Governo de coalizão colapsa, e Israel terá 4ª eleição em dois anos

Fracasso na aprovação do orçamento e crise entre legendas de Netanyahu e Gantz levam à dissolução do Parlamento

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Jerusalém | Reuters

Depois de sete meses de um governo de coalizão, Israel vai encarar sua quarta eleição nacional em dois anos, depois que o primeiro-ministro Binyamin Netanyahu e seu parceiro de governo, Benny Gantz, não conseguiram costurar um acordo para aprovação do orçamento do país.

Na segunda-feira (21), o Parlamento votou contra uma tentativa dos dois de prorrogar o prazo para aprovação do pacote fiscal. Segundo a lei, se o orçamento não fosse aprovado até a meia-noite (horário de Israel) da terça-feira (22), a Casa teria que ser dissolvida.

Foi o que aconteceu, e o país vai ter que realizar mais um pleito, em março.

Para Netanyahu, a nova eleição será uma batalha por sobrevivência, porque é grande a insatisfação com a condução do premiê diante da pandemia do coronavírus e ele enfrenta várias investigações por corrupção.

O primeiro-ministro israelense, Binyamin Netanyahu, discursa no Knesset, o parlamento de Israel.
O primeiro-ministro israelense, Binyamin Netanyahu, discursa no Knesset, o parlamento de Israel - Yonathan Sindel/AFP

Pesquisas indicam que o partido de Netanyahu, o direitista Likud, deve emergir das eleições como o mais forte do Parlamento, mas também apontam um bom desempenho para as legendas que querem tirar o premiê do cargo.

Netanyahu e o ministro da Defesa, Gantz, líder do partido centrista Azul e Branco, formaram um governo de coalizão em maio de 2020, após três eleições inconclusivas desde abril de 2019.

Mas, diferentemente das eleições anteriores, em um próximo pleito Netanyahu deve enfrentar nas urnas adversários também direitistas, e sob a sombra de uma recessão econômica. Um novo adversário conservador, Gideon Saar, saiu recentemente do Likud e fundou uma legenda rival, chamada de Nova Esperança. Ele conquistou apoio de eleitores desiludidos de centro e de direita e representa uma ameça para Netanyahu.

O acordo de partilha de poder entre o Likud e o Azul e Branco prevê que Netanyahu passe o cargo de primeiro-ministro para Gantz em novembro de 2021 e inclui a aprovação de um orçamento bi-anual para 2020 e 2021, o que serviria como uma apólice de seguro para o acordo.

Mas já quando o acordo estava sendo desenhado, analistas afirmaram que Netanyahu não iria abrir mão de seu cargo, e, desde então, o Likud tem exigido aprovação dos orçamentos separadamente, enquanto o Azul e Branco insiste que Netanyahu cumpra os termos do acordo.

Gantz afirmou que entrou no acerto de partilha de poder com Netanyahu para “melhor servir aos interesses do país, dadas as necessidades do momento". Mas, segundo ele, seu partido "não encontrou um parceiro do outro lado”.

Netanyahu se nega a apresentar a proposta de orçamento para 2020 ou 2021, violando o tratado com Gantz —essa é a razão mais evidente para o colapso do governo.

No fundo, o principal motivo para a instabilidade política é a desconfiança mútua entre Gantz e Netanyahu e a divisão do país em relação ao destino do primeiro-ministro. O julgamento de Netanyahu por corrupção entrará em uma fase delicada no início de 2021, que exigirá presença constante do premiê no tribunal. Ele é acusado de fraude, corrupção e quebra de confiança, e nega os crimes.

A nova eleição foi marcada inicialmente para 23 de março.

Analistas afirmam que Netanyahu estava pressionando para realizar eleições em maio ou junho do ano que vem, depois que a crise do coronavírus tivesse melhorado e a economia tivesse começado a se recuperar, porque, assim, ele esperava obter a maioria no Parlamento.

O principal objetivo seria arrancar dos parlamentares algum tipo de imunidade para ele em seu julgamento por corrupção ou atrasar o processo judicial.

Uma eleição em março pode ser bem mais arriscada para Netanyahu.

“É totalmente diferente”, diz Reuven Hazan, professor de ciência política na Universidade Hebraica. “Netanyahu está muito mais vulnerável agora, e as chances de ele não continuar a ser primeiro-ministro são maiores.”

Netanyahu negou que estivesse pressionando pela realização de eleições e culpa o partido Azul e Branco pela crise política. O impasse levou Israel a mergulhar em mais incerteza econômica, em um ano em que o PIB deve encolher 4,5% e a taxa de desemprego bater em 12,1% devido aos impactos da pandemia.

Em uma futura eleição, Netanyahu provavelmente iria apostar na campanha de vacinação contra Covid-19, que começou nesta semana, além de vitórias diplomáticas como os acordos de normalização de relações com países do Golfo, Sudão e Marrocos, intermediados pelos EUA.

Netanyahu tinha uma relação muito próxima com o presidente americano, Donald Trump, que adotou uma série de medidas em benefício de Israel nas eleições anteriores. Com a perspectiva de o presidente eleito Joe Biden assumir dia 20 de janeiro de 2021, o premiê vai perder um importante ativo eleitoral.

Mesmo assim, ele já está mergulhando em modo campanha. “Não tenho medo de eleições. Estamos prontos, vamos vencer”, disse Netanyahu. “O povo israelense sabe quem conseguiu entregar milhões de vacinas, quatro acordos de paz, quem está controlando o Irã e quem vai recuperar a economia.”

O atual governo se mantém provisoriamente até a eleição e formação do novo governo.

Com The New York Times

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