Israel adia audiência sobre despejo de palestinos em Jerusalém em dia de novos confrontos

Papa Francisco pede fim da violência na cidade, após atos deixarem centenas de feridos

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Jerusalém | Reuters

A Suprema Corte de Israel adiou neste domingo (9) a audiência sobre o despejo de famílias palestinas de uma área disputada em Jerusalém. A sessão estava prevista para ocorrer nesta segunda (10), e a possibilidade de retirada dos moradores desencadeou uma onda de tensões e confrontos no país.

A audiência deve ocorrer em até 30 dias, dando mais tempo para o governo tentar acalmar os ânimos —as tensões aumentaram durante o mês sagrado do ramadã, e centenas de pessoas ficaram feridas nos enfrentamentos entre polícia e palestinos desde sexta-feira (7), incluindo um bebê de um ano.

A disputa central envolve a retirada de quatro famílias palestinas do bairro de Sheik Jarrah que, por decisão do tribunal regional de Jerusalém, devem devolver os terrenos a famílias judias —o local abriga um espaço sagrado para os judeus: a tumba de Simeão, o Justo, sumo sacerdote por volta do ano 300 a.C.

Pela lei de Israel, se judeus provarem que suas famílias viviam em Jerusalém Oriental antes de 1948, eles podem pedir a restituição de seus direitos de propriedade.

A regra é contestada pelos palestinos, e o governo de Israel diz que eles estão "tratando uma disputa imobiliária entre partes privadas como uma causa nacionalista, para incitar a violência".

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​Um tribunal de primeira instância decidiu a favor da reivindicação dos colonos judeus sobre as terras, mas em um movimento legal de última hora, os apelantes pediram ao tribunal para buscar a opinião do procurador-geral Avichai Mandelblit, abrindo caminho para o adiamento da audiência de segunda-feira.

O Alto Comissariado da ONU para os Direitos Humanos, a União Europeia e o governo dos EUA expressaram apreensão com a retirada dos moradores e pediram o fim das expulsões.

"Estou muito otimista com a decisão do tribunal", disse Nabil al-Kurd, 77, um dos palestinos que enfrentam o despejo. "Estamos sentados aqui em nosso país, em nossa terra. Não vamos desistir."

Após a refeição que quebra o jejum diário do ramadã, ele e um grupo de anciãos assistiram a jovens manifestantes palestinos cantarem e gritarem slogans para os colonos do outro lado da estrada. "Liberdade, liberdade" e "Palestina é árabe" eram frases repetidas por eles.

Os israelenses fizeram o mesmo, cantando e dançando, com a polícia com equipamento de choque e a cavalo os mantendo separados. Na casa dos colonos do outro lado da rua, Yaakov, 42, disse que o adiamento do tribunal foi "uma vergonha". "Eles deveriam ter tomado uma posição e mostrado que qualquer pessoa que comete atos violentos em Israel é punido imediatamente e não é recompensado por seu mau comportamento", disse ele, que não quis que o sobrenome fosse divulgado.

O clima de alta tensão resultou em mais confrontos na noite deste domingo, que se espalharam por diferentes cidades do país. Palestinos e policiais israelenses se enfrentaram em partes de Jerusalém Oriental, incluindo em Sheikh Jarrah e fora da Cidade Velha murada, bem como em Haifa, no norte.

Os manifestantes atiraram pedras e acenderam fogueiras, enquanto forças de segurança usaram granadas de choque para repeli-los. Além disso, grupos palestinos na Faixa de Gaza dispararam pelo menos quatro foguetes contra Israel, disseram os militares. Não há relatos de vítimas.

Também neste domingo, a Jordânia condenou os "ataques bárbaros" de Israel na mesquita de al-Aqsa, palco de violência na noite de sábado (8), e disse que buscará o aumento da pressão internacional.

Manifestantes palestinos queimam pneus na Faixa de Gaza, enquanto forças de segurança atiram bombas de efeito moral
Manifestantes palestinos queimam pneus na Faixa de Gaza, enquanto forças de segurança atiram bombas de efeito moral - Mohammed Abed - 8.mai.21/AFP

O papa Francisco também se pronunciou, pedindo o fim dos conflitos e afirmando que as duas partes devem buscar soluções para respeitar a identidade multicultural da cidade sagrada. "Violência gera violência", disse ele a peregrinos reunidos na praça São Pedro, no Vaticano.

Uma marcha de jovens israelenses em direção à Cidade Velha, nesta segunda, para marcar o que Israel celebra como a reunificação de Jerusalém, em 1967, pode ser a faísca para novos episódios de atrito e violência. Também na segunda, o Conselho de Segurança da ONU deve se reunir para discutir a crise.

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