Descrição de chapéu Governo Bolsonaro

Leia a íntegra do discurso do ministro Ernesto Araújo em sua posse no Ministério das Relações Exteriores

O diplomata tomou posse no Palácio do Itamaraty nesta quarta-feira (2)

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Inicialmente, gostaria de agradecer muito vivamente as palavras tão amáveis do ministro e senador Aloysio Nunes a meu respeito. Agradeço, muito tocado, sua deferência e gostaria de dizer que a história sempre lembrará a sua condução sempre segura, serena, competente, dessa Casa, em momentos difíceis, e queria dizer que tive muito orgulho em trabalhar sob sua chefia em temas importantes desse Ministério. O senhor deixará um legado muito importante para o Itamaraty.

Gostaria de começar com uma frase que é absolutamente fundamental para entender o que está acontecendo no Brasil. Vou dizê-la de uma maneira diferente do que vocês estão acostumados a ouvir:

Gnosesthe ten aletheian kai he aletheia eleutherosei humas.

"Conhecereis a verdade e a verdade vos libertará".

O novo ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, durante solenidade de transmissão de cargo, no Palácio Itamaraty.

Essa convicção íntima e profunda animou o presidente Jair Bolsonaro na luta extraordinária que ele travou e está travando para reconquistar o Brasil e devolver o Brasil aos brasileiros.

Nesse versículo de São João há três conceitos cruciais para o pensamento humano, para a vida humana e para o nosso momento histórico. Nós temos Gnosis, que é o conhecimento, Aletheia, a verdade, e Eleuthería, a liberdade.

Aletheia. A tradução mais literal dessa palavra grega seria “desvelamento”, ou, melhor ainda, “desesquecimento”. Lethe é esquecimento. Lethe é o rio do esquecimento que, na tradição grega, os mortos cruzavam para ir para o outro lado. Então Aletheia é cruzar o rio de volta para cá. Aletheia é a superação do esquecimento. Algo que está esquecido e escondido e que de repente se recupera.

Aletheia envolve uma experiência autêntica, individual, sentimental, de tal maneira que o nosso conceito atual de “verdade” é muito pobre diante desse conceito original. Nosso conceito de verdade normalmente se refere apenas à verdade factual, é um conceito um pouco técnico e frio, quando deveria ser algo orgânico e vivido.

A Aletheia nos faz desesquecer e reconectar-nos conosco mesmo, e nesse redescobrimento e reconexão conosco mesmos é que a verdade liberta. Pois onde estava preso aquele que se vê libertado pela verdade? Estava preso fora de si mesmo. Estava procurando ser o que não é. O Brasil estava preso fora de si mesmo. E eu arriscaria dizer que a política externa brasileira estava presa fora do Brasil.

Eleuthería, eleutherosei humas. Eleuthería é outra palavra genial criada pelos gregos. Eu não conheço nenhuma outra língua antiga, não conheço tantas, enfim, não conheço wichita, não conheço sânscrito, mas não conheço nenhuma outra língua antiga que possua esse conceito, exceto o latim libertas, mas que já é uma tradução tardia do grego.

Então, mesmo assim, na Grécia antiga, eleuthería significava basicamente a liberdade civil, era um termo jurídico. Somente com a literatura cristã, e, especialmente com esse trecho de São João, eleuthería se tornou algo mais completo, mais profundo e mais elevado.

É um conceito que se desgastou também ao longo dos séculos, a palavra liberdade se desgastou ao longo dos séculos, mas preserva uma força incrível. A palavra liberdade ainda é uma palavra que acende o coração das pessoas. A pessoa pode estar lá, desanimada, no seu canto, mas quando escuta a palavra “liberdade”, não há quem não levante a cabeça, subitamente alerta, e pergunte: liberdade? Onde? Eu quero.

O presidente Bolsonaro está libertando o Brasil, por meio da verdade. Nós vamos também libertar a política externa brasileira, vamos libertar o Itamaraty, como o presidente Bolsonaro prometeu que faríamos, em seu discurso de vitória.

Bem, nós falamos da verdade e da liberdade, mas ainda não falamos do conhecimento, da gnosis. A verdade liberta, mas para chegar à verdade é preciso conhecê-la. E não se trata aqui de um conhecimento racional, pois a verdade não pode ser ensinada, a verdade nesse sentido profundo não pode ser ensinada por dedução analítica. Gnosis é o conhecimento no sentido de uma experiência mais íntima. A verdade é essencial, mas não pode ser ensinada nem aprendida. Mas se é assim, como é que nós vamos conhecer a verdade, que é a chave de isso tudo?

Para explicar isso eu queria apelar a um brasiliense ilustre, Renato Russo, quando ele diz: "é só o amor, é só o amor que conhece o que é verdade".

Não são a cautela ou a prudência que conhecem o que é a verdade, mas o amor. A cautela, a prudência e o pragmatismo são bons instrumentos, quando sabemos para onde queremos ir, mas eles não nos ensinam para onde ir, não nos mostram o que somos, não nos explicam a nós mesmos.

É só o amor que explica o Brasil. O amor, o amor e a coragem que do amor decorre, conduziram os nossos ancestrais a formarem esta nação imensa e complexa. Nós passamos anos na escola, quase todos nós, eu acho, escutando que foi a ganância ou o anseio de riqueza, ou pior ainda, o acaso, que formou o Brasil, mas não foi. Foram o amor, a coragem e a fé que trouxeram até aqui, através do oceano, através das florestas, pessoas que nos fundaram, pessoas que disseram coisas como esta que vou ler agora:

Anuê Jaci, etinisemba-ê

Indê irú manunhê

Yara rekô embobeuká tupirã

Rekôku ya subí

Embobeuká tupirabê

Nge membyrá Tupã

Essa é a Ave Maria em tupi, na versão original do Padre José de Anchieta, onde ele traduz Maria por Jaci, a lua, Anuê Jaci, e Jesus por Tupã, o trovão.

E aqui precisamos da Aletheia. O desesquecimento. Precisamos libertar a nossa memória histórica da qual essa modesta oração faz parte.

Para libertar o Itamaraty através da verdade, precisamos recuperar o papel do Itamaraty como guardião da continuidade da memória brasileira.

Eu me lembro da emoção que eu senti pela primeira vez, quando era Terceiro Secretário, que subi as escadas para este terceiro andar, e vi, logo ao subir a escada, o quadro da Coroação de Dom Pedro 1º e o quadro do Grito do Ipiranga.

Imediatamente, eu, que tinha 22 anos, me lembrei de quando tinha 5 anos e assisti maravilhado no cinema ao filme "Independência ou Morte", com Tarcísio Meira e Glória Menezes. E pensei: então tudo isso existe, né? Tudo isso existe... e tudo isso é aqui!

Eu me lembro desse momento muito marcadamente e eu percebi: olha, isso aqui não é simplesmente uma repartição pública, isso aqui é uma espécie de um santuário. É uma espécie de túnel do tempo, onde os heróis estão vivos, os heróis famosos e os heróis anônimos, onde nós convivemos com os descobridores, com Alexandre de Gusmão, José de Anchieta, com D. João 6º, com os imperadores e as princesas, com os bandeirantes e os abolicionistas, com os seringueiros e garimpeiros e tropeiros que construíram essa nação, e até mesmo com o estranho caso de um Barão monarquista que se tornou o grande ídolo da República.

Eu não sei se alguns de vocês já tenham assistido provavelmente a um seriado espanhol chamado Ministerio del Tiempo. Eu recomendo. E eu diria que o Itamaraty, em certo sentido, não é somente um Ministério das Relações Exteriores, é também um Ministério do Tempo. Como talvez nenhuma outra instituição no Brasil, nós temos a responsabilidade de proteger e regar esse tronco histórico multissecular por onde corre a seiva da nacionalidade.

O presidente Bolsonaro disse que nós estamos vivendo o momento de uma nova Independência. É isso que os brasileiros profundamente sentimos. E deveríamos senti-lo e vivê-lo ainda mais aqui no Itamaraty, onde a história está tão presente. Deveríamos deixar fluir por estes salões e corredores a emoção deste novo nascimento da pátria.

Precisamos desesquecer e lembrar quem somos, de quem estamos voltando a ser.

Diz o lema do Barão: Ubique Patriae Memor. Normalmente se traduz como “em todos os lugares, lembrar-se da pátria.” Aqui, os senhores me perdoarão a um professor de latim frustrado, que nunca fui, antes de querer ser diplomata, para dizer que está errada essa tradução. Memor é uma primeira pessoa. Então, na verdade é: “em todos os lugares, eu me lembro da pátria.” É um compromisso de vida pessoal que cada um de nós assume, e não uma simples anotação na agenda. Onde quer que seja, eu me lembro da pátria.

E “eu me lembro da pátria” aqui não significa simplesmente que, quando estamos no exterior, devemos pensar no Brasil. Significa, se nós pensarmos no conceito de Aletheia: eu sinto essa verdade profunda que é a pátria, eu sinto o que é ter uma pátria e lembrar-se da pátria, portanto, como uma verdade central, essa verdade que liberta e que só se pode conhecer pelo amor.

Lembrar-se da pátria. Não é lembrar-se da ordem liberal internacional, não é lembrar-se da ordem global, não é lembrar-se do que diz o último artigo da Foreign Affairs ou a última matéria do New York Times. É lembrar-se da pátria como uma realidade essencial.

Não estamos aqui para trabalhar pela ordem global. Aqui é o Brasil.

Não tenham medo de ser Brasil.

Não tenham medo.

Pensem, por exemplo, em Dom Sebastião. Quando preparava sua expedição à África, algum nobre da corte portuguesa perguntou a Dom Sebastião se ele não tinha medo. Dom Sebastião olhou e perguntou: “De que cor é o medo?”

Alguém objetará que Dom Sebastião morreu pouco depois no areal do Alcácer Quibir, que é verdade, mas nós estamos falando aqui dele, não é? Nós sabemos quem ele é. Dom Sebastião se tornou um mito, aquele que há de voltar das ondas do mar, num dia de muita névoa. Nós não nos lembramos das pessoas que ficaram em casa, daqueles que não foram ao Alcácer Quibir. A Aletheia que liberta está com os que foram, com os que seguiram a bandeira dos seus reis e dos seus santos, sem saber se iriam voltar, sem se importar se iriam voltar.

O mito ensina a não ter medo, e é curioso que o mito é o mito e no momento atual o mito é o apelido carinhoso que o povo brasileiro deu ao presidente Bolsonaro.

Marcel Proust dizia que os nossos sentimentos vão se atrofiando por medo, por medo de sofrer. E eu acho que a nossa política externa vem se atrofiando por medo de ser criticada. Então não tenham medo de sofrer e não tenham medo de ser criticados.

Por sua vez, Clarice Lispector dizia, falando do Brasil e do nacionalismo: “A nossa evidente tendência nacionalista não provém de nenhuma vontade de isolamento: ela é movimento sobretudo de autoconhecimento.” Autoconhecimento, a verdade. Aletheia, a verdade que liberta.

Então, para não ter medo, vamos ler menos Foreign Affairs, e mais Clarice Lispector ou Cecília Meireles.

Vamos ler menos The New York Times, e mais José de Alencar e Gonçalves Dias.

Vamos escutar menos a CNN e mais Raul Seixas.

Por que Raul Seixas? "Não fiquemos no trono de um apartamento", ou de uma embaixada, "com a boca escancarada cheia de dentes esperando a morte chegar".

Vamos fazer alguma coisa pelas nossas vidas e pelo nosso país. Mergulhemos no oceano de sentimento e na esperança do nosso povo. Não mergulhemos nessa piscina sem água que é a ordem global.

O Itamaraty existe para o Brasil, não existe para a ordem global.

O Itamaraty existe para o Brasil, não existe para si mesmo. Nós somos uma casa de excelência? Somos, claro que sim. Mas para sê-lo precisamos mostrá-lo, e não ficar simplesmente repetindo isso uns para os outros. Nós vamos cuidar da nossa administração, do fluxo de carreira, vamos solucionar esse e muitos outros problemas, se Deus quiser, que legitimamente afligem a instituição, para que o ministério possa melhor se capacitar para sua tarefa maior.

Queria dizer que nós não precisamos e não vamos abrir os quadros do Itamaraty para pessoas de fora da carreira, além dos casos que já existem. O presidente Bolsonaro confia plenamente na capacidade dessa casa e dessa carreira de implementar a sua política. Nós simplesmente estamos tomando a medida de flexibilizar a ocupação de cargos no Itamaraty por funcionários da carreira em determinados níveis hierárquicos justamente para arejar o fluxo da carreira e inclusive estimular os nossos colegas a ocuparem esses cargos.

Nós temos tradições, é claro, mas precisamos empregá-las como estímulo para buscar a verdade e a liberdade, como serviço à pátria, como serviço a todos os brasileiros, tanto os mais humildes, quanto os mais afortunados do nosso povo, esse povo que uma ideologia perversa não mais divide.

Temos tradições, mas, como dizia o Embaixador Azeredo da Silveira, na frase famosa, "a maior tradição do Itamaraty é saber renovar-se".

Eu quando ingressei no Itamaraty, repetia-se essa frase a torto e a direito. Você não conseguia cruzar um corredor sem ouvir essa frase da tradição do Itamaraty sabendo renovar-se; mas há alguns anos, há muito tempo, eu pessoalmente já não tenho escutado essa frase. Não sei bem porquê. Talvez seja por um pouco desse ensimesmamento, de um certo comodismo que se criou.

Nós nos apegamos muito à nossa própria autoimagem e fizemos dela uma espécie de um ídolo, e ficamos nos olhando um pouco no espelho e dizendo que nós somos o máximo, e dizendo que os Governos não nos entendem, mas que o Itamaraty está acima dos governos. Nós nos tornamos diplomatas que fazem coisas que só são importantes para outros diplomatas. Isso precisa acabar. Deixemos de olhar no espelho e passemos a olhar pela janela. Ou melhor ainda, vamos sair à rua para o Brasil verdadeiro.

Não tenhamos medo do povo brasileiro. Somos parte do povo brasileiro.

Certa vez, ainda no Instituto Rio Branco, eu ouvi de um diplomata antigo o seguinte: que o Itamaraty não pode ser melhor do que o Brasil. Nessa época, eu tomei isso como um sinal de um grande pessimismo. Era um momento difícil na história do Brasil e eu achei que ele estava dizendo, olha, o Brasil está ruim, e o Itamaraty está igual. Mas hoje eu acho que finalmente eu compreendo o que ele queria dizer.

O Itamaraty não pode achar que é melhor do que o Brasil. O Itamaraty não pode achar que não faz parte do Brasil. Fazemos parte, voltamos a fazer parte de uma aventura magnífica.

A partir de hoje, o Itamaraty regressa ao seio da pátria amada.

O Itamaraty voltou, porque o Brasil voltou.

Fernando Pessoa afirmava o seguinte: o poeta superior diz o que pensa. Ou melhor, o poeta superior diz o que sente. O que pensa, também. “O poeta superior diz o que sente. O poeta médio diz o que decide sentir. O poeta inferior diz o que acha que deve sentir.”

O mesmo talvez se possa dizer do diplomata. E o mesmo se aplica ao um país na sua presença internacional.

Por muito tempo o Brasil dizia o que achava que devia dizer. Era um país que falava para agradar os administradores da ordem global. Queríamos ser um bom aluno na escola do globalismo, e achávamos que isso era tudo. Éramos um país inferior, aplicando a classificação de Fernando Pessoa.

Mas o Brasil volta a dizer o que sente, e a sentir o que é.

Vocês podem dizer que isso é “quixotesco”, talvez, e as pessoas nos chamam, às vezes, ou me chamam de tantas coisas bem piores, que então “quixotesco”, só para dizer que talvez já estaria bom, “quixotesco” já seria um bom adjetivo. Mas isso me lembra algo que escutei do professor Olavo de Carvalho, um homem que, após o presidente Jair Bolsonaro, talvez seja o grande responsável pela imensa transformação que o Brasil está vivendo.

Certa vez eu ouvi o professor Olavo referir-se a um trecho do Dom Quixote de Cervantes, que é talvez o ponto central dessa obra. É quando Dom Quixote está caído à beira do caminho, em algum lugar de La Mancha, em espécie de delírio, e começa a conversar com os passantes como se fossem o marquês disso, o conde daquilo, ou algum herói de cavalaria, enquanto fala das suas próprias façanhas.

Lá pelas tantas, ele se refere a um camponês que está passando como “Marquês de Mântua”. E o camponês para e olha para ele e diz: “Peraí. Eu sei quem é o senhor. Eu não sou marquês de Mântua, eu sou seu vizinho, Pedro Alfonso. E o senhor não é Dom Quixote, o senhor é um bom homem, que conheço há muitos anos, o senhor é Alonso Quijano.” E Dom Quixote para um segundo, pensa, e responde: “Yo sé quién soy.”

Algumas pessoas dirão que o Brasil não é isso tudo que o presidente Bolsonaro acredita e que eu também acredito, dirão que o Brasil não tem capacidade de influir nos destinos do mundo, de defender os valores maiores da humanidade, que devemos apenas exportar produtos e atrair investimentos, pois afinal somos um bom país, quieto e pacífico, mas não temos poder para nada. Dirão que o Brasil é apenas Alonso Quijano. Mas o Brasil responderá: Eu sei quem eu sou.

Eu sei quem eu sou.

Somos um país universalista, é certo, e a partir desse universalismo queremos construir algo bom e produtivo com cada parceiro. Mas universalismo não significa não ter opiniões. Universalismo não significa uma geleia geral. Não significa querer agradar a todos. A vocação do Brasil não é ser um país que simplesmente existe para agradar. Queremos ser escutados, mas queremos ser escutados não por repetir alguns dogmas insignificantes e algumas frases assépticas, queremos ser escutados por ter algo a dizer.

Nós buscaremos as parcerias e as alianças que nos permitam chegar aonde queremos, não pediremos permissão à ordem global, o que quer que ela seja. Defenderemos a liberdade e a vida. Defenderemos o direito de cada povo de ser o que é, com liberdade e dignidade, com a dignidade que unicamente a liberdade proporciona.

Quem ama, luta pelo que ama. Então nós admiramos quem luta, admiramos aqueles que lutam pela sua pátria e aqueles que se amam como povo, por isso admiramos por exemplo Israel, que nunca deixou de ser uma nação ,mesmo quando não tinha solo – em contraste com algumas nações de hoje, que mesmo tendo seu solo, suas igrejas e seus castelos já não querem ser nação.

Por isso admiramos os Estados Unidos da América, aqueles que hasteiam sua bandeira e cultuam seus heróis. Admiramos os países latino-americanos que se libertaram dos regimes do Foro de São Paulo. Admiramos nossos irmãos do outro lado do Atlântico que estão construindo uma África pujante e livre. Admiramos os que lutam contra a tirania na Venezuela e em outros lugares. Por isso admiramos a nova Itália, por isso admiramos a Hungria e a Polônia, admiramos aqueles que se afirmam e não aqueles que se negam.

O problema do mundo não é a xenofobia, mas a oikofobia – de oikos, oikía, o lar. Oikofobia é odiar o próprio lar, o próprio povo, repudiar o próprio passado.

É mais fácil não amar, não lutar, porque amar e lutar também significam sofrer, significam muitas vezes não ser compreendido, significam suscitar o ódio, o desprezo, a inveja – então muitas nações, assim como muitas pessoas optam pelo conforto e pela facilidade de não amar e de não lutar. Nós aqui não optamos nem pelo conforto, nem pela facilidade.

Além da oikofobia, o ódio contra o próprio lar, deveria preocupar-nos, também, cada vez mais, a teofobia, o ódio contra Deus. Há uma teofobia horrenda, gritante, na nossa cultura. Não só no Brasil, em todo o mundo. Um ódio contra Deus, proveniente sabe-se lá de onde, canalizado por todos os códigos de pensamento e de não pensamento que perfazem a agenda global.

Para destruir a humanidade é preciso acabar com as nações e afastar o homem de Deus, e é isso que estão tentando, e é contra isso que nos insurgimos.

O globalismo se constitui no ódio, através das suas várias ramificações ideológicas e seus instrumentos contrários à nação, contrários à natureza humana, e contrários ao próprio nascimento humano. Nação, natureza e nascimento, todos provém da mesma raiz etimológica e isso se dá porque possuem entre si uma conexão profunda.

Aqueles que dizem que não existem homens e mulheres são os mesmos que pregam que os países não têm direito a guardar suas fronteiras, são os mesmos que propalam que um feto humano é um amontoado de células descartável, são os mesmos que dizem que a espécie humana é uma doença e que deveria desaparecer para salvar o planeta. Por isso a luta pela nação é a mesma luta pela família e a mesma luta pela vida, a mesma luta pela humanidade em sua dignidade infinita de criatura.

Quando eu era criança, ouvia, e adolescente também, ouvia muita gente dizendo: “O mundo caminha inexoravelmente para o socialismo”. Mas não caminhou. Não caminhou porque alguém foi lá e não deixou.

Hoje escutamos que a marcha do globalismo é irreversível.

Mas não é irreversível.

Nós vamos lutar para reverter o globalismo e empurrá-lo de volta ao seu ponto de partida.

Nós queremos levar a toda parte o grito sagrado da liberdade, eleuthería. Esse foi o primeiro grito de guerra do Ocidente em seu nascimento, na batalha de Salamina, Eleutheroûte Patrída. Libertai a pátria.

Então temos aqui o Barão dizendo “eu me lembro da pátria”, eu trago a pátria de dentro do seu escondimento, eu vivo a pátria na verdade. E temos Ésquilo gritando pela liberdade, libertai a pátria, Eleuthería. Mas Aletheia e Eleuthería só são possíveis pelo conhecimento da pátria, que se dá pelo amor.

Um dos instrumentos do globalismo, para abafar aqueles que se insurgem contra ele, é espalhar que, para fazer comércio e negócios, não se pode ter ideias nem defender valores. Nós provaremos que isso é completamente falso. O Itamaraty terá, a partir de agora, o perfil mais elevado e mais engajado que jamais teve na promoção do agronegócio, do comércio, dos investimentos e da tecnologia.

De fato, ao se distanciar do Brasil e do povo brasileiro, o Itamaraty havia se distanciado também do setor produtivo nacional. Pois agora estaremos junto com o setor produtivo nacional, como nunca estivemos. Nós não vamos mais apenas “acompanhar os temas”, como se diz no jargão antigo, o jargão daquele Itamaraty fechado ao povo.

O Itamaraty não será mais um ministério que só fica olhando. Vamos trabalhar sem descanso para promover o comércio agrícola, a indústria, o turismo, a inovação, a capacitação tecnológica, os investimentos em infraestrutura e energia, avançando ombro a ombro com os outros Ministérios – graças a essa extraordinária equipe ministerial que o presidente Bolsonaro criou com um espírito de harmonia e um sentido de missão sem precedentes.

Quando digo extraordinária me excetuo, porque não quero falar de mim mesmo. Estou falando dos outros 21 ministros.

Formularemos com cada parceiro internacional um programa de trabalho específico, para desenvolver o potencial de cada relação, de maneira criativa e dinâmica. Para isso contaremos, entre outros, com esse instrumento extraordinário que é a Apex, uma Apex renovada, redinamizada e integrada ao conjunto da nossa estratégia de política externa.

Contaremos também com um setor de Promoção Comercial dentro do Itamaraty que multiplicaremos por quatro, vamos desburocratizar os setores de promoção comercial nas Embaixadas no Exterior, transformando-os em verdadeiros escritórios comerciais capazes de gerar negócios e ocupar novos mercados para os nossos produtores.

Implementaremos uma política de negociações comerciais para os dias de hoje. Estivemos negociando acordos comerciais, alguns mais exitosamente, outros menos, mas em muitos casos no modelo dos anos 1990. Em alguns casos também estamos negociando esses acordos desde os anos 1990, e até agora, em alguns casos, vão involuindo com o passar do tempo.

Nós negociamos esses instrumentos em abstrato, e não aquilo que deveríamos fazer, que são entendimentos efetivos direcionados às nossas potencialidades concretas. Nós negociamos muitas vezes a partir de uma posição de fraqueza, como se estivéssemos implorando acesso a mercados, quando na verdade deveríamos negociar a partir de uma posição de força, como um dos maiores e potencialmente o maior produtor de alimentos do mundo, por exemplo.

Nós orientaremos todas as relações bilaterais e multilaterais para a geração de resultados concretos para o emprego, a renda e para a segurança dos brasileiros. Ao mesmo tempo que as relações bilaterais, investiremos renovado esforço também nas negociações multilaterais, especialmente na OMC, que está construindo uma nova e promissora agenda da qual, hoje, o Brasil ainda está de fora, mas na qual entrará com todo o seu peso e toda sua criatividade.

No sistema multilateral político, especialmente na ONU, vamos reorientar a atuação do Brasil em favor daquilo que é importante para os brasileiros – não do que é importante para as ONGs. Defenderemos a soberania. Defenderemos a liberdade – a liberdade de expressão, a liberdade de crença, a liberdade na internet, a liberdade política. Defenderemos os direitos básicos da humanidade, o principal dos quais talvez seja, se me permitem usar o título de uma novela dos anos 1960, O Direito de Nascer.

Abriremos o Itamaraty para a sociedade, seremos a casa de todos os brasileiros. Muito se escuta que o brasileiro não se interessa por política externa. Na verdade, o brasileiro não se interessava por política externa quando achava que política externa era simplesmente um exercício de estilo, infinitas variações para não dizer nada em um discurso da ONU.

Desde a eleição do presidente Bolsonaro, o brasileiro está profundamente interessado e envolvido em política externa, mesmo porque o presidente dá uma atenção enorme a essa área, pois a considera algo profundamente integrado na vida nacional, e não alguma disciplina arcana à qual só teriam acesso alguns especialistas.

O brasileiro sente que na frente externa se dá uma das principais, senão a principal batalha pelos seus ideais e valores mais profundos. O brasileiro entende que da frente externa depende em grande medida a sobrevivência e o êxito do projeto de redescoberta e libertação, esta aventura de aletheia e eleuthería que estamos vivendo com amor e com coragem.

Falar com a sociedade não é simplesmente falar, é principalmente ouvir. Vou dar um exemplo do que temos para ouvir. É o comentário de uma pessoa que segue a minha conta do Twitter, que diz o seguinte... li isso ontem: “Antes eu não entendia o amor do povo da Inglaterra pela rainha. Agora entendo. Quando temos alguém que ama seu país e seu povo e os defende, ganha amor e respeito. Não conhecíamos isso antes de Bolsonaro.”

A isso me proponho aqui. Fazer do Itamaraty um instrumento de amor pelo nosso país e pelo nosso povo.

Estou certo de que podemos tornar o Brasil ao mesmo tempo mais competitivo e mais autêntico, ao mesmo tempo mais econômica e comercialmente dinâmico e mais verdadeiro, mais respeitado internacionalmente e mais fiel a si mesmo.

Não deixem o globalismo matar a sua alma em nome da competitividade. Não acreditem no que o globalismo diz quando diz que para ter eficiência econômica é preciso sufocar o coração da pátria e não amar a pátria. Não escutem o globalismo quando ele diz que paz significa não lutar.

Os senhores me perguntarão: e como faremos isso?

Pela palavra.

Acreditemos no poder infinito da palavra, que é o logos criador.

O presidente Jair Bolsonaro está aqui, chegou até aqui, e nós com ele, porque diz o que sente. Porque diz a verdade. E isso é o logos.

Eu vou terminar falando do princípio e citando novamente São João, a abertura do Evangelho de São João, quando diz “en archê ên ho logos”. O princípio era o logos. A palavra. O verbo. Archê, a última palavra em grego que eu vou dizer aqui hoje, significa princípio, tanto no sentido de início, quanto no sentido, principalmente, de força estruturante, princípio estruturante. A realidade, pelo menos a realidade humana, está estruturada em torno da linguagem, da palavra, do verbo, portanto do logos.

Tudo o que temos, tudo de que precisamos, é a palavra. Ela está aprisionada, mas com amor e com coragem havemos de libertá-la.

Que Deus abençoe a todos vocês, aos que creem e aos que não creem, aos que estão conosco e aos que ainda não estão conosco. Que Deus abençoe o presidente Jair Bolsonaro e que Deus abençoe o Brasil.

Anuê Jaci!

Muito obrigado.

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