'Ensinar, sim; sangrar, não': França presta homenagem a professor decapitado

Docente foi morto no subúrbio de Paris após mostrar charges do profeta Maomé a estudantes

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Paris | Reuters

Milhares de pessoas se reuniram na França neste domingo (18) para apoiar professores e defender a liberdade de expressão após o assassinato de Samuel Paty, docente de história decapitado na sexta (16).

De Paris a Lyon, Marselha e Lille, grandes multidões se reuniram em silêncio, parando regularmente para aplaudir, fazer minutos de silêncio ou cantar o hino nacional.

Manifestante ergue exemplar do jornal satírico Charlie Hebdo durante protesto em Toulouse
Manifestante ergue exemplar do jornal satírico Charlie Hebdo durante protesto em Toulouse - George Gobet/AFP

O primeiro-ministro da França, Jean Castex, participou do encontro na Place de la République, em Paris, junto com o ministro da Educação, Jean-Michel Blanquer, e políticos de todos os espectros, mostrando solidariedade após um assassinato que chocou o país. "Você não nos assusta. Nós não temos medo. Você não vai nos dividir. Nós somos a França!", disse posteriormente Castex numa rede social.

Paty foi morto aos 47 anos em frente à escola de um subúrbio de Paris por um agressor de 18 anos.

No início deste mês, ele mostrou a seus alunos desenhos do profeta Maomé em uma aula sobre liberdade de expressão, irritando vários pais muçulmanos. Os muçulmanos consideram qualquer representação do profeta uma blasfêmia.

O agressor, que nasceu na Rússia e é de origem chechena, foi morto a tiros pela polícia logo após o ataque. A polícia deteve 11 pessoas em conexão com o assassinato.

As pessoas nos eventos deste domingo usavam máscaras para evitar a disseminação da Covid-19 e carregavam cartazes como "ensinar, sim; sangrar, não" ou "eu sou Charlie" —em referência à revista satírica Charlie Hebdo, cujos escritórios foram atacados em um assassinato em massa há cinco anos.

"Estamos aqui para defender a República, os valores da República: liberdade, igualdade, fraternidade e secularismo. Podemos sentir que a nação está ameaçada", disse Pierre Fourniou, 83, em Paris.

Paty foi alvo de uma campanha furiosa nas redes sociais antes de ser morto. Castex disse em uma entrevista ao Journal du Dimanche que o governo está trabalhando em uma estratégia para proteger com mais efetividade professores de ameaças.

O presidente Emmanuel Macron deve realizar uma reunião de segurança com os principais ministros ainda neste domingo, informou seu gabinete, e uma homenagem nacional está prevista para quarta (21).

No sábado (17), nove pessoas foram interrogadas pela polícia francesa, sob suspeita de participação no crime. Os investigadores tentam descobrir se o agressor agiu sozinho ou se tinha cúmplices.

Quatro parentes do agressor, incluindo um menor, foram detidos após o ataque no subúrbio de classe média, segundo fontes da polícia. Outros cinco foram detidos durante a noite de sexta e a madrugada de sábado, dentre os quais dois pais de alunos do College du Bois d'Aulne, onde o professor trabalhava.

Na semana anterior, o pai e uma aluna de Paty compartilharam um vídeo em que rotulavam o professor de bandido e apelavam a outros para "unir forças e dizer 'pare, não toque em nossos filhos".

Não se sabe se o autor deste vídeo está sob custódia policial.

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