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Cidade bombardeada pela Turquia é ponta das tensões entre árabes e curdos na região

Turquia se aproveita de instabilidade para tentar neutralizar curdos sírios

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São Paulo

Quando a Folha esteve na cidade síria de Tal Abyad, bombardeada agora pelas forças da Turquia e seus aliados rebeldes sírios, a primeira parada foi um prédio destruído, com vísceras e sangue grudados no teto, cabelo queimado e restos de roupas espalhados.

Era março de 2016. Dois dias antes da passagem da reportagem pelo local, homens bomba tinham se explodido ali, matando vários soldados da milícia curda.

No chão, havia uma carta em árabe, com o timbre do Estado Islâmico: “A partir desta data, qualquer decapitação só poderá ser compartilhada nas redes sociais com autorização expressa do escritório de comunicação do Estado Islâmico”.

Informe do Estado Islâmico em prédio destruído em Tal Abyad, cidade síria que faz fronteira com a Turquia
Informe do Estado Islâmico em prédio destruído em Tal Abyad, cidade síria que faz fronteira com a Turquia - Fabio Braga - 22mar.16/Folhapress

As milícias curdas liberaram Tal Abyad do domínio do Estado Islâmico em 2015. Nos anos anteriores à vitória, na esteira de contra-ataques às ofensivas do grupo terrorista, os curdos acabaram assumindo o controle de muitas cidades de maioria árabe.

As conquistas curdas eram acompanhadas de retaliações a quem supostamente ajudou o EI. Após expulsarem a facção, no entanto, células silenciosas infiltradas persistiram, muitas delas com a complacência de parte da população árabe.

Tal Abyad é uma demonstração das tensões entre árabes e curdos na região. O governo turco se aproveita dessa instabilidade para tentar neutralizar os curdos sírios, considerados terroristas por Ancara devido aos laços com o grupo separatista PKK (Partido dos Trabalhadores Curdos).

Por isso, o secretário de Comunicações do governo turco, Fahrettin Altun, afirmou, em artigo no jornal americano Washington Post, nesta quarta-feira (9), que a "Turquia não tem nenhuma ambição no nordeste da Síria a não ser neutralizar a ameaça contra cidadãos turcos e liberar a população local do jugo de criminosos armados”.

Dentro da faixa de segurança proposta pela Turquia estão também cidades de maioria curda, como Kobani —palco de um sangrento cerco do EI—, Amuda e Qamishli, capital da região curda.

 

As forças turcas entrarão nessas áreas junto com soldados do Exército Livre da Síria —rebatizado Exército Nacional—, formado por rebeldes sírios árabes inimigos dos curdos.

Essas forças invadiram Afrin no início do ano passado, saquearam e expulsaram moradores curdos. Foram mais de 300 mil desabrigados.
 
Muitos civis curdos estão formando uma barreira humana na fronteira, sentados ou abrigados em barracas, na tentativa de brecar os avanços das forças turcas.

Alguns, no entanto, já desistiram. O jornalista curdo Barzan Iso está em Amuda, cidade na fronteira com a Turquia, próxima a Qamishli, que está sendo atacada. Sua família está em Kobani, também próxima à fronteira.

“Estamos acompanhando a situação, ainda não decidimos se vamos fugir. Mas não vamos participar das barreiras humanas. Não adianta nada. Eles não ligam para civis”, disse Iso à Folha

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