FBI indicia filho de brasileiros envolvido no ataque ao Congresso dos EUA

Samuel Camargo, 26, participou da invasão do Capitólio e deve responder por crimes federais

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BAURU (SP)

No âmbito das investigações de centenas de pessoas que invadiram e vandalizaram o Congresso dos Estados Unidos, Samuel Camargo, 26, foi indiciado pelo FBI, a polícia federal americana, por ter se envolvido nos atos de insurreição insuflados por Donald Trump.

Filho de brasileiros, Camargo nasceu em Boston, no estado de Massachusetts, e hoje mora em Fort Myers, na Flórida. Segundo pessoas próximas ouvidas pela Folha, ele é um apoiador do republicano e participou dos comícios em Washington e dos atos contra o Capitólio para "defender aquilo em que acredita".

De acordo com uma pessoa que preferiu não ser identificada, ele não é um terrorista, não tem armas nem arriscaria sujar sua ficha criminal. No entendimento do FBI, entretanto, Camargo cometeu ao menos quatro crimes durante os protestos.

Samuel Camargo, 26, indiciado pelo FBI por participar do ataque ao Congresso dos EUA
Samuel Camargo, 26, indiciado pelo FBI por participar do ataque ao Congresso dos EUA - Reprodução/Samuel Camargo no Facebook

Segundo a denúncia da agência federal, Camargo responderá por obstruir o trabalho de agentes das forças de segurança; por entrar em local restrito sem autoridade para fazê-lo; por envolver-se conscientemente em ato de violência física contra pessoas ou propriedades em locais restritos; e por usar conduta desordenada ou perturbadora para interromper uma sessão do Congresso —no caso, a certificação da vitória do presidente eleito dos EUA, Joe Biden.

A forma como as autoridades identificaram Camargo como um dos invasores do Capitólio ilustra uma das principais estratégias de investigação do FBI para responsabilizar criminalmente os envolvidos no ataque ao Congresso: denúncias por meio de imagens publicadas na imprensa e nas redes sociais.

"Se você testemunhou ações violentas ilegais ou conhece alguém que participou dessas ações ilegais, recomendamos que envie quaisquer informações, fotos ou vídeos que possam ser relevantes", diz a agência federal em uma página criada exclusivamente para a investigação dos atos em Washington.

Mais de 140 mil pessoas enviaram informações ao FBI para identificar os participantes do ataque ao Congresso e, segundo o Departamento de Justiça dos EUA, a maior parte das denúncias foi feita por amigos e familiares dos invasores. Ao menos 200 pessoas foram presas e, de acordo com um levantamento da Universidade George Washington, 80 estão sendo indiciadas por crimes federais.

No caso de Camargo, a primeira denúncia foi feita no mesmo dia da invasão. Uma testemunha enviou ao FBI uma publicação em que ele mostrava, por meio do Instagram, um "pedaço de metal de uma estrutura desconhecida do Capitólio" —segundo Camargo, um objeto que ele pegou para levar de recordação.

No dia seguinte, outras publicações de Camargo foram enviadas aos agentes federais. Nas imagens, ele aparece em vários comícios ao longo do dia em Washington. Depois, os vídeos o mostram subindo a escadaria do Capitólio ao lado de uma multidão. Por fim, Camargo aparece com outras pessoas tentando forçar a entrada no edifício pela porta que estava sendo protegida pelos agentes de segurança.

A denúncia apresenta ainda a reprodução de uma publicação no Facebook em que Camargo pede desculpas a familiares, amigos e a todo o povo dos EUA por suas "ações no Capitólio". "Estive envolvido nos eventos que ocorreram hoje cedo. Eu vou sair das redes sociais em um futuro próximo e cooperar com todas as investigações que possam surgir de meu envolvimento. Peço desculpas a todas as pessoas que decepcionei, pois isso não é quem eu sou nem o que defendo", escreveu.

Nos bastidores, porém, Camargo não está arrependido do que fez, segundo a reportagem apurou. Uma pessoa próxima ouvida pela Folha disse que a publicação de posts relacionados à invasão foi uma bobagem e que, ainda que seja preso, manterá a ideia de que lutou por aquilo em que acreditava.

O agente especial do FBI Michael Attard, que assina a denúncia, diz no documento que falou com Camargo por telefone. Segundo Attard, o jovem não se mostrou disposto a cooperar, disse ao agente que não tinha informações a fornecer e ainda questionou sua lealdade à Constituição dos EUA.

Horas depois, Camargo fez uma nova publicação no Facebook. "Acabei de falar com um agente do FBI. Acredito que fui inocentado", escreveu ele, demonstrando uma percepção equivocada do próprio caso.

A Folha entrou em contato com Camargo, mas não obteve respostas até a publicação desta reportagem.

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