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Quem escolheu vinhos e espumantes da cúpula do Mercosul sabia o que estava fazendo

É um alívio constatar que o Brasil começa a usar seus próprios produtos em eventos diplomáticos

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Luiz Horta
São Paulo

Ao ler a lista de vinhos servidos aos presidentes do Mercosul e convidados, na reunião que acontece no Vale dos Vinhedos, é um alívio constatar que, finalmente, o Brasil começa a usar seus próprios vinhos em eventos desta natureza.

Em diversas comemorações do Sete de Setembro mundo afora, embaixadas só ofereciam vinhos franceses, perdendo uma oportunidade de fazer propaganda de uma indústria que vem crescendo —em tamanho e qualidade.

O Mercosul tem competidores pesados. Argentina e Uruguai são grandes produtores de bons vinhos, e o Chile, convidado da reunião, também.

Trabalhadores em vinhedo do Hotel & Spa do Vinho, onde ocorre a cúpula do Mercosul, em Bento Gonçalves (RS)
Trabalhadores em vinhedo do Hotel & Spa do Vinho, onde ocorre a cúpula do Mercosul, em Bento Gonçalves (RS) - Ueslei Marcelino - 4.dez.19/Reuters

Os menus de vinhos para os dois eventos —o almoço dos presidentes e o jantar dos ministros e chanceleres— foram muito bem escolhidos.

Para o almoço, só vinhos da Miolo, com o ótimo espumante Millésime, que, como o nome indica, é safrado, ou seja, estampa no rótulo o ano de sua safra. É feito pelo método tradicional, usando só pinot noir e chardonnay.

Em seguida vem o Single Vineyard, de um dos poucos vinhedos de riesling verdadeiro existente no país. Esse vinho tem toda a tipicidade da uva e surpreende muito. O que se chama riesling itálico por aqui é outra uva. 

A estrela do almoço pode ser o Lote 43, um blend excelente de merlot e cabernet sauvignon. A safra não foi divulgada, mas a disponível, 2012, já deve oferecer uma evolução gostosa, com seus sete anos de garrafa.

Se for mais antigo, ainda melhor. É um vinho que evolui bastante, o chamado “vinho de guarda”, que precisa de tempo para chegar ao seu auge.

Terminam os senhores presidentes com o bico doce, o Late Harvest. Bastante equilibrado, irá bem com as sobremesas, e iria ainda melhor com uma boa seleção de queijos brasileiros, mas a gastrodiplomacia nacional ainda engatinha.

Em março de 2015, o então chanceler francês Laurent Fabius, em Versalhes, por exemplo, lançou uma blitz para reconquistar o espaço que a boa mesa exercia na política exterior francesa, citando Talleyrand, criador desta forma de sedução pelas papilas gustativas.

Com oito rótulos, o jantar dos ministros e chanceleres oferece praticamente uma degustação de espumantes brasileiros. Quem escolheu sabia o que estava fazendo. 

Estão lá o Aurora Pinto Bandeira Extra Brut, Cave de Pedra, Don Laurindo, Chandon... Faltou a Cave Geisse e o Adolfo Lona —que ainda teriam a graça diplomática de Mario Geisse ser chileno, e Adolfo Lona, argentino.

Mas é um bom começo. Espera-se apenas que depois disso não venham aquelas nefastas pressões dos produtores por medidas protecionistas, as salvaguardas de triste memória, uma catástrofe para a lenta construção da imagem do vinho brasileiro. 

Foi em 2012, mas ainda machuca. Toda a simpatia que os produtos nacionais tinham conseguido voltaram quase à casa 1 do jogo, e os fantasmas do preconceito contra o produto local renasceram naquele ano. 

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