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Em Portugal, profissionais liberais e classe média recorrem a bancos alimentares

País sofre com paralisação econômica provocada pela pandemia do novo coronavírus

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Lisboa

Arquitetos, dentistas, músicos. A paralisação econômica provocada pela pandemia do novo coronavírus empurrou para centros de distribuição de alimentos muitos profissionais liberais e famílias de classe média, de acordo com essas entidades.

Em Lisboa e no Porto, nas filas para receber refeições e cestas básicas, já não é incomum encontrar pessoas com formação superior e até então integradas à força de trabalho.

"Os perfis das pessoas que procuram a Cáritas são aqueles que, a nós, parecem mais estranho que tenham sido atingidos numa crise como esta. Estamos falando de classe média e média alta", afirmou, nesta sexta (8), o presidente da Cáritas Portuguesa, Eugénio da Fonseca, em entrevista à TSF.

Funcionários de uma cantina preparam refeições que vão ser distribuídas para pessoas necessitadas em Lisboa
Funcionários de uma cantina preparam refeições que vão ser distribuídas para pessoas necessitadas em Lisboa - Patricia de Melo Moreira - 14.abr.20/AFP

Em um mês, segundo a Cáritas, que presta assistência em todo o país, a procura por distribuição de alimentos aumentou 40%.

A presidente do Banco Alimentar Contra a Fome, outra tradicional rede de assistência no país, Isabel Jonet, disse que nunca viu uma situação tão ruim.

"São pessoas de profissões muito, muito diversas. Desde os motoristas de táxi ou de Uber, pessoas que trabalham em academias, fisioterapeutas, dentistas, trabalhadores de circos ambulantes, feirantes, cabeleireiras, manicures, pessoas das profissões ligadas ao turismo", afirmou ela, à rádio Renascença.

"E aquilo que temos hoje é um grande número de pessoas que, de repente, não têm qualquer rendimento ou remuneração."

Além de ONGs e organizações religiosas, as câmaras municipais (equivalentes às prefeituras) estão se organizando para prestar auxílio alimentar.

Em Lisboa, algumas escolas foram convertidas em centros de distribuição de alimentos, que entregam refeições diárias a quem realizar cadastros prévios nas juntas de freguesia (divisão municipal que tem certos poderes administrativos).

A procura praticamente triplicou desde o começo da pandemia.

Pressionado, o governo de Portugal também diz que vai ampliar a distribuição de alimentos à população afetada.

A ministra do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social, Ana Mendes Godinho, diz que o governo deve duplicar a quantidade de atendidos nesses programas.

"O programa alimentar abrangia 60 mil pessoas. Neste mês já passou para 69 mil e no próximo mês vai atingir 90 mil pessoas, e logo depois 120 mil", afirmou Godinho, questionada sobre o aumento vertiginoso na procura.

Especialistas apontam a precariedade laboral portuguesa —a terceira maior da Europa, atrás apenas da Espanha e da Polônia— como uma das principais razões para isso.

Apenas um em cada cinco trabalhadores portugueses está integrado de forma definitiva aos quadros das empresas, o que os deixa mais vulneráveis à demissão com poucos benefícios.

Sem contratos formais de trabalho, com vínculos trabalhistas frágeis ou intermitentes, muitos trabalhadores acabam não beneficiados pelos pacotes de auxílio liberados pelo governo.

Diante das críticas ao “exército de vulneráveis” excluídos dos auxílios, o primeiro-ministro, António Costa, anunciou nesta sexta-feira um pacote adicional, que inclui também as pessoas que vinham trabalhando informalmente, sem contribuir para o regime de Segurança Social.

Essas pessoas poderão recorrer a um auxílio mensal de 219,4 euros (R$ 1.380), o equivalente a 34,5% do salário mínimo nacional, atualmente em 635 euros (R$ 3.993).

Na fila para recolher refeições em uma escola do centro de Lisboa, uma dentista de 34 anos chora ao falar da situação. Ela relata que se viu, de uma hora para outra, sem qualquer tipo de renda, quando os consultórios que não prestam serviços de urgência foram obrigados a fechar.

Trabalhando emitindo notas fiscais mensais por prestação de serviço a uma grande clínica, ela diz que o apoio disponibilizado pelo governo é insuficiente até para custear as necessidades mais básicas. ​

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