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Governo Trump

Episódio com Trump atinge presidente da Ucrânia na decolagem

Divulgação de conversa com americano colocou Zelenski em situação bastante grave

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São Paulo

O controverso telefonema que embasa o pedido de impeachment do presidente americano, Donald Trump, atingiu duramente o homem do outro lado da linha na conversa: Volodimir Zelenski, o novato que tomou de assalto o poder na Ucrânia neste ano.

Tudo conspirava em favor de Zelenski até aqui, a despeito de sua total inexperiência política. Até dezembro, era conhecido no seu país apenas por fazer o papel de um presidente acidental, um professor que foi eleito após um discurso anticorrupção dado a alunos viralizar na internet.

Volodimir Zelenski durante encontro com Donald Trump nesta quarta (25) em Nova York
Volodimir Zelenski durante encontro com Donald Trump nesta quarta (25) em Nova York - Saul Loeb/AFP

Tudo foi transportado para a realidade: Zelenski virou candidato na virada do ano e até seu partido, o Servo do Povo, tem o mesmo nome da versão televisiva. Não foram poucos que viram nisso o dedo do bilionário que comandava o canal que veiculava a atração, mas o presidente foi em frente.

Acabou no segundo turno com o então presidente Petro Porochenko, herói da autodenominada revolução de 2014, que derrubou o governo pró-Kremlin em Kiev —e levou Vladimir Putin a patrocinar a secessão e anexação da península de maioria russa da Crimeia, seu mais audacioso golpe externo em 20 anos de poder.

Vencendo de forma arrasadora, com 73,2% dos votos, Zelenski trabalhou então para superar o principal calcanhar de Aquiles de sua versão da TV: o Parlamento. Evitou conviver com um premiê e congressistas hostis e adiantou as eleições de outubro para julho.

Aproveitou a onda favorável e, como o presidente Emmanuel Macron havia feito em 2017 no pleito parlamentar após sua vitória na França, levou seu novo partido a dominar o Legislativo com 254 de 450 deputados.

O próximo passo foi buscar conversar com Putin. A relação com a Rússia é a mais espinhosa questão externa de seu país desde que foi separado da União Soviética, em 1991, e o país tem grande população russa étnica —o próprio Zelenski, judeu, fala primariamente a língua de Putin.

Os russos consideram que a Ucrânia é um elemento de separação física de seu país com o Ocidente, e a adesão a estruturas como a Otan (aliança militar liderada por Washington) é vista como inaceitável. Zelenski procurou Putin, abrindo um canal que estava fechado desde que o Kremlin apreendeu navios e aprisionou marinheiros ucranianos no fim do ano passado.

 

O telefonema coloca todo esse esforço do neófito abaixo. Sua linguagem corporal algo abobalhada durante a reunião com Trump transparecia a dificuldade de se ver no meio de um imbróglio de implicações tão graves. Tanto que passou da negativa de falar sobre a conversa para um "não quero me meter" inconclusivo.

Para piorar, a transcrição da Casa Branca mostra o comediante que virou presidente chamando Trump de professor e falando mal da Europa, na figura da chanceler alemã, Angela Merkel. Ele concorda veementemente com o americano que são os EUA, e não o bloco liderado pela Alemanha, que agem para fazer valer os interesses da Ucrânia em se ligar ao Ocidente.

A confusão parece deixar um recado para outsiders que resolvem se envolver em política mundo afora: o jogo é duro, e pode vir ser fatal ao menor escorregão, em especial durante o processo de decolagem da carreira.

 
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