Ex-líder peruano Fujimori diz que voltar à prisão será sentença de morte

Anulação de indulto reacendeu guerra entre filhos Keiko e Kenji, que disputam legado político

Imagem fornecida pela família Fujimori mostra Alberto Fujimori chegando a clínica depois da anulação de seu indulto nesta quarta-feira (3)
Imagem fornecida pela família Fujimori mostra Alberto Fujimori chegando a clínica depois da anulação de seu indulto nesta quarta-feira (3) - Divulgação/AFP
Lima | AFP

O ex-líder peruano Alberto Fujimori, 80, disse nesta quinta-feira (4) que, se for levado à prisão novamente, será uma "sentença de morte". 

"Quero pedir ao presidente da República, aos membros do Poder Judiciário, só uma coisa: por favor não me matem; se eu voltar à prisão, meu coração não vai suportar, está muito fraco para voltar a passar por isso. Não me condenem à morte", disse o ex-líder em vídeo gravado na clínica onde está desde esta quarta.

A Suprema Corte anulou na quarta-feira o indulto concedido a Fujimori em dezembro pelo ex-presidente Pedro Pablo Kuczynski, conhecido como PPK. O tribunal ordenou que o ex-chefe de Estado (1990-2000) volte para a prisão depois de dez meses de liberdade. Ele foi condenado a 25 anos de prisão por crimes contra a humanidade e corrupção.

O ministro do Interior, Mauro Medina, disse que Fujimori será levado à prisão assim que tiver alta da clínica. 

Guerra entre irmãos

A anulação do indulto a Fujimori reacendeu a guerra entre seus filhos, Keiko e Kenji, que disputam seu legado político.

Fujimori continua desfrutando de alta popularidade no Peru por ter acabado com o terrorismo do grupo Sendero Luminoso e a hiperinflação. Esse legado é disputado por seus filhos, ambos os quais têm ambições de ascender à presidência nas eleições de 2021.

O cisma no fujimorismo foi selado em junho quando o partido que Keiko, 43, lidera —e que domina o Congresso— conseguiu tirar o assento parlamentar de Kenji, 38, que se opôs à cruzada de sua irmã para destituir PPK, que renunciou em março.

Keiko Fujimori fala a repórteres com o irmão Kenji (à dir.), em Lima nesta quarta-feira (3)
Keiko Fujimori fala a repórteres com o irmão Kenji (à dir.), em Lima nesta quarta-feira (3) - Luka Gonzales/AFP

Kenji havia dito em maio que, se o indulto fosse anulado, seria por culpa do partido Força Popular, de sua irmã, que ele mesmo ajudou a fundar em 2011 e do qual se afastou em fevereiro passado.

"Se o meu pai voltar à prisão, nunca perdoarei a Força Popular", havia declarado o caçula do clã, afirmando que a "turbulência política" pela "disputa do poder" no partido de Keiko poderia derrubar o indulto.

Kenji foi o promotor do indulto e para consegui-lo, apoiou PPK. Já Keiko não negociou pelo indulto por medo de que seu pai disputasse a liderança do partido, afirmam analistas.

Após deixar a prisão, Fujimori retirou-se para escrever suas memórias e se declarou aposentado da política, embora tenha mantido seu empenho em reconciliar seus filhos.

Kenji surpreendeu em 21 de dezembro quando, à frente de dez legisladores fujimoristas leais a ele, salvou PPK de ser destituído pelo Congresso.

Assim, rompeu a unidade do fujimorismo e despertou a ira de sua irmã, que mantinha encurralado PPK desde que este assumiu, em julho de 2016.

Três dias depois, PPK deu o indulto ao ex-líder, ato interpretado como pagamento a Kenji por seu apoio crucial no Congresso.

Em março, um suplente de Keiko acusou Kenji de negociar votos para frustrar uma nova moção de vacância presidencial. Isso gerou um escândalo e levou à renúncia de PPK.

Em junho, o Congresso suspendeu Kenji como parlamentar por negociar indevidamente votos para Kuczynski.

Keiko era a política mais popular do país, mas nos últimos dois meses seu apoio caiu para 11%, após suas disputas com o presidente Martín Vizcarra, o sucessor de PPK.

Tópicos relacionados

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.