Desejo de renovação e desencanto marcam eleição em El Salvador

Pesquisas apontam favoritismo de Nayib Bukele e derrota de partidos tradicionais

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São Paulo

A guerra civil em El Salvador terminou em 1992, mas só neste domingo (3), quase 30 anos depois, será cravado o último prego no caixão do conflito: se as pesquisas estiverem certas, desaparece a polarização das cinco eleições anteriores entre os grupos políticos que foram os símbolos da guerra.

O líder nas pesquisas não é nem Carlos Calleja, 42, candidato da Arena (Aliança Republicana Nacionalista, da direita radical), nem Hugo Martínez, 51, da FMLN (Frente Farabundo Martí de Libertação Nacional), que lutou contra os militares que a Arena apoiava.

O líder nas pesquisas, Nayib Bukele (de boné) durante encontro com apoiadores na capital, San Salvador
O líder nas pesquisas, Nayib Bukele (de boné) durante encontro com apoiadores na capital, San Salvador - Marvin Recinos/AFP

O favorito chama-se Nayib Bukele, 37, ex-prefeito da capital, San Salvador, ex-militante da FMLN, mas que, agora, apresenta-se como uma novidade —por não integrar os  partidos tradicionais.

É justamente o desencanto com os políticos de sempre que dá impulso à candidatura de Bukele.

Como no Brasil de 2018, o pleito se caracteriza pelo repúdio aos dois partidos que se revezaram no poder desde 1992.

Agora, quem ganha é o desencanto, como escreve para o jornal conservador La Prensa Gráfica o economista Roberto Rubio-Fabián: “Que há descontentamento, sem dúvida há. Amplo e intenso”.

Confirma editorial da revista da UCA (Universidade Centro-Americana), de grande presença da esquerda: “As pesquisas revelam que o desencanto faz querer algo diferente, sem importar sua viabilidade ou idoneidade”.

O sujeito oculto tanto no texto de Rubio-Fabián como no editorial da UCA é Bukele. Rubio-Fabián, sem citar o líder nas pesquisas, pergunta, já se lamentando: “Esse descontentamento é tão profundo/amplo que poderá catapultar um populista sem ideias e sem moral à Presidência?”.

Razões para o desencanto sobram no país. Duas se destacam: violência e corrupção.

Sobre a violência: Em 2015, a taxa de homicídios aumentou para 104 por 100 mil habitantes, tornando o pequeno país o mais violento do mundo.

A taxa decaiu em 2017 para 60 mortes por 100 mil habitantes, mas, mesmo assim, El Salvador só não é mais letal do que a falida Venezuela. Fica fácil entender por que os salvadorenhos se juntam às caravanas que tentam chegar aos EUA.

Corrupção: dois ex-presidentes desviaram tanto dinheiro dos cofres públicos que foram parar na cadeia (Antonio Saca, da Arena) ou foram para o exílio na corrupta Nicarágua (Maurício Funes, da FMLN).

Mas Bukele, o favorito, também acaba de ser atingido por suspeições: a publicação El Faro divulgou documentos que mostram que houve pagamentos ilícitos a membros de sua campanha.

No total, segundo El Faro, os pagamentos ilegais podem ter chegado a US$ 120 milhões (R$ 438,6 milhões) beneficiando não apenas o pessoal de Bukele mas também as campanhas de seus concorrentes.

É difícil dizer se essa denúncia conseguirá abalar o favoritismo de Bukele, mas todos os que analisam El Salvador acham que a FMLN, que governou o país nos últimos dez anos, ficará de fora do poder, com consequências regionais.

Caso se concretize a vitória de Bukele, a ditadura de Nicolás Maduro perderá um de seus últimos aliados; o mesmo acontecerá com a ditadura nicaraguense. 

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