Trump suspende restrição de viagens do Brasil, mas Biden deve reverter decisão

Futura secretária de imprensa do governo democrata afirma que 'não é hora' de liberar entrada

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Washington

Às vésperas de deixar o cargo, o presidente dos EUA, Donald Trump, suspendeu as restrições de viagem a passageiros não americanos vindos do Brasil e da Europa. O anúncio foi publicado nesta segunda-feira (18) para que a medida comece a valer em 26 de janeiro, mesmo dia em que entra em vigor a exigência de teste negativo para Covid-19 aos estrangeiros que quiserem entrar em território americano.

A decisão, porém, pode ser revertida pelo democrata Joe Biden, que toma posse nesta quarta (20) e diz que sua preocupação primordial é o combate ao coronavírus, que já matou quase 400 mil americanos.

O presidente Donald Trump embarca em avião na Casa Branca
O presidente Donald Trump embarca em avião na Casa Branca - Saul Loeb - 15.jan.21/AFP

Minutos depois do anúncio feito por Trump, a futura secretária de imprensa de Biden, Jen Psaki, afirmou que o novo governo "não pretende suspender as restrições".

"Seguindo o conselho de nossa equipe médica, o governo não pretende suspender essas restrições em 26/1. Na verdade, planejamos fortalecer as medidas de saúde pública em torno das viagens internacionais, a fim de mitigar ainda mais a disseminação da Covid-19", escreveu a assessora no Twitter.

Assim, o governo Biden precisaria impor novamente um bloqueio na entrada de viajantes.

Diplomatas brasileiros que participaram das negociações não avaliavam, inicialmente, que o democrata poderia rever a decisão de Trump, e o chanceler Ernesto Araújo chegou a ir às redes sociais com otimismo comemorar o anúncio de última hora do republicano.

"O presidente Donald Trump acaba de anunciar o fim da proibição de ingresso de brasileiros nos EUA que havia sido determinada em função da Covid. Brasileiros voltarão a poder ingressar nos EUA a partir do dia 26/1, sujeitos a apresentar teste negativo de Covid (além de visto)."

Com a medida, cidadãos não americanos que estiveram no Brasil e em outros 28 países europeus nos últimos 14 dias poderão entrar nos EUA com um resultado negativo para teste de Covid-19 feito três dias antes de viagens —a exigência foi anunciada na semana passada e considerada pelas companhias aéreas como a abertura do caminho para que o governo americano suspendesse as restrições.

Em sua proclamação sobre o fim das restrições, Trump fez referência aos novos protocolos de teste e disse que a entrada de passageiros do Brasil e da Europa "não é mais prejudicial aos interesses dos Estados Unidos" e que "é do interesse americano encerrar a suspensão de entrada".

"O secretário [de Saúde] explicou que a ação [que exige resultado negativo para Covid-19 aos estrangeiros que chegam aos EUA] ajudará a evitar que os passageiros aéreos do espaço Schengen, do Reino Unido, da República da Irlanda e da República Federativa do Brasil espalhem o vírus causador da Covid-19 nos Estados Unidos. O entendimento do secretário é que a grande maioria das pessoas que entram nos Estados Unidos provenientes dessas jurisdições o fazem por via aérea", diz o republicano no comunicado.

A agência de notícias Reuters havia informado no fim de novembro que a Casa Branca estudava suspender parte das restrições de viagem impostas pelo governo Trump na tentativa de conter a pandemia. Nesta segunda, a Reuters antecipou que a medida seria tomada ainda nesta semana.

Segundo a Folha apurou, todas as questões burocráticas em relação ao Brasil tinham sido resolvidas nos últimos dias, e as autoridades esperavam apenas o aval de Trump, antes de o republicano deixar o cargo.

Desde maio, somente americanos ou estrangeiros com residência permanente nos EUA podiam entrar no país vindo de nações sob restrição —havia exceções para casos com vistos diplomáticos e para quem viajava por razões humanitárias, de saúde pública e de segurança nacional, por exemplo.

O governo americano havia se comprometido, nos bastidores, a analisar a situação do Brasil logo no primeiro grupo de países em que a suspensão ou revisão de restrições fosse reconsiderada —o que constava também a Europa—, mas não havia garantias sobre datas ou formato a uma medida concreta.

De acordo com pessoas envolvidas nas negociações, os EUA avaliavam tanto suspender totalmente as restrições —cenário considerado mais difícil de acontecer até o fim do ano— como liberar a entrada de viajantes de forma escalonada, autorizando primeiro a entrada de estudantes e empresários, por exemplo.

Além do Brasil, a decisão de Trump beneficia viajantes que passaram pelo Reino Unido, Irlanda e pela zona Schengen, que reúne 26 países europeus e onde não há controle de passaportes nas fronteiras internas. O veto à entrada da maioria de estrangeiros que viaja da China e do Irã aos EUA, porém, permanece vigente.

Os EUA ainda são os líderes do mundo em número de casos e mortes por Covid-19, com quase 400 mil vítimas, mas houve muita pressão, principalmente por parte das empresas aéreas, para que a circulação de passageiros fosse retomada depois de tantos meses.

O plano ganhou apoio de membros da força-tarefa do coronavírus da Casa Branca, da área de saúde pública do governo e de outras agências federais, sob argumento de que as restrições não faziam mais sentido, já que a maioria dos países ao redor do mundo não estava mais sujeita a proibições deste tipo.

Além disso, autoridades do governo Trump afirmavam que o fim das restrições seria um alívio para as companhias aéreas americanas, que viram as viagens internacionais caírem 70%, de acordo com o setor.

Assim como os EUA, Europa e Brasil têm assistido a novos picos no número de casos por Covid-19 nas últimas semanas, e diversos países europeus e estados americanos voltaram a adotar restrições para tentar conter uma nova onda da doença que já matou mais de 2 milhões de pessoas em todo o mundo.

Trump determinou a proibição de entrada de estrangeiros vindos da China em 31 de janeiro de 2020, ainda no início da pandemia, quando o país asiático era o epicentro da crise. No mês seguinte, adicionou à lista o Irã e, em março, estendeu as restrições a pessoas vindas da zona Schengen, Reino Unido e Irlanda.

Naquele momento, a Casa Branca já avaliava a situação da pandemia no Brasil, e a decisão de barrar a entrada de pessoas que passaram pelo país foi cogitada publicamente diversas vezes por Trump.

Embora evitasse criticar o presidente Jair Bolsonaro publicamente, Trump falou da crise sanitária no país com gravidade e preocupação. O presidente brasileiro foi um dos poucos líderes da América Latina —e do mundo— a minimizar a gravidade da Covid-19.

A restrição à entrada de viajantes do Brasil foi imposta, enfim, no final de maio. Enquanto o bloco europeu ainda restringe a entrada de americanos, o Reino Unido e a Irlanda solicitam duas semanas de isolamento. O Brasil não tem restrições para quem chega dos EUA.

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