Descrição de chapéu Governo Trump

Apesar de perda da Câmara, Trump vê 'sucesso tremendo' em eleições legislativas

Republicanos conseguiram manter o controle do Senado, como indicavam as projeções

Nova York

O presidente americano, Donald Trump, considerou o resultado das eleições de meio mandato presidencial —as midterms— um “tremendo sucesso”, após os republicanos ampliarem o controle do Senado, apesar de terem perdido a maioria na Câmara dos Deputados.

“Tremendo sucesso esta noite. Obrigado a todos!”, escreveu Trump em uma rede social.

O presidente Donald Trump fala em comício no estado do Missouri na última segunda-feira (5)
O presidente Donald Trump fala em comício no estado do Missouri na última segunda-feira (5) - Jim Watson/AFP

Até o momento, os democratas conquistaram 219 assentos na Câmara, ou 26 a mais do que tinham até a eleição —o partido precisava de 23 para assegurar maioria na Casa.

No Senado, porém, os republicanos têm, até o momento, 51 cadeiras, mas conquistaram algumas que pertenciam ao partido adversário.

Tradicionalmente, o partido do presidente perde assentos no Congresso nas eleições de meio de mandato presidencial, que funcionam como uma espécie de referendo sobre o governo.

Em 2010, o democrata Barack Obama perdeu a Câmara para os republicanos, movimento ampliado em 2014, quando os democratas perderam o Senado.

Trump citou ainda Ben Stein, autor do livro “The Capitalist Code: It Can Save Your Life and Make You Very Rich” (“O Código Capitalista: Pode salvar sua vida e torná-lo rico”, em tradução literal).

Em frases destacadas pelo presidente, o autor diz que só houve cinco vezes nos últimos 105 anos em que um presidente no poder conquistou assentos no Senado em anos que não têm eleições presidenciais.

Stein diz que Trump tem mágica ao redor dele. “Esse cara tem mágica saindo dos ouvidos”, afirma o autor, que qualifica o presidente como um cabo eleitoral “espantoso”.

“Os republicanos têm uma sorte incrível de tê-lo e eu fico impressionado em ver quão bem eles foram. É tudo a magia de Trump —​Trump é um homem mágico”, escreve Stein. “Incrível, ele tem toda a imprensa contra ele, atacando-o todo dia, e ele consegue essas vitórias enormes."

O presidente ficou em silêncio durante a maior parte da noite eleitoral, assistindo os republicanos conquistarem no Missouri, Indiana e Dakota do Norte assentos no Senado que pertenciam a democratas. A expectativa é que a vantagem do partido na Casa cresça nas próximas horas —ainda falta computar alguns resultados.

Beto O’Rourke, que arrecadou grandes somas de doações individuais e fez uma campanha que prometia sintetizar o poder democrata nas midterms, perdeu a disputa no Senado para o republicano Ted Cruz, que conseguiu se reeleger pelo Texas.

Adversário pela candidatura republicana em 2016, Trump subiu no palanque ao lado de Cruz e pode ter ajudado o senador a manter o assento.

De maneira geral, os republicanos tiveram forte desempenho em estados onde o presidente fez campanha nas últimas semanas, o que mostra que, apesar dos baixos índices de aprovação, ele permanece uma força política expressiva entre os conservadores.

Na Câmara, a nova maioria democrata pode dar ao partido o poder de iniciar procedimentos de impeachment contra Trump, caso haja, por exemplo, base sólida a partir das investigações do procurador especial, Robert Mueller, sobre a ligação do presidente com a Rússia.

A maioria republicana no Senado, porém, torna pouco provável que se obtenha a maioria de dois terços necessária para tirar o presidente do cargo.

A porta-voz da Casa Branca, Sarah Sanders, minimizou a vitória democrata na Câmara. “Você você ter uma marola, mas certamente não acho que há uma onda azul”, disse a secretária de imprensa, lembrando as vitórias republicanas.

Ela disse ainda que a força demonstrada pelos republicanos ao manterem o comando do Senado era uma “vitória imensa” do presidente.

Trump ligou para Nancy Pelosi, líder democrata na Câmara, para parabenizá-la, em um aceno aos apelos por bipartidarismo que ela havia feito durante a campanha eleitoral.

Ele também ligou para Mitch McConnell, líder republicano no Senado, para Paul Ryan, presidente da Câmara com quem Trump recentemente vinha tendo rusgas públicas, e para Chuck Schumer, líder dos democratas no Senado.

Durante pronunciamento após as eleições legislativas, realizado no início da tarde desta quarta (7), Trump falou que espera trabalhar junto com os democratas, mas ameaçou retaliar os oponentes caso eles decidam investigá-lo. 

Os congressistas poderiam, por exemplo, apurar as relações entre a campanha vitoriosa do pleito presidencial de 2016 e a Rússia, além de solicitar a divulgação de seu imposto de renda. Isso o levaria a adotar uma “postura de guerra” que inviabilizaria acordos bipartidários. 

“Eles podem jogar esse jogo, mas nós podemos jogar melhor porque temos uma coisa chamada o Senado dos Estados Unidos”, disse, acusando os democratas de terem feito “muitas coisas questionáveis”, como vazado informações confidenciais. 

O tom belicoso contra os adversários não permeou todo o seu discurso. Ele teceu elogios à líder democrata, Nancy Pelosi, cotada para ser a nova presidente da Câmara, e disse que poderia fazer acordos com a congressista e seus correligionários em assuntos como saúde, meio ambiente e infraestrutura. 

“Ela trabalha muito duro”, disse o republicano. “Reconheço o que ela fez e alcançou.” 

Durante a campanha, Pelosi foi alvo de ataques de Trump. Ele chegou a escrever em uma rede social, de forma irônica, que a deputada “é uma pessoa maravilhosa com ideias e políticas que podem ser ruins”. 

O presidente chegou até a elogiar em seu discurso Oprah Winfrey, uma das “pessoas respeitáveis que trabalharam para os democratas” durante a campanha.

A apresentadora fez campanha para Stacey Abrams, que perdeu a corrida para o governo da Geórgia para o adversário republicano. “Eu não sei se ela ainda gosta de mim, mas costumava”, brincou. 

As vitórias dos republicanos no Senado e nos governos estaduais (os correligionários ganharam duas cadeiras no Senado e venceram em 25 dos 37 estados que tiveram eleições) foram exaltadas pelo presidente. 

E ele lembrou que perdeu menos cadeiras na Câmara do que antecessores. Segundo o instituto Gallup, presidentes com aprovação inferior a 50% costumam perder 37 lugares na casa. 

O partido de Trump, com aprovação de 40%, segundo dados mais recentes, havia perdido, até a noite desta quarta, 27 lugares para os democratas.

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