Descrição de chapéu terrorismo oriente médio

Ataque contra novo governo do Iêmen deixa ao menos 22 mortos em aeroporto

Segundo Ministério do Interior, 50 ficaram feridos; rivais da atual gestão, houthis negam autoria

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Áden (Iêmen), Washington e Abu Dhabi | Reuters e AFP

Ao menos 22 pessoas morreram e 50 ficaram feridas em um ataque no aeroporto de Áden, capital temporária do Iêmen, nesta quarta-feira (30).

A ação ocorreu momentos após o pouso de um avião vindo de Riad que levava integrantes de um recém-formado gabinete, apoiado pelos sauditas, para partes do país ainda sob controle do governo.

O premiê iemenita, Maeen Abdulmalik, afirmou que todos os membros do gabinete estavam bem.

O atentado, no entanto, realça as dificuldades que a Arábia Saudita enfrenta ao tentar formar um governo que una dois de seus aliados –o presidente do Iêmen, Abd-Rabbu Mansour Hadi, e separatistas do sul– na guerra contra os houthis, por sua vez alinhados ao Irã e que controla o norte do país, incluindo sua capital oficial, Sanaa.

Pessoas correm após explosões no aeroporto de Áden, capital interina do Iêmen
Pessoas correm após explosões no aeroporto de Áden, capital temporária do Iêmen - Fawaz Salman/Reuters

Imagens da emissora de TV saudita Al Arabiya mostram que dezenas de pessoas deixavam o avião no momento em que a primeira explosão atingiu o saguão do aeroporto.

Na sequência, veículos blindados atiraram diversas vezes, enquanto fumaças branca e preta eram vistas no local. Outras imagens exibem danos às paredes de concreto do terminal e vidros quebrados.

Uma fonte da segurança do local afirmou que três projéteis de morteiros caíram no saguão do aeroporto.

Citando o Ministério do Interior, o primeiro-ministro publicou no Twitter que 22 pessoas morreram e outras 50 ficaram feridas, entre civis, seguranças e funcionários do local. A organização Médicos sem Fronteiras disse que atendeu 17 feridos em seu hospital em Áden.

Entre as vítimas fatais estavam membros do governo e dois integrantes do Comitê Internacional da Cruz Vermelha (CICV) –um terceiro ainda está desaparecido, segundo a entidade.

"Este é um dia trágico para o CICV e para o povo do Iêmen", afirmou Dominik Stillhart, diretor de operações da organização, em nota. "A população iemenita tem enfrentado um terrível sofrimento nos últimos cinco anos. Um dia como este traz ainda mais dor, tanto para a família da Cruz Vermelha como para as famílias do Iêmen cujos entes queridos morreram ou ficaram feridos nessa explosão."

Horas após o ataque, uma segunda explosão foi ouvida na região próxima ao palácio presidencial da capital, local aonde os integrantes do gabinete, além do premiê e do embaixador saudita no Iêmen, Mohammad Said al-Jaber, foram levados, de acordo com moradores e a mídia local.

Até o momento, nenhum grupo reivindicou a autoria do atentado. A coalizão liderada pelos sauditas para formar um novo governo no Iêmen disse que derrubou um drone houthi carregado de explosivos que tinha como alvo o palácio presidencial.

O chanceler do Iêmen, Ahmed ben Mubarak, acusou o grupo rival pelo ataque mais cedo. O movimento não se manifestou sobre o drone, mas negou qualquer responsabilização pelo ataque ao aeroporto. O porta-voz do governo, Rajeh Badi, pediu uma investigação internacional sobre o atentado.

“Nós e os membros do governo estamos na capital temporária de Áden e todos estão bem”, escreveu no Twitter o primeiro-ministro. “O ato terrorista covarde que tinha como alvo o aeroporto de Áden é parte da guerra que está sendo travada contra o Estado iemenita e seu grande povo.”

Tanto os separatistas do sul, que também responsabilizaram os houthis, como o enviado da ONU para o Iêmen, Martin Griffiths, além de diversos países árabes, condenaram o ataque.

“Desejo força para o gabinete ao enfrentar as dificuldades que virão”, afirmou Griffiths. “Esse inaceitável ato de violência é uma trágica lembrança da importância de levar o Iêmen urgentemente de volta para o caminho em direção à paz.

O secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, condenou o que chamou de "ataque lamentável" e prestou sua solidariedade às famílias das vítimas e ao governo iemenita, segundo comunicado.

O porta-voz do Departamento de Estado dos EUA, Cale Brwon, também se manifestou, por meio de comunicado, afirmando que esse tipo de atentados não interromperia esforços de paz. "Os ataques foram sincronizados com a chegada de novos oficiais do governo iemenita e mais uma vez demonstram uma intenção maliciosa daqueles que tentam desestabilizar o Iêmen."

Ao condenar a ação, a UE considerou o atentado inaceitável, ao mesmo tempo em que lembrou a vontade de "preservar a soberania, a independência, a estabilidade e a unidade territorial" do Iêmen.

A cidade portuária de Áden sofre com a violência devido a uma cisão entre o grupo separatista Conselho de Transição do Sul (STC, na sigla em inglês) e o governo do presidente Hadi, baseado na região após ter sido expulso da capital oficial do país pelos houthis em 2014 –desde então, o país está mergulhado em conflitos.

O STC, que busca a independência do sul do Iêmen, declarou autogoverno em Áden em abril, provocando confrontos e complicando os esforços da ONU para estabelecer um cessar-fogo permanente.

Após mais de um ano de uma intensa mediação da Arábia Saudita entre o governo e os separatistas, a coalizão liderada pelos sauditas anunciou neste mês um novo gabinete, com poder dividido entre seus dois aliados.

A situação no Iêmen, porém, pode se agravar ainda mais. Nos últimos dias do governo de Donald Trump, o Departamento de Estado americano aprovou a venda de 3.000 bombas inteligentes, no valor de US$ 290 milhões (R$ 1,5 trilhão), para a Arábia Saudita.

O anúncio da transação foi feito pelo Pentágono nesta terça-feira (29) e impõe um desafio para o presidente eleito, Joe Biden. O democrata já havia dito que se empenharia para suspender a venda de armamentos aos sauditas, os maiores compradores desses equipamentos dos EUA no Oriente Médio, como forma de pressionar Riad a acabar a guerra no Iêmen, que vive a maior crise humanitária no mundo.

“A venda vai melhorar a capacidade da Arábia Saudita para lidar com ameaças, aumentando seus estoques de munições de longo alcance e de precisão”, disse o Pentágono em comunicado. “O tamanho e a precisão das bombas formam uma munição efetiva com menos dano colateral.”

A Agência de Cooperação para Segurança e Defesa, ligada ao Pentágono, notificou o Congresso americano sobre a aprovação da venda. No início do ano, deputados e senadores se irritaram com o grande número de mortes de civis no Iêmen e tentaram bloquear a venda de caças F-35 a Riad.

Apesar da aprovação pelo Departamento de Estado, porém, o aviso não indica que um contrato foi assinado ou que as negociações foram concluídas.

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