mais parecido comigo'

Maria Caspani
ST. Louis (EUA) | Reuters

​Para Harrison Massie, a transição de mulher para homem jamais girou em torno de trocar um gênero por outro.

Sete anos atrás, Harrison, 29, iniciou sua jornada “com o objetivo de me tornar mais parecido comigo”.

“Dizer que um dia fui mulher não me embaraça em nada”, disse Harrison, que vive em St. Louis, no estado do Missouri. “Isso em última análise é parte de quem sou e de como fui criado, e amo ter a perspectiva dos dois gêneros.”

Mas Harrison disse que ansiava por se sentir mais confortável com o seu corpo, e que desejava ter certas características masculinas, como um peito chato.

Quando ele iniciou sua jornada, Sara Swaty, uma jovem fotógrafa que era sua amiga, decidiu capturá-la, quadro a quadro e ano a ano.

A rejeição pela família e amigos é comum para muitas pessoas transgênero, mas não foi esse o caso de Harrison, que sempre contou com o apoio das pessoas mais próximas.

Em um estudo publicado em 2016 pela revista acadêmica LGBT Health, 31% das pessoas transgênero pesquisadas disseram ter experimentado rejeição moderada da parte de suas famílias, e 14% disseram ter sofrido forte rejeição.

Um estudo recente realizado nos Estados Unidos constatou que cerca de metade dos adolescentes transgênero em transição de mulher para homem tentou suicídio pelo menos uma vez.

“Harrison sempre foi meu companheiro, uma alma gêmea”, disse Robbin, o pai dele, um professor aposentado na casa dos 60 anos.

“Quando disse que estava em transição e queria ser menino, aceitei a decisão.”

A mãe de Harrison, Stephanie, disse que no começo foi realmente difícil processar a decisão do filho quanto a fazer a transição. “Foi como a morte daquela criança.” Mas com o tempo ela percebeu que ele continuava a ser a mesma pessoa, e o relacionamento entre eles nunca oscilou. “Ele continua a ser o bebê, a luz que ilumina a sala.”

O grupo de amigos mais próximos de Harrison não se surpreendeu muito com sua decisão de realizar a transição. Eles vinham percebendo indicações, nas coisas que ele dizia ou fazia, e de certa forma perceberam o que estava por vir.

“Quando ele se assumiu como transgênero, olhamos uns para os outros e pensamos ‘dã’”, disse George Caputa, um dos melhores amigos de Harrison, que hoje vive na Alemanha. “Quando você realmente ama e apoia uma pessoa trans, sua identidade de gênero tem pouco a ver com aquilo que você ama nela.”

Quando Harrison começou sua terapia hormonal, o grupo se reuniu para celebrar seu primeiro mês de injeções e para ajudá-lo a se sentir confortável com o processo.

Mas Harrison também enfrentou muitos desafios. “Quando comecei a transição, não encontrava emprego de jeito nenhum”, ele recorda. “Sempre que tentava explicar a um entrevistador de recursos humanos que meu deadname (nome anterior à transição) não era mais o nome pelo qual eu era conhecido, a pessoa ficava confusa e não me contratava.”

Ao longo desses sete anos, Harrison deixou de ser a “menina bonita” da escola e se tornou seu verdadeiro eu, deixando crescer uma “bela barba ruiva” e por fim se aproximando de poder nadar em público.

“É algo maior que a sorte, o karma, uma bênção, o que quer que você acredite”, ele disse. “Honestamente nunca imaginei que chegaria esse ponto em minha vida.”

Tradução de Paulo Migliacci

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