Fernández toma posse e diz que crescimento econômico é mais importante do que pagar dívida

Novo presidente argentino defendeu conciliação política e prometeu anunciar medidas para os mais pobres

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Buenos Aires

Em seu discurso de posse como presidente da Argentina, realizado no Congresso nesta terça-feira (10), Alberto Fernández defendeu a conciliação política no país e prometeu colocar o bem-estar dos argentinos à frente do pagamento da dívida externa do país. 

Sobre a dívida com o FMI (Fundo Monetário Internacional), ele disse que a ideia é pagar, "mas antes temos que crescer", e a que negociação com o fundo estava já sendo feita neste sentido. "Não podemos apresentar uma solução que comprometa o futuro de milhões de argentinos."

Alberto Fernández, ao tomar posse como presidente da Argentina, ao lado da vice, Cristina Kirchner, também empossada - Martin Zabala/Xinhua

"Estamos numa emergência social em que é preciso começar pelos últimos", afirmou. Ele disse que há "muros" por superar, os "muros da pobreza, da desigualdade, das disparidades do país. Esses são os muros que existem, não os muros ideológicos. Temos que deixar de apostar na polarização, digo isso para os que votaram em mim e para os que não me votaram".

Disse ainda que é necessário um pacto para superar "esse presente penoso, acabar com as dívidas de nossos compatriotas e a do país." 

Fernández culpou a política econômica do governo de Mauricio Macri e afirmou que "o Estado estará presente, oferecendo linhas de créditos e de bônus, além de recursos para investimentos". 

Acrescentou que, nos próximos dias, haverá o anúncio de medidas para atender os mais pobres e que chamará um compromisso de empresas e produtores para que os preços não aumentem. 

O discurso teve fortes tons nacionalistas. "Nossas respostas para essa crise têm de ser criadas por nós mesmos e não vamos seguir receitas de fora." Neste momento, foi amplamente aplaudido.

"Com o Brasil, temos que construir uma agenda ambiciosa, inovadora e criativa, que esteja respaldada pela nossa relação histórica e que vá além de qualquer diferença pessoal ou ideológica dos que governam na conjuntura."

Ele voltou a mencionar uma possível reforma judiciária, e a criticar os que usam da política para influenciar na Justiça. 

A posse

Do lado de fora do Congresso, em Buenos Aires, onde ocorreu o juramento de Fernández, e da Casa Rosada, onde depois tomam posse os ministros, havia grande público e muitos membros  de organizações sociais kirchneristas, como o Movimento Evita, a Juventude Peronista, Unidos y Organizados, e outros. 

Antes de sair de sua casa, em Puerto Madero, Alberto Fernández divulgou uma foto sua ao lado de seu cachorro, Dylan, tomando um suco e ajeitando a gravata.

O novo presidente saiu de casa dirigindo seu carro, ao lado da namorada, Fabíola Yañez. O trajeto foi transmitido em suas redes sociais. O trânsito no centro esteve totalmente bloqueado. Por volta do meio-dia, fazia um calor de 38ºC.

Ao entrar no Congresso, ele foi recebido pela vice de Macri, Gabriela Michetti, que é cadeirante. Ele a levou, empurrando sua cadeira de rodas, até o palco. A nova vice-presidente, Cristina Kirchner, os acompanhou. Michetti tomou o juramento de ambos.

No Congresso, estavam parlamentares, ex-presidentes, ministros, delegações estrangeiras e familiares dos eleitos. O filho de Fernández, Estanislao, de terno e gravata, dava entrevistas e era muito cumprimentado.

Depois que terminaram de jurar, ouviu-se a marcha peronista, cantada aos gritos pelos presentes. Os eleitos e os ministros recém-designados acompanharam o coro.

O agora ex-presidente Mauricio Macri apareceu depois do juramento, como manda o protocolo. Os peronistas continuaram cantando a marcha. Macri esperou silenciosamente. Seus apoiadores o aplaudiam, mas foram suplantados pelo canto peronista.

Fernández levantou a mão e pediu que as pessoas se calassem. Logo, Macri entregou o bastão e a faixa presidencial a seu sucessor e deu-lhe um abraço. Os dois se cumprimentaram de modo efusivo e trocaram algumas palavras —ambos pareciam emocionados.

Já quando Macri esticou a mão para cumprimentar Cristina, ela não o olhou nos olhos e fez cara feia para frente, apenas aceitando o cumprimento com a mão. Depois disso, Macri cumprimentou Sergio Massa.

​Logo depois disso, Macri deixou o recinto.

O ex-presidente Mauricio Marcri cumprimenta a nova vice, Cristina Kirchner, após a posse
O ex-presidente Mauricio Marcri cumprimenta a nova vice, Cristina Kirchner, após a posse - Agustin Marcarian/Reuters

Em seu discurso, Fernández voltou a dizer que a Segurança será voltada à prevenção e não à repressão. Fez uma referência clara à posição do governo anterior, para quem "estava bem atirar pelas costas. Nós não faremos isso". Durante a gestão Macri, policiais que matavam suspeitos de assalto tinham uma pena abrandada.

 
Referiu-se à verba publicitária, da qual dependem vários meios, dizendo que haverá uma redistribuição e uma nova estrutura para a entrega dos recursos. Durante o kirchnerismo, a distribuição da verba publicitária para os meios era usada como uma maneira de controlá-los.

Fernández disse que "as contas serão claras" e que jornalistas que não trabalham em um veículo de comunicação não receberão recursos, algo que ocorreu durante as gestões de Macri e de Cristina Kirchner, com relação a apresentadores e jornalistas pró-governo.

Sobre as mulheres, ele repetiu "Nem uma a menos", o lema do coletivo feminista mais engajado do país, e disse que lutaria pelo fim da violência contra a mulher. E acrescentou que a discriminação pelo modo de ser, vestir-se ou atuar deve ser "imperdoável".

Ao final, com lágrimas nos olhos, agradeceu a Néstor Kirchner, que "me ensinou a tirar a Argentina da prostração". Agradeceu, também, à militância. Fernández disse ainda que quer que seu governo seja conhecido por trazer de volta "à mesa familiar a boa convivência de quem pensa diferente e de ter resolvido o problema da fome de muitas famílias".

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