Ex-militares chilenos são condenados por caso de manifestantes queimados vivos

Vítimas protestavam contra a ditadura de Pinochet; pena média é de dez anos

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Santiago

O juiz chileno Mario Carroza decidiu na quinta-feira (21) pela condenação de 11 ex-oficiais do Exército acusados no famoso caso "Quemados", ocorrido durante a ditadura militar (1973-1990).

Em 2 de julho de 1986, o fotógrafo Rodrigo Rojas e a estudante Carmen Gloria Quintana foram queimados vivos após serem detidos durante um protesto anti-regime. O primeiro morreu alguns dias depois, enquanto Quintana sobreviveu, ficando com o corpo bastante deformado. Eles tinham, na época, 19 e 18 anos, respectivamente.

Apesar de ainda estar em vigor a lei de anistia no Chile, firmada em 1978, a Justiça tem realizado nos últimos anos julgamentos baseado em leis internacionais de direitos humanos, que consideram delitos como este crimes de lesa humanidade (tortura, sequestro, assassinato), portanto sem possibilidade de prescreverem ou serem anistiados.

A média das condenações foi de dez anos de prisão.

De Negri (centro) com Carmen Quintana (dir.), que foi queimada em 1986, durante protesto em Santiago em 2015 - Ivan Alvarado/REUTERS

Quintana se disse satisfeita com a decisão da Justiça. Já a mãe de Rodrigo Rojas, Verónica de Negri, considerou a decisão positiva, mas que chegava tarde demais e a pena seria muito leve pela dimensão do delito. "Mas estou feliz de que esses criminosos não podem continuar mentindo", disse.

Na época, o general Augusto Pinochet, líder da ditadura, afirmou que as vítimas tinham se incendiado sozinhas e acidentalmente, com uma bomba caseira que haviam levado ao protesto.

Negri era uma opositora do regime que tinha se exilado em Washington, nos EUA, em 1977, com o filho Rodrigo. O rapaz, porém, alimentava o desejo de retornar ao Chile para documentar os protestos de resistência à ditadura. Foi num destes que foi preso ao lado da amiga, Quintana.

Apesar de haver testemunhas do momento em que ambos foram levados a um descampado, e, em seguida, queimados, os militares envolvidos haviam feito um pacto de silêncio, que tornou a identificação dos envolvidos na ação impossível.

O caso pôde ser reaberto em 2014, quando um dos oficiais, que na época era um recruta, decidiu romper o pacto por alegar peso na consciência.

Fernando Guzmán declarou ter participado da ação e nomeou os colegas e o comandante da operação. "Foi o tenente Pedro Castañer quem decidiu, depois dos golpes que demos em ambos, que eles deveriam ser queimados, e colocou fogo nos dois", afirmou à Justiça.

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