Com tratores, agricultores fazem protesto na Índia contra reforma de Modi

Grupo derrubou barreiras nas estradas e invadiu o monumento Forte Vermelho; 1 pessoa morreu

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Nova Déli | Reuters e AFP

Ao volante de seus tratores, milhares de fazendeiros indianos derrubaram bloqueios nas estradas nesta terça-feira (26) para se dirigirem até Nova Déli. Na capital, o grupo realizou um protesto contra as reformas no setor agrícola propostas pelo governo do premiê Narendra Modi.

A data da manifestação foi escolhida para coincidir com o desfile militar do Dia da República, feriado que celebra o aniversário da adoção da constituição do país em 1950.

O ato terminou em confronto com a polícia —ao menos um manifestante morreu e 86 agentes ficaram feridos, segundo a polícia.

Durante o protesto, os fazendeiros invadiram o complexo histórico do Forte Vermelho e hastearam bandeiras de sindicatos agrícolas, em um gesto carregado de simbolismo. Tradicionalmente, o primeiro-ministro indiano costuma hastear todos os anos a bandeira do país dentro do monumento durante as comemorações da independência.

A polícia disparou bombas de gás lacrimogêneo em uma tentativa de forçar os manifestantes a recuar, mas a ação não deu resultado.

Alguns dos manifestantes que escalaram as paredes do Forte Vermelho carregavam espadas cerimoniais, que usaram para afastar os policiais. Imagens da agência de notícias asiática ANI mostraram agentes de segurança pulando as muralhas para escapar.

"Modi vai nos ouvir agora, ele vai ter que nos ouvir agora", disse Sukhdev Singh, 55, um fazendeiro do estado de Punjab, no norte do país.

Um homem morreu após o trator que ele dirigia capotar em um confronto com a polícia, disseram as autoridades.

O governo ordenou o bloqueio dos serviços de internet em algumas partes da capital, de acordo com a operadora de telefonia móvel Vodafone Idea, em uma tentativa de evitar novos distúrbios.

Os agricultores acamparam fora da capital por quase dois meses, representando um dos maiores desafios para o premiê desde que assumiu o poder em 2014. Eles criticam a reforma do governo que afrouxa as regras de venda, fixação de preços e armazenamento de produtos agrícolas.

Uma das maiores mudanças é que, com as novas leis, os agricultores terão permissão para vender seus produtos a preços de mercado diretamente para entidades privadas como empresas agrícolas, redes de supermercados e mercearias.

Atualmente, os agricultores vendem a maior parte de sua produção em mercados atacadistas controlados pelo governo, com preços mínimos garantidos.

Dezenas de milhares de agricultores começaram o dia em um comboio de tratores que passou pela periferia da capital. Mas centenas deles fugiram das rotas aprovadas para a manifestação, dirigindo-se aos edifícios do governo no centro da cidade, onde ocorria o desfile anual de tropas e equipamentos militares do Dia da República.

Os manifestantes confiscaram guindastes e usaram cordas para derrubar bloqueios de estradas, forçando os policiais com equipamentos de choque a ceder à multidão. Um segundo grupo conduziu tratores até um cruzamento de tráfego, também rompendo barricadas após confrontos com a polícia.

O organizador do protesto, Samyukt Kisan Morcha, disse que os grupos que se desviam das rotas estabelecidas não representam a maioria dos agricultores.

"Também condenamos e lamentamos os eventos indesejáveis ​​e inaceitáveis ​​que ocorreram hoje e nos dissociamos daqueles que praticam tais atos", afirmou o grupo de sindicatos agrícolas em um comunicado.

Amarinder Singh, ministro-chefe do estado de Punjab, de onde vieram muitos dos manifestantes, também condenou o episódio. "A violência de alguns elementos é inaceitável", escreveu ele em suas redes sociais. "Isso vai negar a boa vontade gerada por agricultores que protestam pacificamente."

A agricultura emprega cerca de metade da população da Índia, de 1,3 bilhão de pessoas, e a agitação entre cerca de 150 milhões de agricultores proprietários de terras preocupa o governo.

Nove rodadas de negociações com sindicatos de agricultores não conseguiram encerrar os protestos, pois os líderes agrícolas rejeitaram a oferta do governo de adiar as leis por 18 meses, pressionando pela revogação.

"As organizações agrícolas têm uma influência muito forte", disse Ambar Kumar Ghosh, analista do centro de estudos de Nova Déli, a Observer Research Foundation. “Eles têm recursos para mobilizar apoio e para continuar o protesto por muito tempo.”

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