Deputado da oposição é novo presidente do Parlamento britânico

Trabalhista Lindsay Hoyle conduzirá debates sobre o brexit e é obrigado a se desfiliar do partido

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Londres | Reuters

Um parlamentar da oposição será o responsável por presidir a Câmara dos Comuns no Parlamento britânico. A ele caberá mediar os acalorados debates sobre o brexit e substituir o carismático líder John Bercow e seus gritos de "ordem!" que tornaram o Legislativo do Reino Unido mais conhecido nos últimos anos.

O trabalhista Lindsay Hoyle, que era vice-presidente da Casa desde 2010, foi eleito nesta segunda (4) após quatro rodadas de votação secreta como o 158º ocupante de um dos postos mais importantes da política britânica.

Hoyle, 62, foi o único candidato ao posto que se recusou a dizer como votou no referendo sobre a saída do Reino Unido da União Europeia em 2016.

Still de vídeo mostra o novo presidente da Câmara dos Comuns, Lindsay Hoyle, sentado na cadeira verde associada ao cargo
Still de vídeo mostra o novo presidente da Câmara dos Comuns, Lindsay Hoyle, sentado na cadeira verde associada ao cargo - PRU/AFP

"Serei neutro. Serei transparente", disse ele após o resultado, acrescentando: "Esta Casa vai mudar, mas vai mudar para melhor". Em seu discurso, o ex-empresário também lembrou da filha Natalie, que se suicidou em 2017, dizendo que ela sempre será lembrada.

Hoyle era o favorito e derrotou outros seis candidatos, vencendo Chris Bryant por 325 votos contra 213 na votação final. Outras favoritas eram a conservadora Eleanor Laing e a trabalhista Rosie Winterton.

Ele assume o cargo na terça-feira (5) por um único dia —antes que o Parlamento se dissolva para as eleições gerais em 12 de dezembro— e reassume logo após o pleito convocado para tentar resolver o impasse do brexit.

Conhecido como "speaker", o presidente da Câmara dos Comuns dirige os debates da Casa, determinando quais parlamentares podem falar e mantendo a ordem durante os debates.

Ao assumir, o orador abre mão da filiação a seu partido, tornando-se neutro enquanto exerce a função; em tese, ele está acima da política, representando somente as regras e convenções do Parlamento. Por isso, não pode votar.

Bercow, que se aposentou no último dia 31 depois de mais de uma década no cargo, foi um personagem polêmico: acusado de quebrar as convenções e favorecer parlamentares pró-União Europeia, atrapalhando os planos do governo para a saída do bloco, também era festejado por outros que o viam habilitando o Parlamento a desafiar e examinar o Executivo.

Pelas contas da BBC, Bercow pediu “ordem” quase 14 mil vezes na Câmara dos Comuns.

Hoje, nos parques de Londres, as crianças pequenas gritam “orrderr!” a seus coleguinhas que talvez tenham tomado um suco de frutas a mais e estejam monopolizando as balanças.

Na despedida de Bercow, a deputada trabalhista Valerie Vaz elogiou a elasticidade e resistência da bexiga do presidente, capaz de suportar horas seguidas de debate.

Vaz disse ainda que hoje o grito de “‘order, order’ é usado por pais e mães em todo o país como o novo ‘cantinho da disciplina’”, substituindo a técnica disciplinar popularizada pelo programa de TV “Super Nanny”.

A oratória bombástica de Bercow, suas reprimendas perfeitamente articuladas, sua falsa presunção, seu discurso pomposo, ensaiado, frequentemente hilário, tudo isso vai ficar no passado.

Também ficarão no passado suas admoestações a deputados tagarelando fora de hora, mandando-os pararem de “rezingar desde uma posição sedentária”.

Não ouviremos mais Bercow aconselhando o mui honorável cavalheiro de tal ou tal lugar a “tomar um medicamento tranquilizante” e se acalmar.

Bercow se diferenciou da tradição secular dos presidentes do Parlamento, não apenas por seu estilo oratório ou suas gravatas chamativas –comparadas por um crítico irônico em um pub de Westminster a um molho de macarrão estragado—, mas por sua insistência em defender o “homem pequeno”, ou seja, os deputados das últimas fileiras da Câmara dos Comuns, que sob sua liderança tiveram a oportunidade de se manifestar.

Na despedida a Bercow na semana passada, Boris Johnson disse que o presidente do Parlamento “fez mais do qualquer pessoa desde Stephen Hawking para estender o tempo nesta sessão particular do Parlamento” —um elogio torto ao modo como Bercow transformou o ritmo dos debates na Câmara dos Comuns.

Muitos conservadores detestam Bercow, acreditando que depois de se tornar presidente do Parlamento ele se voltou contra seu próprio partido e manipulou a discussão do brexit para beneficiar os deputados favoráveis à permanência britânica na UE.

Ele foi questionado no Parlamento certa vez sobre o fato de dirigir um carro ostentando adesivo contra o brexit.

“O adesivo sobre o brexit está fixado ao ou sobre o para-brisa do carro de minha esposa”, ele respondeu.

“E tenho certeza de que o honorável cavalheiro não sugeriria por um instante sequer que uma esposa constitui de alguma maneira um bem ou propriedade privada de seu marido.”​

O que fazopresidente do Parlamento?

  • Ele dirige os debates da Casa, determinando quais parlamentares podem falar e mantendo a ordem durante os debates
  • Ao assumir, o presidente abre mão da filiação a seu partido, tornando-se neutro enquanto exerce a função; em tese, ele está acima da política, representando somente as regras e convenções do Parlamento
  • A tradição reza que o escolhido deve demonstrar alguma relutância em aceitar esse papel
  • Embora seja um membro ativo do Parlamento e ocupe um dos mais altos cargos da política britânica, o presidente do Parlamento não participa ativamente de debates e não pode votar
  • É ele que representa a Câmara dos Comuns perante a Câmara dos Lordes e a Rainha

Com informações de The Washington Post e tradução de Clara Allain

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.