Para 61% da população mundial, ciberataques vão interferir em eleições

Pesquisa mostra que brasileiros são os que menos confiam no governo para resolver a questão

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São Paulo

​A cada cinco pessoas no mundo, três acreditam que ciberataques podem manipular as eleições em seus países em um futuro próximo —e os brasileiros são os que menos confiam na capacidade de seu governo de conter essas ameaças.

Os números fazem parte de uma nova pesquisa divulgada nesta quarta (9) pelo Pew Research Center, instituição com sede em Washington. O levantamento, feito entre maio e agosto de 2018, entrevistou mais de 27 mil pessoas em 26 países, entre eles o Brasil.

Diversos líderes mundiais —como os presidentes dos EUA, Donald Trump, e do Brasil Jair Bolsonaro— questionaram a segurança dos sistemas eleitorais de seus países, em especial a possibilidade de urnas eletrônicas serem manipuladas.

Para especialistas, porém, a chance de isso acontecer é baixa. CEO de uma das principais empresas de cibersegurança do planeta, a FireEye, Kevin Mandia disse à Folha em outubro que esse é um limite que dificilmente será cruzado. 

A pesquisa mostra que os brasileiros, ao lado dos argentinos, são os que menos confiam no seu governo para enfrentar as ameaças virtuais. Para 78% dos entrevistados no país, o poder público não está preparado para a questão (no vizinho, a taxa é de 81%) e apenas 16% acham que está (9% na Argentina). 

Na média mundial, 47% confiam no governo e o mesmo número desconfia, sendo que russos (67%) e israelenses (73%) são os que mais têm a confiança da população para resolver a questão. 

Foram entrevistadas pessoas por telefone e pessoalmente no Brasil, EUA Canadá, Espanha, Holanda, Alemanha, Reino Unido, França, Suécia, Grécia, Polônia, Itália, Hungria, Rússia, Coreia do Sul, Japão, Austrália, Filipinas, Indonésia, Tunísia, Israel, Quênia, África do Sul, Nigéria, México e Argentina. 

Segundo o estudo, a confiança no poder público tem correlação com o apoio que o entrevistado dá ao governo local.  ​

Nos Estados Unidos, por exemplo, 61% eleitores do Partido Republicano —sigla do presidente Donald Trump— acreditam que o governo esteja pronto para enfrentar a questão, contra 47% entre quem apoia os democratas. O padrão se repetiu em todos os dez países em que houve a divisão entre governistas e opositores.

Esta análise, porém, não foi feita no Brasil. Na época das entrevistas, o então presidente Michel Temer (MDB) batia recordes de impopularidade no país.

Rússia também é um dos países que menos acredita na capacidade de hackers e ataques virtuais manipularem as eleições: 44% da população apoia esta hipótese, número superior apenas ao da França (41%).

No Brasil, 60% dos entrevistados acreditam na possibilidade de interferência no sistema eleitoral, próximo a média mundial de 61% e bastante abaixo do nível encontrado nos outros dois países da América Latina pesquisados, a Argentina (74%) e o México (78%).

Os mexicanos, aliás, dividem a liderança no assunto com os americanos. Os números mostram ainda que os asiáticos (65%) temem mais a manipulação das eleições do que os europeus (53%).

Os pesquisadores perguntaram apenas sobre a possibilidade de ataques que manipulam o sistema de votação. Assim, casos em que um país faz ilegalmente campanha nas redes sociais para interferir na votação de outro Estado —como a Rússia é acusada de ter feito em 2016 nos EUA— não estão incluídos na pesquisa.

Além da interferência nas votações, os pesquisadores também perguntaram qual a possibilidade de ciberataques interferirem em outras áreas e encontraram ainda mais desconfiança do público.

Na média mundial, 74% dos entrevistados acreditam que este tipo de ação pode levar ao vazamento de informações sensíveis de segurança nacional, enquanto 69% acha que eles podem ainda prejudicar a infraestrutura do país.

Nos dois casos, o Brasil fica abaixo da média, apesar de também ter altos números, com respectivamente 62% e 58%.

Em todos os países, ao menos metade da população acredita na ameaça dos ciberataques, sendo que os mais preocupados são os sul-coreanos, os japoneses, os americanos, os espanhóis e os holandeses. Do outro lado, italianos e húngaros são os que menos acreditam na ameaça a segurança nacional e a infraestrutura.

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