Descrição de chapéu Coronavírus

Índia ultrapassa Brasil no ranking da pandemia e pode alcançar os EUA em outubro

Governo diz que estratégia de testes e tratamento está funcionando e encerra medidas de restrição

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Mumbai (Índia) | Reuters

As infecções por coronavírus na Índia alcançaram a marca de 4,2 milhões de casos nesta segunda-feira (7), ultrapassando o Brasil e se tornando o segundo país com maior número de contaminações, atrás apenas dos Estados Unidos.

Com 4.204.613 infecções, segundo dados compilados pela Universidade Johns Hopkins, a Índia está quase 70 mil casos à frente do Brasil, que chegou a 4.137.606 registros no domingo (6), de acordo com números do consórcio de imprensa do qual a Folha faz parte.

Com a segunda maior população do mundo —1,3 bilhão de pessoas—, a Índia registrou 90.802 novos casos nesta segunda. De acordo com especialistas, esse ritmo de contágio pode fazer com que o país ultrapasse também os mais de 6 milhões de casos dos EUA já no mês de outubro.

Os cálculos do centro de controle de epidemias do Imperial College, no Reino Unido, apontam que a taxa de transmissão do coronavírus na Índia é de 1,06. O número indica para quantas pessoas, em média, cada infectado transmite o vírus; quando está acima de 1, significa que a velocidade de contágio é crescente.

Isso quer dizer que cada 100 infectados por coronavírus na Índia contaminam outros 106, que, por sua vez, infectam mais 112, que contagiam 119 e assim sucessivamente, espalhando a doença de forma cada vez mais rápida.

Para comparação, a taxa do Brasil é 0,94, o que significa, de acordo com esse índice, que o ritmo de transmissão da Covid-19 no país está desacelerando.

O número de mortes provocadas pelo coronavírus na Índia, entretanto, ainda é bem menor que os registros dos dois países que ocupam o topo da lista. Os EUA seguem primeira posição, com 188.954 mortes, e o Brasil vem na sequência, com 126.650 óbitos.

​Na Índia, são 71.642 mortos pelo vírus, e os números do mês de setembro apontam a manutenção da tendência de crescimento na taxa de mortes diárias. Foram mais de mil óbitos confirmados em cada um dos últimos seis dias.

Proporcionalmente ao tamanho de sua população, as mortes na Índia têm sido consideradas relativamente baixas. De acordo com especialistas ouvidos pela Folha, existem várias teorias para explicar essa aparente contradição. Alguns a atribuem à efetividade da quarentena, outros à juventude da população. Há, ainda, a possibilidade de que mortes ocorridas nos domicílios não estejam sendo devidamente contabilizadas, além de óbitos registrados com diagnósticos equivocados.

O governo do primeiro-ministro Narendra Modi, por sua vez, afirma que sua estratégia de testes, rastreamento e tratamento está funcionando, e optou por encerrar a maior parte das medidas de contenção do contágio para tentar ressuscitar a economia em apuros.

Nesta segunda, depois de mais de seis meses fechados, os metrôs de cidades como Nova Déli, capital da Índia, e Ahmedabad voltaram a funcionar.

O governo também anunciou a reabertura do Taj Mahal, um dos principais pontos turísticos do país. Embora com público limitado a 5.000 pessoas por dia —uma fração dos quase 80 mil visitantes diários que costumavam visitar o mausoléu—, o Taj Mahal voltará a receber visitas a partir de 21 de setembro.

De acordo com o jornal Times of India, Modi tem sido alvo de duras críticas feitas por parte da classe política indiana. Nesta segunda, Randeep Surjewala, porta-voz do Congresso Nacional Indiano, principal partido de oposição ao governo, acusou o primeiro-ministro de deixar a população lidar sozinha com as crises causadas pela pandemia.

"Enquanto a Índia é lançada no abismo do coronavírus, Modi está ocupado alimentando pavões", disse Surjewala, em referência a um vídeo publicado recentemente pelo premiê em que ele aparece cuidando de suas aves de estimação.

"Modi vai responder por sua liderança fracassada? Ou vai culpar Deus por isso?", questionou o opositor.

Conta a favor de Modi, porém, principalmente na comparação com outros líderes populistas como Donald Trump e Jair Bolsonaro, o fato de que o primeiro-ministro indiano nunca minimizou a gravidade da pandemia.

Em 24 de março, Modi determinou um "lockdown" para os habitantes de "todos os distritos, todas as ruas, todas as vilas". O maior confinamento do mundo foi elogiado e a reação rápida trouxe ganho de capital político ao governo.

As restrições abruptas, entretanto, causaram o desemprego de milhões de indianos e uma grave crise econômica, sentida principalmente pela população mais pobre.

"Sem qualquer economia pessoal e orientação adequada do governo, esses trabalhadores enfrentaram insegurança alimentar e dificuldades que levaram migrantes e famílias a caminhar milhares de quilômetros para chegar às suas aldeias", afirma um relatório sobre as políticas adotadas pelo governo indiano produzido pelo Instituto de Saúde Global da Universidade Duke, nos EUA.

Estima-se que entre 2 milhões e 10 milhões de trabalhadores indianos se viram nessas condições. Muitos morreram enquanto tentavam voltar para casa, e boa parte dos que conseguiram acabaram ajudando a disseminar o coronavírus em suas aldeias de origem.

As diferenças entre população urbana e rural também são um fator que agrava a crise de saúde no país. Cerca de 65 por centos dos indianos moram em áreas rurais, mas essa faixa da população acessa somente 35% dos leitos de hospital e 20% do total dos profissionais de saúde.

Além disso, autoridades de saúde temem que a alta densidade populacional das cidades indianas e a falta de saneamento básico façam a situação continuar piorando.

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