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Portugueses correm ao cabeleireiro no 1º dia de reabertura econômica

País substitui o estado de emergência pelo de calamidade pública, mais brando

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Lisboa

Após um mês e meio com boa parte do setor de comércio e serviços de portas fechadas, Portugal começou, nesta segunda-feira (4), um processo gradual de reabertura econômica. E o primeiro destino pós-confinamento para muitos portugueses foi o mesmo: o cabeleireiro.

Proprietário da centenária Barbearia Oliveira, no centro de Lisboa, e de outros três salões na capital portuguesa, o empresário Bruno Oliveira diz que não há mais vagas disponíveis em seus estabelecimentos até o fim da semana.

“Só hoje de manhã já foram mais de cem ligações [de clientes]”, contou Oliveira, enquanto recusava uma chamada para conseguir conversar com a reportagem.

Barbeiro com máscara e proteção atende cliente em Lisboa
Barbeiro com máscara e proteção atende cliente em Lisboa - Patricia de Melo Moreira/AFP

A situação nos salões tem sido parecida em todo o país, com um grande fluxo de clientes ávidos por cortes, retoques de coloração e outros serviços.

Os cabeleireiros —assim como a maior parte do setor de comércio e serviços— foram obrigados a encerrar suas atividades em 18 de março, quando Portugal decretou estado de emergência devido à pandemia do novo coronavírus.

Com os casos de infecção pela Covid-19 sob controle, mesmo com a grande quantidade de mortes na vizinha Espanha, Portugal optou por reduzir um nível na escala de atenção. O estado de emergência acabou oficialmente no sábado (2), sendo substituído pelo de calamidade pública, tecnicamente mais brando.

Com isso, o governo divulgou um plano gradual de reabertura econômica, inicialmente dividido em três fases, cujos avanços podem ser interrompidos em caso de uma eventual piora na situação epidemiológica no país.

Na primeira etapa, a partir desta segunda (4), o "home office" segue como orientação geral para as empresas, mas alguns setores já foram autorizados a reabrir, embora com restrições de horário e normas mais rígidas de lotação e higiene.

De agora em diante, o uso de máscaras passa a ser obrigatório para andar em transportes públicos e entrar em estabelecimentos comerciais.

No primeiro dia com as regras em vigor, na estação do metrô do Cais do Sodré, no centro de Lisboa, seguranças e policiais se esforçavam para explicar as regras e barrar quem não estava usando a proteção.

Na porta dos supermercados, a situação se repetia.

“Mas onde é que eu vou comprar uma máscara? O governo vai pagar? Na farmácia, custa um balúrdio [muito caro] e a minha aposentadoria não dá para isso”, queixava-se Maria Celeste Rodrigues, 74, ao ser impedida de fazer compras por não ter o equipamento de segurança.

A percepção da aposentada parece estar de acordo com a realidade. Pesquisas de preço indicam que o valor cobrado ao consumidor para itens como máscaras, géis de limpeza, luvas e desinfetantes chegou, em alguns casos, a aumentar 300% com a pandemia.

Para comerciantes e empresas, que passam agora a ter de usar uma série de equipamentos de segurança e higiene adicionais, essas despesas representam um desafio no cenário de crise econômica.

“Nós tivemos de reduzir à metade da capacidade a ocupação da barbearia. Temos seis cadeiras, mas só podemos atender a três clientes de cada vez. Além disso, a capa [de proteção para o cabelo não cair na roupa] é descartável. Os profissionais usam máscara e viseira. Temos álcool e desinfetante para os clientes e os funcionários. Ou seja: são mais custos e menos ganhos”, conta o empresário Bruno Oliveira.

Livrarias, concessionárias e lojas de rua de até 200 metros quadrados também puderam reabrir, mas com lotação máxima restringida e distanciamento mínimo obrigatório de 2 metros entre os clientes e obrigação de ter medidas de desinfecção e higiene reforçadas.

Vários serviços públicos e cartórios também retornaram, mas com atendimento apenas com agendamento prévio.

Normalmente apinhadas de turistas, tradicionais vias comerciais do centro histórico de Lisboa, como a rua Augusta e a rua da Prata, tinham suas lojas praticamente vazias.

Apesar de abertas, lojas de roupa, calçados e maquiagem apresentavam movimento tímido.

Vendedores se queixavam que, com as fronteiras fechadas para turistas e com os portugueses com medo de gastar dinheiro, a simples reabertura do comércio não adiantava muita coisa.

De acordo com os planos divulgados com o governo, há mais duas fases previstas de reabertura.

Em 18 de maio, lojas de rua até 400 metros quadrados serão autorizadas a reabrir. Restaurantes, pastelarias e cafés, que atualmente só podem funcionar para entrega em domicílio ou retirada, poderão reabrir, mas com apenas 50% da capacidade e até as 23h.

Em 1º de junho, lojas com mais de 400 metros quadrados e shoppings serão liberados. Cinemas e teatros também vão reabrir, mas com lotação reduzida, lugares marcados e obrigação de distanciamento.

O campeonato português de futebol será retomado a partir de 30 de maio, mas os jogos até o fim da competição acontecerão sem a presença de público nos estádios.

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