Guiana anuncia vitória de candidato da oposição 5 meses após eleições

Comissão Eleitoral confirma resultado, apesar de apelos do atual presidente por novo pleito

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Georgetown (Guiana) | AFP

O opositor Irfaan Ali, candidato do Partido Progressista Popular (PPP), foi declarado neste domingo (2) vencedor das eleições gerais e novo presidente da Guiana, cinco meses depois das votações mais polêmicas registradas no país sul-americano rico em petróleo.

Claudette Singh, presidente da Comissão Eleitoral da Guiana, confirmou a vitória de Ali, apesar dos apelos do atual presidente, David Granger, para que se realizasse um novo pleito devido a rumores de fraude, o que elevou a tensão na nação de 800 mil habitantes.

Segundo o sistema eleitoral da Guiana, o PPP obteve 33 dos 65 assentos na Assembleia Nacional, com 233.336 votos, enquanto o bloco formado pela governista Associação para a Unidade Nacional e a Aliança para a Mudança (ANPU-AFC) conseguiu 31 assentos, com 217.920 votos.

O novo presidente da Guiana, Mohamed Irfaan Ali, durante comício em Lusignan
O novo presidente da Guiana, Mohamed Irfaan Ali, durante comício em Lusignan - Luis Acosta - 29.fev.20/AFP

Três pequenos partidos, que pediram, separadamente, a impugnação do pleito, acumularam 5.214 votos, conquistando a última cadeira em disputa.

A confirmação da vitória de Ali, que já ocupou diversos cargos públicos, entre os quais o de ministro de Habitação, Água e Turismo, pode colocar fim a cinco meses de tensões.

Logo após a votação, observadores internacionais disseram que os resultados iniciais no distrito eleitoral mais densamente povoado da Guiana haviam sido inflados a favor de Granger.

Após protestos, uma recontagem foi determinada pela comissão eleitoral em todo o país, e a oposição saiu vitoriosa. Foi a vez de o atual presidente dizer que o processo era fraudulento e usar o argumento para tentar se manter no cargo.

Por isso, no domingo, Granger, 74, ex-comandante da Força de Defesa da Guiana, disse que as denúncias de fraude eleitoral e outras irregularidades serão levadas ao Tribunal Superior.

Em nota, o Ministério das Relações Exteriores do Brasil parabenizou Ali pela vitória e "as forças políticas guianenses pelo respeito à vontade popular expressa nas urnas". "O governo brasileiro exorta todos os atores guianenses a viabilizarem uma transição de governo pacífica e expedita."

A ex-colônia britânica divide com o Brasil 1.600 km de sua fronteira. À Folha o Itamaraty informou, em julho, que vinha acompanhando a situação "com preocupação" e que o processo eleitoral protelado representava "séria ameaça para a estabilidade na Guiana".

O país, de política cronicamente instável desde sua independência, em 1966, viu as enormes jazidas de petróleo descobertas em 2015 virarem um novo componente para o acirramento dos ânimos.

A empobrecida nação pode dar um salto econômico e se tornou alvo de interesses estrangeiros. Em abril, o FMI previu crescimento do PIB para este ano de 52,8%, em razão da extração dos primeiros barris pela empresa americana Exxon Mobil.

Além disso, a política guianense sempre foi tingida pelo componente étnico. Cerca de 40% da população são de origem indiana, cujos antepassados foram trazidos pelos britânicos após o fim da escravidão de africanos, no início do século 19, para trabalhar nas lavouras de cana-de-açúcar.

Eles apoiam majoritariamente o PPP, legenda do presidente eleito. A tensão com os negros, que perfazem 29% da população, atravessou os séculos. Os afro-guianenses apoiam em geral o governo do atual presidente, Granger. Apenas 20% da população é mestiça.

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