Segue a lógica clássica: em um mundo mais informatizado e conectado, regimes de partido único, como o da China, estarão, no curto prazo, com seus dias contados.
Dirigindo o país desde 2012, Xi Jinping, porém, comanda ofensiva responsável por oferecer outra linha de raciocínio: a tecnologia auxilia regimes autoritários a permanecer no poder.
O governo chinês desenvolve ferramentas descritas como a quintessência de um mundo orwelliano. Em regimes democráticos, o consumidor tem hábitos e privacidade vasculhados por empresas privadas de tecnologia. Em cenários autoritários, tais informações acabam também nas mãos de agentes políticos.
A China já conta, ainda em fase de testes, com um placar de pontuação para avaliar “bons e maus” comportamentos do cidadão, nos planos social, político e econômico, com punições e recompensas definidas pelo Partido Comunista.
Trata-se do Sistema de Crédito Social (SCS), instrumento high tech de monitoramento anunciado pelo governo em 2014, ainda em testes. Pequim deseja a universalização do esquema em 2020, previsão embebida em otimismo, devido aos contornos mastodônticos da iniciativa.
No SCS, não pagar boletos até a data do vencimento, realizar compras online consideradas desnecessárias ou “muitas horas” em jogos no computador significarão pontos negativos.
Punições poderão vir com diminuição da velocidade da internet e acesso restrito a restaurantes, hotéis e transporte público.
No outro lado da moeda, comportamentos elogiados, como pagamentos em dia e ações patrióticas, acumularão pontuação responsável pelo uso de sala VIP no aeroporto de Pequim ou aluguel de carro sem depósito prévio.
Autoridades chinesas recorrem ao “big data”, capacidade de armazenar e processar colossais quantidades de informações sobre a população. Um dos programas mais famosos é o de reconhecimento facial, que permite à polícia, por exemplo, identificar procurados em meio a multidões.
Há ainda o WeChat, ícone da revolução digital no país. É um app com diversos recursos, como troca de mensagens e postagens em redes sociais, lembrando que Pequim bloqueia Facebook, Instagram e Twitter para substituí-los por similares chineses.
O WeChat registra cerca de 1 bilhão de usuários, na imensa maioria chineses. O aplicativo transformou-se ainda em meio de pagamento ativado por centenas de milhões de usuários. Táxis, restaurantes e lojas, dos mais diferentes portes, recorrem ao QR Code, espécie de código de barras, para acertar as contas.
A Tencent, desenvolvedora do WeChat, mantém relações estreitas com o governo chinês, num país em que a iniciativa privada já responde por mais de 60% do PIB.
Mas, na alquimia deslanchada por Deng Xiaoping, o Partido Comunista e empresários vivem numa simbiose em que autoridades políticas costumam ter a voz mais forte.
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