Descrição de chapéu oriente médio

Novos confrontos entre palestinos e a polícia deixam 80 feridos em Jerusalém

Conflitos ocorrem um dia após protesto contra despejo de famílias em bairro em disputa com judeus

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Jerusalém | Reuters

Após confrontos que deixaram mais de 200 feridos, palestinos e policiais israelenses voltaram a se enfrentar neste sábado (8) em Jerusalém, enquanto dezenas de milhares de pessoas rezavam na mesquita de Al-Aqsa na noite sagrada de Laylat al-Qadr.

Jovens palestinos atiraram pedras, acenderam fogueiras e derrubaram barreiras policiais nas ruas que levavam aos portões murados da Cidade Velha, enquanto agentes a cavalo e em equipamento de choque usavam granadas de efeito moral e jatos de água.

Pelo menos 80 pessoas ficaram feridas, incluindo um menor de idade e um bebê de um ano, e 11 foram levadas ao hospital, de acordo com o Crescente Vermelho Palestino (equivalente à Cruz Vermelha em países muçulmanos). Segundo a polícia israelense, ao menos um policial se machucou.

“Eles não querem que rezemos. Todo dia tem briga. Todo dia tem confronto. Todo dia tem problema”, disse Mahmoud al-Marbua, 27, apontando para os policiais que corriam atrás de outros jovens.

As tensões aumentaram durante o mês sagrado do ramadã e em meio a protestos contra o despejo de palestinos em terras reivindicadas por judeus. Imagens de televisão mostraram ônibus de fiéis muçulmanos de outras cidades sendo parados pela polícia na rodovia a caminho de Jerusalém.

A notícia do bloqueio se espalhou pelas redes sociais, atraindo centenas de jovens. Dezenas de carros dirigiram na direção contrária pelas vazias vielas que levavam à cidade, pegando outros muçulmanos que haviam abandonado seus próprios veículos para iniciar a subida a pé. Alguns gritavam em árabe: “Com nossas almas e nosso sangue, vamos redimir você, Al-Aqsa!”.

A polícia alegou que estava parando apenas os que seguiam em direção aos distúrbios. O chefe da polícia, Yaakov Shabtai, disse ter reforçado o monitoramento na cidade. “O direito de protestar será preservado, mas os tumultos serão respondidos com firmeza e com tolerância zero.” O primeiro-ministro Binyamin Netanyahu também afirmou em nota que a lei e a ordem seriam mantidas, assim como o direito de culto.

Ao mesmo tempo, na Faixa de Gaza, centenas de manifestantes palestinos se reuniram ao longo da fronteira. De acordo com militares israelenses, uma multidão incendiou pneus e atirou fogos de artifício em direção às tropas. "Saudamos o pessoal de Al-Aqsa, que se opõe à arrogância dos sionistas”, disse Moussa Abu Marzouk, um dos líderes do grupo Hamas, que governa Gaza, em suas redes sociais.

Manifestantes palestinos queimam pneus na Faixa de Gaza
Manifestantes palestinos queimam pneus na Faixa de Gaza - Mahmud Hams - 8.mai.2021/AFP

Na sexta (7), houve confrontos na Esplanada das Mesquitas, durante um protesto que pedia o fim dos despejos em áreas em disputa com judeus. Ao menos 205 palestinos e 18 policiais ficaram feridos.

A data coincidiu com a celebração do dia de Quds (nome árabe para Jerusalém), em que muçulmanos costumam protestar para reafirmar o direito reivindicado por palestinos sobre a cidade.

A polícia usou jatos de água e veículos blindados para dispersar os manifestantes que se reuniam perto das casas de famílias ameaçadas de expulsão. Segundo Wassem Bard, porta-voz da polícia de Israel, as forças de segurança apenas reagiram a ataques, já que, segundo ele, pessoas lançaram pedras, garrafas e outros objetos contra os agentes.

O presidente da Turquia, Recep Tayyip Erdogan, chamou Israel de um Estado “terrorista cruel” em um discurso na noite deste sábado em Ancara, afirmando que o país “ataca de maneira selvagem os muçulmanos em Jerusalém”.

Lá Fora

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A cidade vive dias de tensão devido aos planos de retirada de famílias palestinas do bairro de Sheik Jarrah —o local abriga um espaço sagrado para os judeus: a tumba de Simeão, o Justo, sumo sacerdote por volta do ano 300 a.C. A disputa central envolve a retirada de quatro famílias palestinas que, por decisão do tribunal regional de Jerusalém, devem devolver os terrenos a famílias judias.

Pela lei de Israel, se judeus provarem que suas famílias viviam em Jerusalém Oriental antes de 1948, eles podem pedir a restituição de seus direitos de propriedade. A regra é contestada pelos palestinos.

O Alto Comissariado da ONU para os Direitos Humanos diz que os despejos violariam os compromissos internacionais de Israel em relação aos palestinos e pede o fim das expulsões de moradores.

A União Europeia e os governos de Kuwait e Jordânia expressaram apreensão com a retirada dos moradores, e o governo dos EUA, que afirmou estar profundamente preocupado com as tensões em Jerusalém, pediu a suspensão de atos unilaterais, como a expulsão de famílias. Já o governo de Israel disse que os palestinos estão "tratando uma disputa imobiliária entre partes privadas como uma causa nacionalista, para incitar a violência".

No fim de abril, a ONG Human Rights Watch publicou um relatório em que acusa o Estado de Israel de cometer crimes de apartheid e perseguição contra árabes e palestinos, o que, no direito internacional, equivale a crimes contra a humanidade.

No documento com mais de 200 páginas, a ONG aponta restrições impostas à movimentação dos palestinos e a apreensão de terras para a construção de assentamentos em territórios ocupados desde a guerra de 1967 como exemplos dos crimes cometidos.

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