Brasil se abstém, e só EUA e Israel apoiam bloqueio a Cuba

Pela 29ª vez, ONU condena embargo americano imposto à ilha caribenha há quase seis décadas

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São Paulo

Em um novo recuo na agenda ultraconservadora imposta pelo ex-chanceler brasileiro Ernesto Araújo, o Brasil se absteve na votação da ONU nesta quarta-feira (23) que decidiu condenar o embargo americano imposto a Cuba há quase seis décadas.

Pela 29ª vez, a maioria dos países que integram a organização aprovou a resolução com 184 votos favoráveis, dois contrários, de EUA e Israel, e três abstenções —além do Brasil, Ucrânia e Colômbia também não votaram.

Manifestantes contrários ao governo cubano protestam do lado de fora da ONU, em Nova York
Manifestantes contrários ao governo cubano protestam do lado de fora da ONU, em Nova York - Timothy A. Clary - 23.jun.21/AFP

O posicionamento brasileiro já era esperado, com a saída de Donald Trump da Presidência dos EUA e de Ernesto do Itamaraty. Na última vez que a resolução foi apresentada, em 2019, o governo Jair Bolsonaro rompeu uma tradição de 27 anos e votou a favor do embargo. Apenas Brasil, Israel e Estados Unidos adotaram essa posição, contra 187 países. Colômbia e Ucrânia se abstiveram.

Na ocasião, o corpo técnico do Itamaraty tentou até o último minuto convencer o então chanceler a não se alinhar ao governo Trump na votação. O principal argumento apresentado à época foi que a resolução não significava um apoio ou condenação à ditadura cubana, mas o reconhecimento de que sanções unilaterais como a aplicada pelos EUA são ilegais no âmbito do direito internacional.

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O histórico de votos favoráveis do Brasil à resolução também é justificado pela defesa do país ao princípio de não ingerência em outras nações. Foi inclusive levantado que o Brasil não deveria votar contra a resolução porque o próprio país poderia se prejudicar no futuro —por exemplo, na possibilidade de sanções econômicas devido à política ambiental na Amazônia.

Apesar do apelo de diplomatas que atuam na área —que defenderam a abstenção do país—, Ernesto determinou que o Itamaraty apoiasse a linha dos EUA. À época, o então chanceler disse que era preciso condenar a influência cubana no regime chavista da Venezuela e em outros países latino-americanos.

A pandemia da Covid adiou a análise da resolução pela ONU em 2020 —desde 1992 a votação ocorria anualmente. Os cubanos aproveitaram o contexto de crise sanitária para só apresentar a pauta depois da eleição nos Estados Unidos, apostando na derrota de Trump.

Após a votação, o chanceler cubano, Bruno Rodríguez Padilla, defendeu o fim do embargo, afirmando que, “assim como o vírus, o bloqueio sufoca e mata”. Já o coordenador político da missão americana na ONU, Rodney Hunter, disse que os EUA “estão com todos na defesa da liberdade de Cuba” e que a população da ilha merece “o direito à liberdade de expressão, reunião e cultura”. “Nenhum governo deve silenciar seus críticos com violações de seus direitos humanos. Os Estados Unidos são contra essa resolução.”

Em vigor desde 1962, o embargo foi aprovado por lei, e só o Congresso americano pode acabar com a medida.

Com AFP

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