Do ambiente putrefato de um hospital decadente ao salão de beleza onde mulheres vendem seus cabelos para comprar comida; da velha que finge não ter fome para não ser abandonada pela família ao pai que leva as filhas à escola a pé porque acabou a gasolina: as indignidades de viver em um país em colapso são a matéria-prima para a ficção da venezuelana Karina Sainz Borgo.
Radicada em Madri, Borgo é autora de “Noite em Caracas” (ed. Intrínseca) e virá ao Brasil em julho, como convidada da Flip.
A escritora se mudou para a Espanha em 2006. “Meu país não me reconhecia nem eu o reconhecia”, contou à Folha, por email.
Jornalista, diz que sua experiência na profissão afeta sua ficção “muito profundamente”. “Mas nem meu romance é uma reportagem nem meus contos são crônicas. Se eu quisesse informar faria uma série de reportagens. Queria emocionar, por isso escrevi um romance.”
O livro não foi publicado na Venezuela nem comentado pelo governo. “Duvido que muitos funcionários do regime passem no teste de leitura compreensiva”, diz.
Ela escreveu, a pedido da Folha, três contos sobre a crise na Venezuela: "Tesouras", "Escadas" e "Algo vai acontecer".
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