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Pandemia reduz aluguéis e pode ajudar portugueses a voltar ao centro de Lisboa

Com a queda do turismo, imóveis usados por temporada estão disponíveis no mercado regular

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Lisboa

A pandemia do novo coronavírus tem causado uma diminuição no valor dos aluguéis na região de Lisboa, onde o mercado foi subitamente invadido por imóveis que antes eram alugados por temporada a turistas.

O segundo trimestre de 2020 teve queda de 8,7% em relação ao mesmo período do ano anterior, de acordo com um relatório da consultoria Confidencial Imobiliário. É o declínio mais acentuado desde o último trimestre de 2012, em plena recessão no país.

Vista de Lisboa, com o rio Tejo ao fundo - Folhapress

Também de acordo com levantamento, no mesmo período, 33,2% das casas disponíveis para aluguel na capital portuguesa tiveram modificação no preço pedido. A média de diminuição sobre o valor original foi de 13,1%.

“Haver não só mais proprietários dispostos a rever o valor da renda pedida, como aumentar a magnitude da revisão, é uma consequência natural da estagnação da procura trazida pela pandemia, que já começou a pressionar as rendas contratadas em baixa”, diz Ricardo Guimarães, diretor da Confidencial Imobiliário.

As alterações no mercado de aluguéis começam, lentamente, a provocar o retorno de alguns portugueses e moradores a bairros mais centrais da cidade. Especialistas, no entanto, falam que ainda é cedo para dizer que há uma reversão no movimento de gentrificação e despovoamento da cidade.

O casal Joana Ferreira e Nuno Sousa entrou nessa estatística. Sem dinheiro para morar em Lisboa após o casamento, há dois anos, eles optaram por um apartamento em Almada, do outro lado do rio Tejo.

A crise causada pelo novo coronavírus os ajudou a regressar ao boêmio bairro da Graça.

“Tivemos a sorte de não perder os salários durante a pandemia, o que não aconteceu com muitos portugueses. Acho que isso nos deixou em condições de poder negociar bem o valor do aluguel. Eu já tinha até perdido as esperanças de voltar para Lisboa”, diz Joana, 31.

O casal de publicitários conseguiu um apartamento mobiliado que antes estava no Airbnb, mas que, diante da quebra do mercado de turismo, acabou ocioso.

Uma busca rápida nas principais plataformas de aluguel da cidade mostra dezenas de novos anúncios semelhantes, com casas que antes estavam no mercado de turismo.

Segundo um levantamento da agência de ratings Moody’s, Lisboa é uma das cidades europeias com maior relação de imóveis em aluguel por temporada. Seriam 33 imóveis para cada mil habitantes.

Nos últimos dois anos, a Câmara Municipal da cidade (equivalente à Prefeitura) tem tentado diferentes estratégias para combater o despovoamento. Com a pandemia, a autarquia lançou um programa que pretende “seduzir” proprietários de imóveis, especialmente os que estão em aluguel por temporada para turismo.

Através do programa Renda Segura, a Câmara Municipal quer alugar as casas que estavam em plataformas como o Airbnb e sublocá-las aos lisboetas com preços mais acessíveis.

Para atrair os proprietários em um momento de escassez de turistas, eles oferecem a possibilidade de pagamento adiantado de até cinco anos de aluguéis e isenção de alguns impostos.

O assunto chegou a gerar polêmica na cidade após o título de um artigo de opinião no jornal britânico The Independent, assinado pelo presidente da Câmara, Fernando Medina, afirmar que, depois do coronavírus, “Lisboa livra-se do Airbnb e transforma arrendamentos turísticos de curta duração em casas para trabalhadores de serviços essenciais”.

O político socialista acabou por minimizar o tom quanto ao aluguel turístico e disse que o título, que depois foi alterado, não havia sido de responsabilidade dele.

Consultora imobiliária em Portugal, a luso-brasileira Flavia Motta diz notar uma redução nos preços, com muitos inquilinos conseguindo inclusive negociar contratos antigos.

“Mas ainda não acho que dê para falar em uma onda de retorno para o centro da cidade. As coisas estão muito incertas, muitos proprietários ainda têm preferido manter as casas vazias a alugarem por um valor mais baixo do que têm em mente”, diz.

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