Descrição de chapéu The New York Times

Polícia usa dados de localização do Google em investigações nos EUA

Investigadores recorrem à empresa para encontrar suspeitos e testemunhas

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Jorge Molina retratado na cidade de Goodyear, no estado do Arizona 
Jorge Molina retratado na cidade de Goodyear, no estado do Arizona  - Alex Welsh/The New York Times
Jennifer Valentino-Devries ​
The New York Times

Quando detetives em um subúrbio de Phoenix, no Arizona, prenderam um funcionário de armazém numa investigação de homicídio em dezembro passado, policiais disseram que uma nova técnica desvendou o caso após outras pistas não ajudarem.

A polícia disse ao suspeito, Jorge Molina, que tinha dados que situavam seu celular no lugar onde um homem foi morto a tiros nove meses antes. 

Eles fizeram a descoberta após obter um mandado de busca que exigia que o Google fornecesse informações sobre todos os aparelhos captados perto do assassinato.

Os investigadores também tinham outras evidências circunstanciais, como um vídeo de segurança de alguém disparando uma arma a partir de um Honda Civic branco, o mesmo modelo que Molina possuía, embora não pudessem ver a placa ou o agressor.

Mas, depois de Molina passar quase uma semana preso, o caso mudou de rumo quando os investigadores obtiveram novas informações e o libertaram. No mês passado, a polícia prendeu outro homem: o ex-namorado da mãe de Molina, que às vezes usava seu carro.

Os mandados, que se baseiam em um enorme banco de dados do Google que seus funcionários chamam de Sensorvault, transformam o negócio de rastrear a localização de celulares em uma rede digital para a detenção de criminosos. 

Em uma era de coleta de dados generalizada pelas companhias de tecnologia, esse é apenas o último exemplo de como informações pessoais estão sendo usadas para fins que muitas pessoas não esperavam. 

As companhias de tecnologia há anos cumprem ordens judiciais para fornecer informações sobre determinados usuários. Os novos mandados vão mais longe, sugerindo possíveis suspeitos e testemunhas na falta de outras pistas. 

Muitas vezes, segundo funcionários do Google, a companhia responde a um único mandado com informações sobre a localização de dezenas ou centenas de dispositivos.

Gary Ernsdorff, promotor no Estado de Washington que trabalhou em casos que usaram esses mandados, diz que os suspeitos devem ser totalmente investigados. “Não vamos acusar alguém só porque o Google disse que ele estava lá.”

Não está claro com que frequência esses pedidos levaram a detenções ou condenações, porque muitas investigações ainda estão em curso, e juízes frequentemente tornam os mandados sigilosos. 

A prática foi usada pela primeira vez por agentes federais em 2016, segundo funcionários do Google, e relatada publicamente no ano passado na Carolina do Norte. Desde então, espalhou-se por departamentos de polícia dos EUA.

Neste ano, segundo um funcionário do Google, a empresa recebeu até 180 pedidos em uma semana. A empresa não quis confirmar números precisos.

O Sensorvault inclui registros de localização detalhados, envolvendo pelo menos centenas de milhões de equipamentos em todo o mundo e que datam de quase uma década. 

Os novos mandados especificam uma área e um período de tempo, e o Google reúne a informação do Sensorvault sobre os telefones que estavam lá. Ela os rotula com números de identidade anônimos, e os detetives examinam localização e padrões de movimento para ver se parecem relevantes.

Quando eles reduzem o campo a alguns telefones que acham que pertencem a um suspeito ou testemunha, o Google revela os nomes dos usuários e outras informações.

Em comunicado, Richard Salgado, diretor de assuntos policiais e segurança de informações do Google, disse que a companhia tenta “vigorosamente proteger a privacidade de usuários enquanto apoia o importante trabalho da polícia”. Ele acrescentou que entregou informação de identificação apenas “quando legalmente solicitada”.

Detetives usaram os mandados para solucionar roubos, ataques sexuais, incêndios e assassinatos, e autoridades que recorreram a eles  dizem que os dados ajudam a localizar suspeitos e testemunhas que podem ter estado perto do local do crime sem perceber. 

Dados de localização são um negócio lucrativo —e a Google é de longe o maior ator, impelido em grande parte por seus telefones Android. A empresa usa as informações para acionar publicidade de acordo com a localização das pessoas, parte de um mercado de mais de US$ 20 bi (cerca de R$ 77,6 bi) em 2018.

Essas buscas também levantam questões constitucionais. A Quarta Emenda diz que um mandado deve solicitar uma busca limitada e estabelecer a causa provável de que serão encontradas evidências ligadas a um crime.

A equipe jurídica do Google decidiu antes da ordem judicial de 2018 que a empresa exigiria mandados para pedidos de localização, e criou o procedimento que revela primeiramente só dados anônimos.

“Pensamos no Judiciário como um supervisor, mas conforme a tecnologia se tornou mais complexa os tribunais tiveram cada vez mais dificuldade para exercer esse papel”, diz Jennifer Granick, advogada de vigilância e cibersegurança da União Americana de Liberdades Civis. “Dependemos das empresas para serem intermediárias entre as pessoas e o governo.”

Tradução de Luiz Roberto Mendes Gonçalves

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