Descrição de chapéu The New York Times

Com impeachment e economia em expansão, o que americanos vão priorizar?

Trump lidera crescimento econômico recorde enquanto se defende de acusações

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Annie Karni Jeanna Smialek
The New York Times

O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, foi recebido na sexta-feira (6) de manhã com a notícia de um excelente relatório sobre emprego, mostrando que os empregadores contrataram 266 mil trabalhadores em novembro e o índice de desemprego caiu para 3,5%, o nível mais baixo desde 1969.

A condição econômica do país, que historicamente se alinha às chances de reeleição de um presidente, deve ajudar Trump a ir para o segundo mandato.

Mas o que deveria ser um dos principais indicadores do desempenho dele como presidente veio um dia depois que a presidente da Câmara dos Deputados, Nancy Pelosi, pediu que a Casa comece a redigir artigos de impeachment contra o presidente.

Não demorou muito para Trump ligar as duas coisas. "Sem o show de horrores que é a esquerda radical, os democratas que não fazem nada, as Bolsas e a economia estariam ainda melhores, se isso for possível", escreveu ele no Twitter.

"E a fronteira estaria fechada ao mal das drogas, das quadrilhas e todos os outros problemas! #2020."

Essa é a Presidência de Trump: um líder que lidera uma expansão econômica recorde que se mostrou mais duradoura do que qualquer um previa, enquanto defende sua aptidão para ocupar o cargo.

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Trump fala em evento na Flórida neste sábado (7) - Loren Elliott/Reuters

Faltando 11 meses para as eleições de 2020, o eleitorado polarizado está se dividindo conforme a história que considera mais pertinente —o potencial abuso de poder do presidente ou o conforto de um salário constante creditado à liderança dele.

A campanha de Trump está apostando que suas negativas sobre ter pressionado o presidente ucraniano a investigar seus inimigos políticos acabarão influenciando um número de eleitores suficiente para afastar toda a questão do impeachment.

"Trump fazer um telefonema perfeitamente aceitável ao presidente da Ucrânia não afeta a vida cotidiana de ninguém", disse Brad Parscale, gerente de campanha do presidente. "Um bom emprego com um salário maior afeta."

Mas o governo Trump também está testando a sabedoria convencional de que uma boa economia é tudo que os eleitores precisam para manter a situação atual, em vez de buscar mudanças.

"Se não fosse pelos outros fatores da presidência Trump, ela deveria ser de longe a mais popular da história, com base na economia", disse Tony Fratto, fundador da Hamilton Place Strategies, empresa de assuntos públicos e ex-porta-voz do Departamento do Tesouro sob o presidente George W. Bush.

Em vez de desfrutar de algo próximo da popularidade esmagadora por causa da economia, o índice de aprovação nacional de Trump permaneceu baixo, caindo cerca de dois pontos percentuais, para 41%, desde que a história da Ucrânia estourou.

Um problema com a mensagem da campanha de Trump é que a expansão econômica começou antes que o presidente assumisse o cargo, fazendo que muitos eleitores a considerassem fato consumado.

"Neste momento, os eleitores podem pensar que é simplesmente a economia normal", disse Fratto. "Isso lhes dá o luxo de enfocar outras coisas, como o comportamento do presidente."

Outro fator também está em jogo: embora Trump fale habitualmente sobre a economia, ele é muito mais apaixonado quando critica os democratas pelo inquérito de impeachment, ou simplesmente discute as notícias do dia, do que quando discute o mercado de ações e o índice de desemprego.

Seus comentários inusitados costumam ofuscar suas frequentes citações de conquistas.

Na sexta-feira, Trump observou em tom monótono que o índice de desemprego está "no nível mais baixo, como eu lhes disse, em muitos anos e de muitas maneiras, que acho que provavelmente logo diremos historicamente".

Ele só pareceu ganhar vida quando falou sobre a reversão dos padrões de energia em lâmpadas.

"A nova lâmpada é muitas vezes mais cara, e, odeio dizer isso, não faz a gente parecer muito bem. Claro, porque ser uma pessoa vaidosa é muito importante para mim", disse ele, observando que a luz "lhe dá uma cor alaranjada".

A propensão de Trump para desviar a conversa da economia é frustrante para muitos republicanos e líderes empresariais, já que os Estados Unidos estão comandando uma expansão recorde de 11 anos.

Os empregadores contrataram 2,2 milhões de pessoas nos últimos 12 meses, um desempenho surpreendentemente robusto no momento em que o desemprego é o mais baixo em meio século.

Esses ganhos geralmente ocorrem apesar das políticas de Trump, não por causa delas. E continua sendo uma questão em aberto por quanto tempo o ritmo de crescimento poderá continuar.

A guerra comercial global do presidente colocou as empresas em risco e desacelerou o investimento. A manufatura caiu em contração total, à medida que o fraco crescimento global e as tensões geopolíticas pesam nas exportações.

Os assessores econômicos de Trump estão cientes da necessidade de manter a economia animada enquanto o presidente ruma para um ano de reeleição.

"Os EUA estão trabalhando, e não apenas os EUA estão trabalhando, os EUA estão sendo pagos após descontar os impostos", disse Larry Kudlow, um dos principais consultores econômicos, na sexta.

"Não vejo o fim disso no momento. O que vejo é mais força."

O salário médio por hora aumentou 3,1% no ano até novembro, um ritmo moderado, mas sustentável. Os salários maiores deram aos consumidores mais ânimo para gastar em tudo, de refeições em restaurantes a compras de fim de ano, ajudando a impulsionar a economia.

Um histórico econômico tão forte deve ajudar a isolar Trump dos ataques dos democratas, alegando que eles podem fazer um trabalho melhor na gestão econômica.

Até agora, seus rivais apresentaram planos que, segundo eles, distribuiriam a riqueza de maneira mais equitativa, aumentando os impostos sobre as empresas e os ricos para financiar cuidados de saúde universais e universidade gratuita.

Mesmo sem o drama do impeachment, não está claro que a economia continuará cumprindo as mensagens da campanha de Trump.

O presidente disse nesta semana que as negociações comerciais com a China podem durar além das eleições de 2020, abalando as Bolsas de Valores de todo o mundo.

Tarifas adicionais sobre produtos chineses deverão entrar em vigor em 15 de dezembro, e não está claro se elas serão adiadas.

O crescimento global permanece frágil, e embora muitos economistas esperem que ele acelere em 2020, essa previsão pode ser revertida por uma escalada na guerra comercial.

"Estamos realmente em terra incógnita aqui, eu acho, em termos do que é possível no próximo ano, tendo em vista todos os fatores geopolíticos em jogo", disse Ernie Tedeschi, economista político da Evercore ISI.

Tradução de Luiz Roberto Mendes Gonçalves

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