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Portugal celebra 45 anos do fim da ditadura com memorial sobre presos

Revolução dos Cravos, relembrada nesta quinta (25), encerrou mais de quatro décadas de regime autoritário

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Lisboa

Portugal comemora nesta quinta (25) os 45 anos da Revolução dos Cravos, que encerrou mais de quatro décadas de ditadura no país. Além do feriado nacional e das tradicionais passeatas em várias cidades, o grande destaque é a inauguração de um memorial que homenageia os presos políticos do salazarismo.

No memorial, um enorme painel de ferro traz gravados os nomes de todos os 2.510 “opositores ao regime fascista” presos na fortaleza de Peniche (a 101 km de Lisboa), entre 1934 e 1974, cadeia que se tornou o símbolo da repressão da ditadura portuguesa.

Os responsáveis pelo monumento afirmam que outros nomes podem ser incluídos na lista, à medida que novas descobertas sejam feitas nos arquivos da ditadura, muitos deles ainda inexplorados.

Museu da ditadura será instalado em antiga prisão, em Peniche
Museu da ditadura será instalado em antiga fortaleza-prisão, em Peniche (Portugal) - DGPC/Ministério da Cultura de Portugal

Simultaneamente, será inaugurada a exposição “Por teu livre pensamento”, também sobre memórias da ditadura. Dividida em quatro módulos, ela mostra a realidade do antigo presídio por meio de fotos, recortes de jornais, documentos e objetos pessoais dos antigos detentos.

Cerca de 40 presos políticos colaboraram na criação da mostra. Alguns não conseguem conter a emoção ao retornarem ao espaço para conhecer o que já vai estar disponível ao público.

As duas iniciativas são uma espécie de aperitivo para a abertura do Museu Nacional da Resistência e da Liberdade, prevista para o ano que vem, e que marcará de vez a conversão da antiga prisão política em centro de memória contra o autoritarismo.

O primeiro-ministro de Portugal, António Costa, e a ministra da Cultura, Graça Fonseca, participarão da inauguração do memorial. A abertura para o público acontece no domingo (27), data da libertação dos presos políticos após a queda da ditadura. 

“Lembro-me de ser espancado. Doía muito, mas a grande dúvida era se a gente não aguentasse e fizesse alguma declaração que podia comprometer camaradas. Essa era a dor maior”, diz Afonso Assunção Rodrigues, que chegou à prisão em 1971.

Instalada de frente para o mar, a fortaleza-prisão por pouco não virou um complexo de hotel e restaurantes. 

Há quatro anos, o governo português chegou a falar publicamente sobre o assunto, mas recuou após uma série de manifestações da população e de antigos presos políticos. 

A restauração e conversão em museu da antiga cadeia custou 3,5 milhões de euros (cerca de R$ 15,5 milhões).

Em 2018, outro local simbólico para o fim do Estado Novo foi aberto à visitação: o forte de Santo António, na região de Cascais, espécie de casa de férias de António Salazar. Foi lá que, em 1968, o ditador caiu de uma cadeira e bateu violentamente com a cabeça no chão. Com 79 anos, Salazar jamais se recuperou do acidente e morreu dois anos depois. 

A ditadura criada por ele, no entanto, perdurou até 1974, quando seu sucessor, Marcello Caetano, foi derrubado em uma revolução pacífica que ganhou força com militares de baixa patente. 

Após a Revolução dos Cravos, Marcello Caetano exilou-se no Brasil, onde atuou como professor e morreu sem jamais voltar a Portugal.

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