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Eleições EUA 2020

Primeira convenção democrata virtual reduziu gafes e trocou balões por palmas via Zoom

Ausência de plateia ao vivo favoreceu Biden, que já cometeu gafes em discursos

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Washington

Se fossem tempos normais, Joe Biden encerraria o discurso mais importante de sua vida pública em meio a balões que cairiam de forma cinematográfica sobre milhares de pessoas.

Juntas, elas celebrariam o fim da convenção democrata com a nomeação do ex-vice de Barack Obama como candidato do partido à Casa Branca.

Joe Biden e a mulher, Jill, interagem com apoiadores por meio de imagens de vídeo, ao final do discurso - Win McNamee - 20.ago.20/Getty Images/AFP

Mas os tempos não são normais, e Biden precisou se contentar com aplausos via chamada de Zoom e fogos de artifício em uma espécie de cinema drive-in para coroar sua noite histórica.

Depois de se apresentar como a luz que vai tirar os EUA da escuridão, Biden acenou aos apoiadores que eram estampados em um telão perto dele. Foi anticlímax.

Em seguida, saiu para assistir aos fogos de artifício que tentaram conferir ao menos um ar mais festivo a esta quinta-feira (20). Tudo muito controlado, com máscara e distanciamento social.

A primeira convenção virtual do Partido Democrata não contou com a multidão barulhenta e os tradicionais balões coloridos do passado, mas reduziu gafes e constrangimentos durante discursos de figurões republicanos e do bilionário e ex-prefeito de Nova York, Michael Bloomberg, detestados pelos progressistas.

Diante de democratas mais fervorosos, dificilmente republicanos como o ex-governador de Ohio John Kasich e o ex-secretário de Estado Colin Powell passariam sem vaias se estivessem em cima do palco.

Foi assim que as limitações do evento impostas pela pandemia permitiram que a mensagem de união suprapartidária em torno de Biden fluísse de maneira aparentemente pacífica.

Kasich e Powell tinham a função de acenar a moderados e a independentes e também a republicanos que, assim como eles, estão cansados da retórica agressiva de Trump.

Bloomberg, por sua vez, serviu como um validador de Biden entre os empresários e investidores, desviando o democrata da linha de ataque do atual presidente, que tenta colar no adversário a imagem de um militante de esquerda radical.

O ex-prefeito de Nova York então apresentou o argumento do empresário contra Trump, que também se apresenta como um homem de negócios. "Não estou pedindo que você vote contra Donald Trump porque ele é um cara mau. Estou pedindo que você vote contra Donald Trump porque ele fez um péssimo trabalho."

É difícil acreditar que essa frase passaria incólume diante de uma plateia com eleitores progressistas. Na TV, porém, deu certo.

Mas não passou despercebida, no vídeo, uma mosca que pousou acima do lábio de Bloomberg enquanto ele falava —o trecho viralizou logo depois na internet.

Apesar de alguns momentos monótonos, o formato remoto funcionou bem, com passagens dinâmicas e momentos memoráveis, como o depoimento de Brayden Harrington, um dos mais emocionantes da semana.

Aos 13 anos, ele contou que Biden o ajudou a lidar com a gagueira —o democrata é gago desde muito novo. De dentro de seu quarto, em New Hampshire, o garoto falou em vídeo, enfrentando a timidez e fazendo os exercícios aprendidos no esforço de não gaguejar.

A passagem cristaliza a mensagem de empatia e homem comum que a campanha quer transmitir sobre Biden, contrastando-a com a personalidade de Trump, que não costuma mostrar compaixão pelas pessoas. Pelo contrário.

De segunda a quinta, as noites de convenção duraram apenas duas horas, em vez das habituais quatro pré-pandemia. A média do tempo dos discursos também diminuiu bastante, e apenas Barack Obama e Kamala Harris, por exemplo, falaram mais de dez minutos. Biden, no mais longo de todos, sustentou cerca de 25.

Em 2016, Hillary Clinton fez um discurso de quase uma hora na noite em que aceitou sua nomeação à Casa Branca diante de um partido rachado. Obama, em 2008 e 2012, ficou em cerca de 40 minutos, contando com seu amplo arco de eleitores que Biden sabe que precisa repetir.

A convenção virtual também teve outros feitos, como reunir depoimentos de pessoas comuns de diversos lugares do país e transformar o roll call, momento sonolento em que os 57 estados e territórios anunciam seus resultados nas primárias, em um momento divertido.

Um dia depois da abertura, que contou com discursos fortes de Michelle Obama e Bernie Sanders, a terça-feira (18) estava morna, mas o ritual animou o evento ao mostrar particularidades de cada estado.

A rodada contou com cenas inusitadas, como na apresentação de Rhode Island, em que um homem aparecia segurando uma bandeja de lula frita —prato popular no estado.

Para a última noite, nesta quinta, os democratas escreveram um roteiro com clipes e depoimentos de familiares e até ex-adversários de Biden para resumir a semana e apontar para o último ato da convenção.

Em um o discurso de união, o democrata se apresentou como um homem decente, capaz de curar e unir o país em tempos de divisão e sombras.

Não havia a sensação de ânimo e as reações calorosas que costumam mover políticos. Mas, para Biden, que costuma cometer gafes e escorregar em discursos com audiência ao vivo, o formato virtual foi perfeito.

Diante apenas das câmeras, sem distração, o candidato se concentrou em ler, sem tropeços, o discurso que preparou durante toda a sua vida. Para um candidato conhecido por não empolgar multidões, a convenção virtual foi a receita ideal para a estreia.

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