Ex-prefeito rompe bipartidarismo e é eleito presidente de El Salvador

Nayib Bukele e seu pequeno partido conservador dependem agora do apoio da direita tradicional no Congresso

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San Salvador (El Salvador) | AFP

O ex-prefeito Nayib Bukele, 37, rompeu no domingo o tradicional bipartidarismo direita-esquerda em El Salvador ao vencer a eleição presidencial, com a missão de obter acordos para combater a violência e estimular a economia.

O popular ex-prefeito da capital do país, San Salvador, venceu a disputa no primeiro turno com 53,78% dos votos, com 87,67% das urnas apuradas, resultado considerado irreversível pelo Tribunal Eleitoral.

Após ser eleito presidente de El Salvador, Nayib Bukele acena para apoiadores em comício em San Salvador
Após ser eleito presidente de El Salvador, Nayib Bukele acena para apoiadores em comício em San Salvador - Jose Cabezas/Reuters

Bukele, que entrou na disputa pelo pequeno e conservador partido Grande Aliança pela Unidade Nacional (Gana), celebrou a vitória com seus eleitores. Milhares de pessoas o aclamaram na Praça Morazán, com bandeiras de El Salvador e de seu partido.

Com uma comunicação fortemente calcada nas redes sociais, Bukele não participou de nenhum dos debates da campanha eleitoral.

"É uma vitória do povo salvadorenho, hoje ganhamos no primeiro turno e fizemos história", disse o presidente eleito, que era o favorito em todas as pesquisas, apesar das dúvidas sobre a possibilidade de vencer já no primeiro turno.

Seu triunfo acaba com o histórico bipartidarismo que governou El Salvador nas últimas décadas.

Apesar da vitória contundente, analistas destacam que Bukele terá que buscar acordos com a oposição de direita, que controla o Congresso.

O novo presidente terá que governar em aliança com a oposição ao menos até 2021, quando acontecerão as próximas eleições legislativas.

Para o analista Roberto Cañas, os salvadorenhos sepultaram o bipartidarismo que "não conseguiu interpretar as necessidades do povo, como a insegurança diária nas ruas".

"Bukele personificou o cansaço da população com um modelo de partidos salpicados pela corrupção, que agora devem recolher os pedaços para recompor-se, caso desejem continuar como opção", disse Cañas.

Os candidatos dos partidos que governaram o país nas últimas décadas reconheceram a derrota.

Carlos Calleja, da coalizão de quatro partidos de direita liderada pela Aliança Republicana Nacionalista (Arena), foi o segundo colocado, com 31,62% dos votos. O ex-chanceler Hugo Martínez, da governante Frente Farabundo Martí para a Libertação Nacional (FMLN, esquerdista), ficou em terceiro, com 13,77%.

A Arena governou El Salvador de 1989 a 2009, enquanto a FMLN, que se transformou em partido político com o fim da guerra civil em 1992, chegou ao poder em 2009.

O atual presidente do país, eleito em 2014, é Salvador Sánchez Cerén, da FMLN.

O bipartidarismo havia dominado o país desde o fim da guerra civil de 12 anos em 1992, com a assinatura de acordos de paz entre o governo e a guerrilha. Esta foi a sexta eleição presidencial desde então.

O novo presidente precisará enfrentar o já antigo problema das gangues violentas, as chamadas "maras", que extorquem a população e foram responsáveis pela maioria dos 3.400 homicídios cometidos em 2018 em El Salvador, país com 51 mortes para cada 100 mil habitantes.

No passado, governos de direita apostaram na repressão ou negociaram em sigilo com as gangues.

A esquerda, enquanto isso, com o ex-presidente Mauricio Funes (2009-2014), incentivou uma trégua entre as duas principais gangues que reduziu temporariamente os homicídios.

A cada ano, milhares de salvadorenhos deixam o país por causa da violência e o desemprego.

Bukele também terá que enfrentar o lento crescimento de uma economia dolarizada que, nos últimos cinco anos, não conseguiu chegar a 3% de crescimento anual.

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