'Só pensei em tirá-lo dali', diz ativista negro que salvou branco de ser espancado

Foto em que personal trainer carrega suposto hooligan em Londres viralizou

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Bruxelas

“Não pensei em nada. Tinha um ser humano no chão, e vi que aquilo não ia acabar bem. Agachei e o carreguei nos ombros como fazem os bombeiros, para tirá-lo dali em segurança”, disse o personal trainer Patrick Hutchinson sobre o momento em que impediu que um homem fosse espancado em Londres.

Imagens do homem negro carregando um branco para salvar sua vida viralizaram e correram o mundo.

O personal trainer, que também é especialista em artes marciais e trabalha com atletas de elite em Wimbledon (sudoeste de Londres), disse que decidiu ir aos protestos de sábado (13) com quatro amigos para tentar manter os manifestantes negros em segurança.

O ativista Patrick Hutchinson carrega um homem branco ferido próximo à estação Waterloo durante protesto em Londres
O ativista Patrick Hutchinson carrega um homem branco ferido próximo à estação Waterloo durante protesto em Londres - Dylan Martinez - 13.jun.20/Reuters

Conflitos eram esperados porque grupos de extrema direita haviam marcado um contraprotesto no mesmo dia, em defesa da estátua do primeiro-ministro Winston Churchill, na praça do Parlamento.

Com Hutchinson estavam o professor de artes marciais e diretor da empresa de segurança Ark Protection Pierre Noah, 47, o personal trainer e lutador de MMA Jamaine Facey, 35, o empresário e lutador de jiu-jítsu Chris Otokito, 37, e o consultor de segurança e especialista em artes marciais Lee Russell —as idades de Russell e Hutchinson não foram reveladas.

Após protestarem, os grupos de brancos entraram em choque com a polícia e, depois, com manifestantes negros perto da estação de Waterloo, onde Hutchinson e seus amigos estavam.

Chamado de herói, o personal trainer diz que não teria feito nada sem seus amigos. Segundo ele, foram Facey e Noah que viram o confronto entre hooligans e manifestantes negros.

“Os hooligans se dispersaram e deixaram um para trás.” Quando o homem branco foi cercado e caiu, segundo Hutchinson, seus amigos formaram um cordão em volta dele.

“Cheguei depois e só pensei em tirá-lo dali. Meus amigos formaram um escudo ao redor de mim, garantindo minha passagem”, afirmou ele em entrevistas a canais britânicos de TV.

O personal trainer diz que sentiu golpes durante o trajeto, o que indica que seus amigos foram ainda mais atingidos. “Sem eles, eu provavelmente teria sido pisoteado pela multidão também.”

Em sua página no Instagram, publicou uma foto que mostra a proteção dos amigos enquanto carrega o homem ferido e escreveu: “Salvamos uma vida hoje. Não é preto x branco, são todos contra os racistas”.

O personal trainer afirmou que outros manifestantes também os protegeram e agradeceram por ter evitado o pior.

Segundo a imprensa britânica, o homem branco não pronunciou uma palavra, e o grupo de amigos não falou com ele nem o viu depois.

"Poderíamos facilmente ter ficado lá assistindo a aqueles garotos ajoelharem na cabeça do homem branco, mas optamos por ajudar", disse Noah, em referência à morte do americano negro George Floyd por um policial branco, que deflagrou uma onda de protestos antirracistas em vários países do mundo.

Hutchinson também traçou o mesmo paralelo em suas entrevistas: “Se os outros três policiais que estavam em volta quando George Floyd foi assassinado tivessem pensado em intervir e interromper o que o colega estava fazendo, como nós fizemos, George Floyd estaria vivo ainda hoje”.

"Quero ver igualdade para todos. Sou pai e avô e adoraria ver meus filhos pequenos, meus netos, minhas sobrinhas, meus sobrinhos terem um mundo melhor do que o que eu vivi", disse ele no domingo (14).

Hutchinson disse que era interesse também do grupo de amigos impedir que o homem fosse ferido, para “proteger o que estava acontecendo no momento, proteger o movimento, proteger tudo”.

Noah afirmou às TVs que não conseguiu dormir pensando no que poderia ter acontecido se eles não tivessem agido. “Estava ficando muito feio, as pessoas estavam com raiva, e você via o que ia acontecer depois: ‘negros mataram um homem branco’. Nós tínhamos que agir.”

Essa era também a motivação de Facey. "Não estava protegendo ele, estava protegendo nossos filhos. Protegendo o futuro deles, porque sei que o juiz não olharia para o que aconteceu antes”, disse à TV.

“Fizemos o que era necessário para proteger nosso povo”, disse Russell.

Os confrontos entre manifestantes brancos e policiais envolveram explosões e granadas de fumaça; 23 policiais ficaram feridos e 113 pessoas foram presas.

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