Às vésperas da posse de Biden, Israel ordena construção de 800 casas em assentamentos na Cisjordânia

Democrata já declarou ser contrário à prática, considerada legal pelo governo Trump

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Jerusalém e São Paulo | Reuters e AFP

O premiê de Israel, Binyamin Netanyahu, anunciou nesta segunda-feira (11) um novo plano para construir cerca de 800 casas para colonos judeus na Cisjordânia, uma área também reivindicada pelos palestinos.

A decisão ocorre a nove dias da posse do novo presidente dos EUA, Joe Biden, que já declarou ser contrário aos assentamentos feitos por Israel na região em disputa —posição contrária à de Donald Trump.

Os palestinos criticam a instalação de casas nesses locais porque a presença das moradias impede a criação de um Estado palestino, algo que buscam há décadas.

Assentamento israelense de Maale Adumim, na Cisjordânia - Ammar Awad - 25.fev.20/Reuters

"Estamos aqui para ficar. Nós vamos continuar a construir na terra de Israel", escreveu Netanyahu em uma rede social ao anunciar a medida.

O premiê está atualmente em campanha para a eleição legislativa marcada para 23 de março, que pode tirá-la do comando do país depois de mais de dez anos consecutivos no cargo. Esse será o quarto pleito em dois anos no país.

A instabilidade política acontece porque nas votações anteriores nem o governo nem a oposição conseguiram conquistar a maioria no Parlamento.

Assim, para se manter como primeiro-ministro, Netanyahu precisa do apoio —e dos votos— de grupos conservadores e religiosos, que costumam ser favoráveis aos assentamentos no território ocupado.

Uma das preocupações de Netanyahu é impedir o crescimento do partido de direita Nova Esperança na próxima eleição. A agremiação é liderada pelo ex-deputado Gideon Sa'ar, um grande defensor da existência dos assentamentos. Ex-aliado do premiê, ele rompeu com Netanyahu no fim de 2020 e agora promete derrubá-lo do poder.

O líder da oposição, o deputado Yair Lapid (da sigla centrista Yesh Atid), criticou a decisão. "Trata-se de um anúncio irresponsável. Biden ainda não tomou posse, e o governo [de Israel] já está nos levando a um confronto desnecessário", disse ele, que é um ex-ministro de Netanyahu.

Já o Ministério de Relações Exteriores da Autoridade Palestina afirmou em nota que o governo israelense está correndo contra o tempo para tentar aprovar as novas construções antes do fim do mandato de Trump.

No ano passado, o presidente americano chegou a tentar mediar um acordo de paz na região. Pelo plano, apoiado por Netanyahu, os palestinos ficariam com um território fragmentado, ligado por estradas e túneis. A proposta foi rechaçada pelos palestinos, que se recusaram a participar da negociação por considerarem o projeto pró-Israel.

A equipe do republicano também tem buscado estimular a retomada das relações entre países árabes com Israel, muitas das quais rompidas devido à questão palestina. Nos últimos meses, Emirados Árabes Unidos, Bahrein, Marrocos e Sudão assinaram acordos com o governo israelense —nenhum deles se manifestou sobre o anúncio desta segunda.

O republicano é um grande aliado de Netanyahu. Em novembro, o secretário de Estado dos EUA, Mike Pompeo, visitou um assentamento na Cisjordânia e disse avaliar que a construção dessas moradias não desrespeita a lei internacional, oficializando a mudança de posição de Washington sobre o tema.

No entanto, grande parte da comunidade internacional —incluindo a ONU e a União Europeia— discorda desse entendimento e há uma grande expectativa de que a gestão Biden retome o posicionamento anterior do governo dos EUA, de que Israel não deve construir moradias nas áreas em disputa.

Pela resolução da ONU de 1947 que dividiu a região e permitiu a criação do Estado de Israel, a maior parte da Cisjordânia deveria ficar sob controle do futuro Estado Palestino.

Israel, porém, ganhou o controle da região —assim como de Jerusalém Oriental— em 1967, durante a Guerra dos Seis Dias. Desde então, milhares de israelenses passaram a morar nos assentamentos da região. Atualmente, quase 500 mil colonos judeus vivem na Cisjordânia, em meio a 3 milhões de palestinos.

A questão é um dos pontos mais delicados das negociações de paz na região, já que os palestinos exigem a expulsão dos colonos. O governo israelense, por sua vez, afirma que os judeus têm laços históricos com a região e se recusa a debater a retirada dos assentamentos.

O Estado de Israel já foi condenado em cortes internacionais por causa dos assentamentos, que muitas vezes acabam sendo foco de tensões. ​

No mês passado, uma colona israelense, Esther Horgen, foi morta enquanto praticava exercícios próximo do assentamento onde morava, na Cisjordânia —um suspeito palestino foi preso pelo crime.

O marido da vítima chegou, inclusive, a pedir que o governo israelense intensificasse a ocupação da região como resposta ao episódio. Segundo o anúncio desta segunda, o assentamento onde o casal e seus seis filhos moravam, Tal Menashe, deve receber cem novas casas.

Além dele, as novas moradias serão feitas em Beit El, Rehelim, Shavei Shomron, Barkan, Karnei Shomron e Givat Zeev. De acordo com o site The Times os Israel, um painel do Ministério da Defesa deve aprovar ainda na próxima semana a construção das casas, mas não há data definida para o início das obras.

Erramos: o texto foi alterado

Versão anterior do título indicou incorretamente que Israel construirá 800 novos assentamentos na Cisjordânia. O plano, na verdade, é construir 800 novas moradias em assentamentos na região.

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