Steve Bannon, ex-estrategista de Trump, é solto após pagar fiança de US$ 5 milhões

Arquiteto da vitória de republicano em 2016 foi preso sob acusação de fraude em campanha de doações

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

São Paulo

Steve Bannon, ex-estrategista da Casa Branca, foi solto na noite desta quinta (20), após seus advogados fecharem um acordo para libertá-lo em troca de uma fiança de US$ 5 milhões (R$ 27,7 milhões).

Bannon teve de apresentar inicialmente garantias no valor de US$ 1,75 milhão, que poderiam incluir dinheiro vivo e propriedades.

Ex-estrategista da Casa Branca Steve Bannon deixa a corte federal de Manhattan, em Nova York
Ex-estrategista da Casa Branca Steve Bannon deixa a corte federal de Manhattan, em Nova York - Andrew Kelly/Reuters

O estrategista, 66, foi preso na manhã desta quinta sob acusação de desviar US$ 1 milhão de uma campanha virtual de doação para a construção de um muro na fronteira entre EUA e México.

A Justiça federal de Nova York determinou que ele terá o passaporte retido e não poderá usar aviões ou barcos privados até a conclusão do processo. A circulação do estrategista, que participou da audiência de custódia de modo virtual, deverá ficar restrita a Nova York, Washington e Connecticut.

Segundo a CNN, ao comparecer à audiência, ele estava bronzeado, usava máscara e se declarou inocente.

Um dos principais articuladores da ultradireita do mundo, Bannon é próximo da família Bolsonaro. Ele criou um projeto chamado "O Movimento", para unir líderes populistas do mundo que defendem ideias de direita, e nomeou o deputado federal Eduardo Bolsonaro como seu representante no Brasil.

A campanha que motivou a prisão, batizada de "Nós Construímos o Muro", levantou US$ 25 milhões (R$ 141 milhões na cotação desta quinta-feira). Bannon e outros envolvidos teriam enganado os doadores e usado o dinheiro para custear gastos pessoais, de acordo com o Departamento de Justiça dos EUA.

Além de Bannon, foram indiciados e presos Brian Kolfage, 38, veterano da Força Aérea, Andrew Badolato, 56, que atua no mercado financeiro, e Timothy Shea, 39. Os quatro podem pegar até 20 anos de prisão.

Procuradores federais de Nova York disseram que o dinheiro das doações ajudou os envolvidos a levar uma vida de gastos excessivos, ainda que a campanha tenha sido organizada por meio de uma organização sem fins lucrativos.

Iniciada no fim de 2018, a campanha prometia que todo o dinheiro seria usado para ajudar na construção do muro na fronteira, sem que os organizadores obtivessem lucro com ela. A ação pretendia construir partes do muro em áreas privadas perto da fronteira no Texas e Novo México.

"Os réus se engajaram em fraudes quando desrespeitaram o uso dos fundos doados. Eles não apenas mentiram aos doadores, mas elaboraram esquemas para esconder a apropriação dos fundos ao criar faturas e contas falsas para 'lavar' as doações e encobrir seus crimes", disse Philip R. Bartlett, um dos inspetores do caso, em comunicado.

Promessa-chave da campanha de Trump em 2016, a construção do muro foi contida por processos na Justiça e pela oposição no Congresso. Assim, foram construídos até agora apenas 442 km do bloqueio, segundo o Departamento de Fronteiras. Desses, apenas 48 km são trechos novos, e o resto se refere ao reforço de barreiras existentes.

A divisa EUA-México tem ao todo 3.145 km, e cerca de 1.000 km já contavam com muros ou cercas antes de Trump assumir. Em cerca de metade dela, os dois países são separados pelo rio Grande.

Trump disse a repórteres na Casa Branca que se sente "muito mal" pelas acusações a Bannon, mas procurou se distanciar do estrategista e do suposto esquema de fraude. "Acho que é um fato triste", disse o presidente. "Não lido com ele há anos, literalmente anos."

A trajetória de Bannon

Bannon é um dos principais ativistas de ultradireita dos EUA e impulsionou ideias como o combate à imigração no país. Especialista no uso de redes sociais e estratégias digitais para campanhas políticas, costuma dizer que seu objetivo é lutar contra a classe política tradicional, a globalização e as grandes corporações.

Ele fez carreira no setor bancário e atuou no Goldman Sachs. Em 2012, tornou-se diretor do Breitbart News, site que ajudou a fundar. A página dá espaço para ideias ligadas ao nacionalismo extremo, neonazismo e supremacismo branco.

Bannon também trabalhou na Cambridge Analytica, empresa que coletou dados de milhões de usuários do Facebook, sem consentimento, para depois enviar mensagens políticas ultrasegmentadas.

Funcionários da empresa o acusam de ter participado de testes, a partir de 2014, para enviar mensagens a eleitores para estimular sentimentos como raiva e medo e, assim, influenciar suas posições políticas. Também dizem que a prática foi usada muitas vezes nos anos seguintes a pedido dele. O estrategista nega.

Em 2016, Bannon foi diretor da campanha de Trump, tornando-se um dos principais responsáveis pela vitória, ao aproximar o republicano de bandeiras conservadoras e fomentando o rancor de partes do eleitorado em relação a temas como a imigração, por meio do uso intenso e direcionado de redes sociais.

Após a eleição, assumiu o cargo de estrategista-chefe da Casa Branca. No entanto, foi demitido meses depois, em agosto de 2017, por se desentender com o presidente. Mesmo assim, seguiu dando apoio a Trump e a outros candidatos republicanos nos bastidores.

O episódio que despertou a fúria do líder americano é de 2017, quando o então assessor foi citado em um livro chamando um dos primeiros-filhos de “traidor”.

A declaração, negada por Bannon, teria sido em relação ao encontro de Donald Trump Jr., o primogênito do presidente, com agentes russos para conseguir informações que prejudicassem Hillary Clinton, adversária do republicano na eleição de 2016.

Bannon também buscou expandir o nacionalismo populista em outros países, especialmente na Europa. Aproximou-se de defensores do brexit e de nomes como Marine Le Pen, líder de extrema direita na França, de Matteo Salvini, ex-ministro do Interior na Itália, e Viktor Orbán, premiê da Hungria.

Na América Latina, ficou próximo da família Bolsonaro. Antes da campanha de 2018, encontrou-se com Eduardo Bolsonaro, e os dois passaram a manter contato.

Em entrevista à Folha logo após a eleição de 2018, Bannon elogiou Eduardo e seus assessores, bem como a trajetória e as propostas de Jair Bolsonaro. "Compartilhamos a mesma visão de mundo", disse.

Em março de 2019, a inclusão do nome do estrategista na lista de convidados e anfitriões de honra da comitiva de Jair Bolsonaro a Washington incomodou integrantes do governo Trump. À época, membros da Casa Branca afirmavam não entender a obsessão de aliados do presidente brasileiro por Bannon, que, segundo eles, já não tinha mais influência no governo e é detestado por Trump.

Com Reuters

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.