A ditadura da Belarus tirou do ar o principal site jornalístico independente do país, o Tut.by, como parte de uma prolongada operação de repressão a imprensa, ativistas, políticos da oposição e cidadãos que se manifestam contra o regime. O Ministério da Informação afirmou que o site foi bloqueado "devido a várias violações da lei de mídia, incluindo a publicação de informações proibidas".
Funcionários do Departamento de Investigações Financeiras do Comitê de Controle do Estado (DFR, órgão que já foi usado contra líderes da oposição) também revistaram a Redação do veículo, que está sendo processado por “evasão de impostos e taxas numa escala especialmente grande”, segundo a ditadura.
De acordo com repórteres do Tut.by, todos os equipamentos da empresa, como computadores e telefones —inclusive os que não funcionam—, foram confiscados, e cartões bancários foram apreendidos.
Desde agosto de 2020, quando estouraram protestos contra a reeleição —considerada fraudada por entidades internacionais— de Alexandr Lukachenko, cerca de 70 sites de veículos de informação e entidades de direitos civis já foram fechados pela ditadura.
Jornalistas belarussos e estrangeiros foram espancados e detidos durante a cobertura de manifestações contra Lukachenko, e credenciais de correspondentes estrangeiros foram revogadas. Segundo a Associação de Jornalistas da Belarus, 521 jornalistas foram detidos no país, dos quais 16 ainda estão na cadeia, 11 deles sob acusações criminais.
Em fevereiro, as repórteres Daria Chulstova e Katerina Andreieva, do canal de TV de oposição Belsat, com sede na Polônia, foram condenadas a dois anos de prisão, por “promover agitação” ao cobrir um protesto.
No sábado, os repórteres Alexander Burakov e Vladimir Laptsevich foram detidos em frente a um tribunal na cidade de Mogilev, no leste do país, onde cobriam o julgamento do político da oposição Pavel Severinets, preso desde junho do ano passado.
Nesta segunda, o repórter do Tut.by Liubov Kasperovich foi condenado a 15 dias de prisão administrativa por “participar de um evento de massa não registrado”, e a repórter investigativa Katerina Borisevich foi transferida de Minsk para Gomes dois dias antes de sua libertação —ela foi condenada em 2 de março, por reportagem que desmentia versão oficial sobre a morte de um manifestante.
Em rede social, a líder da principal frente de oposição a Lukachenko nas eleições, Svetlana Tikhanovskaia, chamou o ato do regime de “assassinato premeditado dos meios de comunicação”.
Ela afirmou estar em contato com a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen. “Exigimos uma resposta urgente da UE, o lançamento urgente de um programa de apoio à mídia independente, proteção de jornalistas e ajuda para continuar trabalhando, apesar da repressão”, disse em aplicativo de comunicação.
NÚMEROS DA REPRESSÃO
Desde o início da campanha eleitoral presidencial, em maio de 2020
- 2.300 processos criminais contra oponentes políticos, ativistas e manifestantes
- 631 julgamentos de processos criminais contra manifestantes, com mais de 400 condenações
- 332 processos criminais por difamação, injúria a funcionários públicos e policiais
- 377 presos políticos em centros de detenção
- 522 detenções de jornalistas, 16 ainda na cadeia
- 97 jornalistas condenados a prisão administrativa
- 62 jornalistas agredidos
- 3 jornalistas condenadas criminalmente
Fontes: Associação de Jornalismo da Belarus, Viazna
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