Uruguai nega concessão de asilo para ex-presidente peruano

Alan García é investigado por envolvimento em escândalo da Odebrecht no país

Lima | AFP

O presidente do Uruguai, Tabaré Vázquez, anunciou nesta segunda-feira (3) que seu governo decidiu negar o pedido de asilo feito pelo ex-presidente peruano Alan García, investigado por casos de corrupção ligados a empreiteira brasileira Odebrecht

O presidente uruguaio disse que a negativa ocorreu após o país analisar a documentação fornecida tanto por García quanto pela Justiça do Peru.  "Em poucas palavras, não concedemos o pedido de asilo", disse Vázquez em entrevista coletiva, ao lado do ministro das Relações Exteriores do Uruguai, Rodolfo Nin Novoa. 

O chanceler disse que a decisão de negar o pedido ocorreu porque o governo uruguaio considera que "não constitui perseguição política as imputações relacionadas principalmente a fatos econômicos e administrativos durante suas duas gestões".

"Consequentemente, o embaixador do Uruguai foi instruído a convidar Alan García que se retirasse de nossa representação diplomática", acrescentou.

Com isso, García deixou a embaixada uruguaia em Lima, onde estava desde o dia 17 de novembro, e disse que está a disposição das autoridades que investigam as denúncias envolvendo seu governo. 

Ele tinha feito o pedido de asilo no próprio dia 17, após a Justiça peruano proibir que deixasse o país. O caso envolve o suposto pagamento de propina da Odebrecht para obter um contrato para construir uma linha do metrô de Lima durante seu segundo mandato (2006-2011).

Ele atualmente é alvo de uma investigação preliminar da acusação, mas ainda não é réu. O ex-presidente afirma ser vítima de perseguição política.

Além do caso envolvendo a Odebrecht, há ainda uma segunda denúncia contra ele, divulgada no sábado (1º) pela imprensa local. 

Segundo a Procuradoria, o então presidente García e outros 21 funcionários atuaram em conjunto para garantir que a empresa holandesa APM Terminals vencesse em 2011 a concessão do Terminal Norte do porto de Callao, vizinho a capital Lima.

Os supostos crimes teriam ocorrido ocorreram nos últimos meses de seu segundo mandato —ele também comandou o país de 1985 a 1990— informou o jornal El Comercio. o esquema teria gerado um prejuízo de US$ 247 milhões (R$ 949 milhões) ao Estado peruano. 

"Alan García e outros funcionários 'teriam emitido instrumentos de gestão, dentro dos quais se encontravam os decretos de urgência para viabilizar a concessão (...) e, com isso, favorecer a empresa APM Terminals Callao", disse a publicação, citando um documento da Procuradoria.

Além dele, seu ex-ministro de Transporte, Enrique Cornejo, também está sendo investigado no caso. 

Ele não é o único ex-presidente peruano investigado por ligação com a construtora brasileira —escândalo que também atingiu Keiko Fujimori, principal nome da oposição. 

Acusado de receber US$ 20 milhões da Odebrecht, Alejandro Toledo (2000-2006) teve prisão preventiva decretada, mas continua foragido nos EUA. As autoridades peruanas pediram em 2017 sua extradição, que ainda não saiu.

Já Ollanta Humala (2011-2016) chegou a ficar em prisão preventiva por sete meses sob a acusação de receber US$ 3 milhões em caixa dois.

E Pedro Pablo Kuczynski (2016-2018), que renunciou ao cargo em março, é acusado de ter recebido US$ 5,1 milhões da empresa em serviços de consultoria entre 2004 e 2013, que inclui período em que ele era ministro.

Tópicos relacionados

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.