Vaticano diz que fala do papa sobre união de homossexuais foi tirada de contexto

Declaração não representa aceitação do casamento gay pela Igreja, afirma nota

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Cidade do Vaticano | Reuters

O Vaticano afirmou em nota que uma fala do papa Francisco sobre os casais homoafetivos —que veio à tona em outubro— foi tirada de contexto ao circular pelo mundo e que não representa mudança alguma na doutrina da Igreja Católica em relação aos homossexuais e o casamento gay.

A declaração do papa foi dada ao documentário “Francesco”, que narra sua trajetória. Nele, Francisco afirma que os homossexuais têm direito a uma família e devem ser protegidos por leis de união civil.

"Pessoas homossexuais têm o direito de estar em uma família. Elas são filhas de Deus e têm direito a uma família. Ninguém deveria ser descartado [dela] ou ser transformado em miserável por causa disso", disse o pontífice no filme. "O que temos de criar é uma lei de união civil. Assim, ficam legalmente protegidos. Posiciono-me por isso."

No filme, a fala do papa vinha logo após ele ler uma carta de um homem gay que adotou três crianças com seu parceiro. Nela, o homem explica que gostaria de ir com o companheiro e os filhos às missas em sua paróquia, mas temia que as crianças fossem hostilizadas.

A nota do Vaticano foi divulgada a círculos restritos da Igreja na semana passada, primeiro a seus embaixadores e depois aos bispos. Ela chegou às mãos do biógrafo papal Austen Ivereigh, que a noticiou, e foi por fim confirmada pelo embaixador do Vaticano no México nesta segunda-feira (2).

O texto afirma que a fala do papa —tida inicialmente como a declaração mais forte já dada por um pontífice em defesa dos direitos LGBT— foi tirada de contexto e construída a partir de suas respostas a duas perguntas diferentes.

O diretor do filme, o documentarista americano de ascendência russa Evgeny Afineevsky (pronuncia-se Ievguêni Afinévski), recusou-se a comentar sobre o processo de edição. Ele havia deixado implícito que a gravação em questão era de uma entrevista dele com o papa, mas jornalistas descobriram posteriormente que as cenas haviam sido gravadas pelo canal mexicano Televisa em 2019.

A nota do Vaticano também diz que, na primeira parte da fala mostrada no filme, o papa não se referia à união civil homoafetiva, mas ao direito de filhos e irmãos homossexuais serem aceitos por suas famílias.

O texto ainda acrescentou que o documentário cortou declarações nas quais o papa se opunha ao casamento gay dentro da Igreja e esclareceu que ele se referia apenas às leis de união civil de cada país. Francisco teria dito que “é uma incongruência falar de casamento homossexual”, mas a frase foi cortada do filme, disse o Vaticano.

“Fica claro que o papa se referia a certas provisões dos Estados, e certamente não à doutrina da Igreja, que ele reafirmou diversas vezes ao longo dos anos”, afirma a nota.

A posição oficial da Igreja Católica é que as “tendências homossexuais” não são pecaminosas, mas “atos homossexuais” sim —e que, mesmo assim, os homossexuais devem ser tratados com respeito.

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