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Massacre de 1989 dita até hoje repressão do regime na China

Com monopólio do poder, PC ampliou mecanismos de controle social para evitar reedição de atos pró-democracia

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Jaime Spitzcovsky
São Paulo

Trinta anos atrás, o massacre da praça da Paz Celestial, no coração de Pequim, selou o caminho das reformas chinesas, ao sepultar a abertura política, e ofereceu reflexos que ditam até hoje a estratégia do governo de sufocar movimentos sociais com potencial para alimentar focos de contestação ao regime

O Partido Comunista, em quatro décadas de mudanças tectônicas, implantou crescimento econômico, redesenhou o panorama social e aumentou o peso da China no cenário internacional, mas se recusou a abrir mão do monopólio do poder.

A 4 de junho de 1989 ocorreu o momento mais trágico de contestação ao reinado do PC.

Militares abriram fogo contra civis, na maioria estudantes, que ocupavam a praça havia quase dois meses, com reivindicações de democracia e combate à corrupção. Estimativas do número de mortos variam de centenas a 2.000. O governo chinês censura o debate e oblitera referências à tragédia.

No domingo (2), o ministro da Defesa, Wei Fenghe, em Singapura, teve de enfrentar questionamento sobre o 4 de junho. “O governo central adotou medidas para deter as turbulências, o que é uma política correta.”

Os eventos da praça da Paz Celestial se desenrolaram no explosivo ano de 1989, lapidado pelas reformas de Mikhail Gorbatchov na antiga União Soviética, pelo colapso dos regimes comunistas na Europa Oriental e, em novembro, pela queda do Muro de Berlim, ícone do fim da Guerra Fria.

O crepúsculo do século 20 oferecia capítulos dramáticos. Em 1978, Deng Xiaoping lançava o “socialismo com características chinesas”, arquitetado para injetar economia de mercado e resgatar o país da pobreza. A alquimia se alicerçava na manutenção do poder pelo PC.

Em 1985, Gorbatchov chegava ao Kremlin, priorizando abertura política (glasnost) antes da econômica (perestroika). Ventos mudancistas passaram a soprar com intensidade, chacoalhando regimes modelados a partir da Revolução Bolchevique de 1917.

O PC chinês não escapou à primavera democrática. Protestos estudantis surpreenderam o país em 1987. Responsabilizado pelas “turbulências”, o secretário-geral do partido, Hu Yaobang, teve de renunciar.

Deng, patriarca das reformas, pairava sobre as alas moderadas e linha-dura entrincheiradas na estrutura partidária. Em 1989, a morte de Hu Yaobang, simpático a mudanças políticas, levou novamente estudantes às ruas. Começava, em abril, a ocupação da praça.

A cúpula do PC se dividia sobre como reagir. Zhao Ziyang, sucessor de Hu Yaobang, defendia o diálogo. O premiê Li Peng pregava a repressão.

Cabia a Deng Xiaoping a palavra final. Em maio, Gorbatchov desembarcou em Pequim, e sua presença impulsionou o movimento estudantil.

Diante da crescente mobilização, com atos em outras cidades, Deng optou pela repressão. Zhao Ziyang acabou em prisão domiciliar até sua morte, em 2005. Li Peng permaneceu como premiê até 1998.

A vitória da ala pró-repressão colocou em dúvida o futuro das reformas econômicas. Em 1992, Deng reafirmou a opção com uma histórica viagem pelo sul do país, núcleo do salto industrializante.

O arquiteto das reformas morreu em 1997 e deixou como legado a decolagem econômica, com a China se transformando, a partir de 2010, em segundo maior PIB do planeta.

No plano político, sucessores de Deng mantêm a mão férrea, desafiados pelo avanço do paradoxo chinês. Por um lado, para manutenção do avanço econômico, o dirigente Xi Jinping aposta na expansão da classe média e em inovações tecnológicas.

Por outro, Pequim cultiva rígidos controles políticos, como sofisticados mecanismos para monitorar o fluxo de informações na internet. 

Para o governo, é fundamental impedir eventos como os de 4 de junho de 1989.

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