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Embaixadas dos EUA exibem bandeira LGBT apesar de oposição de governo

De Seul a Brasília, diplomatas contornaram negativa de Mike Pompeo no Mês do Orgulho Gay

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Carol Morello
Washington Post

Desde que o Departamento de Estado começou a rejeitar pedidos de embaixadas para hastear bandeiras do movimento LGBT durante o Mês do Orgulho Gay neste ano, diplomatas americanos encontraram maneiras de desafiar, ou pelo menos contornar, a nova política.

As fachadas de missões dos Estados Unidos em Seul, na Coreia do Sul, e Chennai, na Índia, estão parcialmente escondidas por grandes bandeiras do arco-íris, enquanto a embaixada em Nova Déli é iluminada por luzes em faixas coloridas.

Bandeira do movimento LGBT hasteada junto com a dos EUA na embaixada do país em San José, na Costa Rica 0
Bandeira do movimento LGBT hasteada junto com a dos EUA na embaixada do país em San José, na Costa Rica - Juan Carlos Ulate/Reuters

O site da embaixada em Santiago, no Chile, mostra um vídeo do diplomata-chefe levantando uma bandeira do arco-íris no mês passado, no Dia Internacional Contra a Homofobia, Transfobia e Bifobia.

O site da embaixada dos Estados Unidos em Viena mostra a foto de uma bandeira multicolorida tremulando abaixo da nacional em um mastro que se projeta do edifício, uma declaração dos Diplomatas pela Igualdade e uma reportagem sobre um professor que dá palestras sobre a visibilidade e o crescimento dos direitos LGBT.

Diplomatas americanos em Jerusalém aderiram a uma Marcha pelo Orgulho e Tolerância, e vários embaixadores tuitaram fotos deles mesmos em paradas do orgulho gay ou diante de embaixadas cercados de funcionários segurando letras que formam a palavra "orgulho".

"Esta é uma rebelião categoria 1", disse um diplomata, que como outros entrevistados sobre as rejeições —que não foram feitas por escrito— falou sob a condição do anonimato por medo de ser demitido.

Uma prática que foi geralmente aprovada na maior parte da década em muitas embaixadas hoje exige aprovação de alto nível do Departamento de Estado. Mas, neste ano, como foi relatado pela NBC News, todos os pedidos foram negados.

A discussão sobre as bandeiras começou quando o Departamento de Estado não enviou um telegrama oficial neste ano com diretrizes para marcar o Mês do Orgulho Gay, como fez em anos anteriores.

Em 2011, o governo Barack Obama instruiu os órgãos envolvidos com política externa a promover os direitos LGBT, uma política notável para uma agência que, até o início dos anos 1990, considerava a homossexualidade um risco à segurança e motivo de demissão.

As diretrizes do governo Obama para o Mês do Orgulho incluíam regras para hastear bandeiras do arco-íris de mastros diante das embaixadas —elas deviam ser menores que a bandeira americana e tremular abaixo desta. Mas a permissão era dada sem problemas. Em 2016, a aprovação ficou a cargo de cada embaixador ou chefe de missão.

O processo mudou no ano passado, depois que Mike Pompeo se tornou secretário de Estado.

Cristão evangélico que acredita que o casamento deve ser definido como uma união entre um homem e uma mulher, Pompeo disse que os funcionários gays devem ser respeitados e tratados como todos os outros. Mas ele descartou alguns símbolos dos direitos LGBT, enquanto criava vários grupos de discussão e nomeava enviados especializados em questões de liberdade religiosa.

O telegrama de advertência que surgiu no ano passado dizia que os diplomatas devem obter aprovação de alto nível do Escritório de Administração do Departamento de Estado para hastear uma bandeira com as cores o movimento.

O Departamento de Estado não quis responder a perguntas relativas à advertência sobre o Mês do Orgulho e a bandeira do arco-íris. Mas dois diplomatas disseram que todos os pedidos no ano passado foram aprovados.

Neste ano houve uma mudança. As embaixadas em Israel, Alemanha, Brasil e Letônia, e mais alguns outros postos, pediram para hastear bandeiras do arco-íris. Todos os pedidos foram negados, disse uma pessoa do Departamento de Estado informada sobre o que aconteceu.

Embora a maioria das embaixadas pareça estar seguindo a linha, a mudança de política pode ter provocado uma espécie de revolta entre os diplomatas.

Autoridades do Serviço de Relações Exteriores se queixaram em uma página privativa no Facebook de que ninguém deveria ter pedido permissão.

Embaixadas que ostentaram a bandeira em anos anteriores optaram neste ano por comemorar o mês postando em seus sites a declaração do presidente Donald Trump reafirmando os direitos LGBT e convidando os países a aderir a uma campanha global para descriminalizar a homossexualidade. A iniciativa foi ideia de Richard Grenell, o embaixador americano na Alemanha, que é gay.

Algumas dessas missões foram criativas ao mostrar a declaração de Trump. Na de Brasília, por exemplo, a frase é ilustrada por uma foto de duas mãos segurando letras de plástico coloridas: "LGBTQ". Mas algumas não mencionaram a declaração de Trump, o que ficou mais evidente com a justaposição de declarações de embaixadores e secretários de Estado de governos anteriores.

Funcionários gays no serviço estrangeiro e civil dizem que a proibição de hastear a bandeira é apenas a ponta de um iceberg de desconsiderações.

Pompeo não emitiu uma declaração para o Mês do Orgulho, como fez no ano passado. Ele não participou do evento anual do Dia do Orgulho no Departamento de Estado por dois anos consecutivos, como faziam seus antecessores, embora ele estivesse em viagem neste ano.

Em vez disso, enviou o vice-secretário, John Sullivan, diplomata veterano que prometeu que o Departamento de Estado defenderá os diplomatas gays e suas famílias.

"Dia a dia, uma morte por mil cortes, nossos direitos como americanos LGBT+ são desgastados com a retirada de uma diretriz aqui, a edição de uma política ali, ou apenas o silencioso desaparecimento de um site", escreveu Robyn McCutcheon, mulher transgênero que serviu em vários postos diplomáticos no exterior, em seu blog Transgender at State, lamentando o que ela observou em todo o governo nos últimos dois anos. "Não deve causar surpresa que esta erosão também aconteça no Departamento de Estado."

Alguns afirmam que seus piores temores não foram extintos.

O governo indicou vários embaixadores gays, e Trump se tornou o primeiro presidente republicano a fazer uma declaração comemorando o Mês do Orgulho.

Ninguém foi demitido por sua orientação sexual, mas alguns disseram que se sentiram mais vulneráveis depois que Trump tentou proibir pessoas transgênero nas Forças Armadas.

Segundo eles, é melhor não falar sobre questões LGBT em público e correr o risco de chamar a atenção para si mesmos.

"Nós voamos fora do radar", disse um funcionário. "Sobrevivemos porque eles não percebem onde estamos."

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