Descrição de chapéu Venezuela

Após cirurgias estéticas, brasileiras são levadas à fronteira da Venezuela por governador chavista

Regime de Nicolás Maduro autoriza 166 brasileiros a voltar para casa

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

As brasileiras Carla Pinheiro (esq.) e Marilva Silva do Carmo foram autorizadas a cruzar a fronteira por motivo de saúde, em Pacaraima (RR) - Ricardo Moraes/Reuters
Pacaraima (Roraima)

Após autorização do regime venezuelano, 166 brasileiros cruzaram a fronteira nesta terça-feira (26) e chegaram a Pacaraima.

Outros 20 caminhoneiros devem voltar ao país nas próximas horas, segundo o vice-consulado em Santa Elena.

O primeiro grupo chegou no final da tarde e contou até com a presença de um governador chavista na linha fronteiriça —no início da manhã, garis haviam varrido o local, palco de confrontos entre manifestantes oposicionistas e militares venezuelanos no sábado (23) e no domingo (24).

Tratava-se de um grupo de 14 brasileiros que viajou à Venezuela para fazer cirurgias estéticas.

Eles foram levados até a linha divisória pelo governador do estado Bolívar, Justo Noguera, que estava acompanhado de uma equipe de imprensa oficialista.

Antes, Noguera havia liderado uma marcha de apoio ao ditador Nicolás Maduro por Santa Elena de Uairén, a cidade fronteiriça onde três manifestantes opositores morreram a tiros em confrontos com militares no último sábado.

"Não houve nenhum momento de tensão no trajeto. Tiramos foi muita foto lá com o governador”, diz a pedagoga de Boa Vista (RR) Carla Pinheiro, 39, que fez uma cirurgia nos olhos.

Brasileira é resgatada por bombeiros após tentar cruzar fronteira da Venezuela com o Brasil
Brasileira é resgatada por bombeiros após tentar cruzar fronteira da Venezuela com o Brasil - Fabiano Maisonnave/Folhapress

O grupo deixou Puerto Ordaz, a 620 km da fronteira, pela manhã.

Na estrada, atravessaram 25 barreiras de controle. "Viemos sem saber se iam liberar. Fé em Deus que nós íamos passar e deu tudo certo, até o governador estava junto.”

Ela estava na Venezuela havia nove dias junto com outras três mulheres: "A minha vizinha, a minha mãe e mais uma colega que vem sempre fazer cirurgia. Tem umas quatro ‘cirurgiadas'", disse.

Mesmo com a crise no país vizinho nos últimos anos, existe um grande fluxo de brasileiros que vai à Venezuela fazer cirurgias estéticas, atraídos pelos preços baixos.

Em muitos casos, é preciso levar o material cirúrgico do Brasil, devido à escassez aguda de medicamentos no país vizinho. 

Mais cedo, duas mulheres que também haviam passado por cirurgias estéticas não tiveram a mesma sorte. Elas caminharam por cerca de três horas para voltar ao Brasil.

Debilitada, uma delas não aguentou subir um pequeno barranco no último trecho e precisou ser socorrida pelos bombeiros. Entrou na ambulância sobre uma maca.

Segunda leva

No início da noite, um grupo de 152 brasileiros também cruzou a fronteira. Todos estavam em Santa Elena e conseguiram ser liberados após negociação do vice-cônsul Ewerton Oliveira com o comando militar da região.

Eles foram levados ao posto de triagem dos imigrantes venezuelanos, que tem estado vazio nos últimos dias. Lá, ganharam um jantar preparado pelo Exército, que coordenou a chegada a Pacaraima.

Parte do grupo era formada por turistas que haviam subido o Monte Roraima, um passeio que costuma levar seis dias.

A bancária Camila Lima, 29, conta que só soube do fechamento da fronteira na noite de segunda-feira (25), quando voltavam da montanha —não havia comunicação.

Eles foram direto ao consulado brasileiro e depois dormiram em um hotel providenciado pela agência de turismo. 

“Vimos ônibus queimados, lojas fechadas e pouca gente na ruma”, diz Lima, que mora em São Paulo.

Maduro fechou a fronteira na última sexta-feira (22), para impedir a chegada de alimentos e medicamentos doados pelo Brasil pelos EUA à oposição venezuelana.

Sob o pretexto de ajuda humanitária, a doação visava pressionar pela deposição do regime chavista, há 20 anos no poder.

​Fluxo reduzido

O fechamento da fronteira venezuelana, na sexta-feira (22), reduziu em 85% o fluxo de entrada de pessoas ao Brasil. A grande maioria é de migrantes fugindo da grave crise econômica e política do país vizinho.

Em janeiro, foram registradas 695 entradas de pessoas por dia em Pacaraima (RR). De sábado (23) até segunda-feira (25), foram apenas 105 por dia.

Os poucos que conseguem cruzar são obrigados a caminhar por horas por trilhas. Há registro de transeuntes que, mesmo estando no lado brasileiro da fronteira, são assaltados por militares venezuelanos.

Os números são da Operação Acolhida, coordenada pelo Exército e que recebe os imigrantes venezuelanos em Roraima e os redistribui pelo país.

Quase todos são venezuelanos —a média tem sido de 600 entradas por mês. Alguns cruzam Roraima rumo a outros estados e países vizinhos, outros vêm de compras e há os que buscam refúgio no estado. 

​Até o início de fevereiro, havia 6.560 venezuelanos hospedados em abrigos montados em Roraima.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.