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Mais baratos que Uber, táxis de Nova York voltam a ganhar público

Com diminuição de casos de Covid-19, metrô também volta a angariar usuários na cidade

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Alyson Krueger
Nova York | The New York Times

"É tão prazeroso chamar um táxi amarelo", diz Jelani Wiltshire, de Staten Island, bairro no sudeste de Nova York. "Às vezes eles dão meia-volta para te apanhar. Ou param o trânsito para você subir. Entrar num deles parece uma vitória", afirma ele.

Wiltshire, 23, trabalha na companhia de navegação Classic Harbor Line, servindo bebidas e salgadinhos para as pessoas que fazem passeios em grupo ou alugam barcos. Para chegar ao trabalho, pega a balsa de Staten Island até o centro de Manhattan e então, muitas vezes, um carro até o cais no rio Hudson.

Motoristas de táxi de Nova York participam de manifestação que pede o perdão de dívidas por causa da pandemia
Motoristas de táxi de Nova York participam de manifestação que pede o perdão de dívidas por causa da pandemia - Angela Weiss - 10.fev.21/AFP

Antes da pandemia, costumava usar carros por aplicativo. "O Uber era tão comum e conveniente", diz ele. Mas recentemente os preços do serviço aumentaram muito, e nova-iorquinos como Wiltshire perceberam.

"Houve uma noite em que o Uber ia custar US$ 35 (R$ 176) e levaria dez minutos para chegar", conta. "Eu pensei: por que não chamar um táxi amarelo?" A viagem saiu por US$ 25 (R$ 126), incluindo gorjeta, e o motorista era comunicativo e animado, lembrou Wiltshire. "Ele me contou que estava estudando e queria ser professor. Aquele completo desconhecido se abriu para mim."

É uma experiência que muitos nova-iorquinos, distraídos e com olhos fixos no telefone, consideravam normal antes da pandemia, enquanto os motoristas de táxi sofriam financeiramente devido ao preço inflacionado do registro oficial que os permite atuar na cidade —além da concorrência das novas opções de transporte. Wiltshire se converteu. "Agora só penso em pegar táxis amarelos", afirmou.

Enquanto a cidade reabre o comércio, o transporte à moda antiga está sendo aceito novamente, dos táxis amarelos ao metrô. Parece que foi necessária uma pandemia para as pessoas acreditarem —depois de anos dos carros utilitários esportivos controlados por aplicativos, bicicletas elétricas e scooters— quão acessíveis, eficientes e às vezes agradáveis são os antigos modos de circular pela cidade.

"Estamos certamente vendo um aumento na demanda de passageiros e de motoristas", afirmou Aloysee Heredia Jarmoszuk, comissária e presidente da Comissão de Táxis e Limusines da Cidade de Nova York. "Os táxis estão fazendo entre 15 e 22 viagens por turno agora. Antes da Covid, devido à saturação do mercado, alguns turnos só davam 11 viagens."

A saturação definitivamente não é um problema para os táxis que restam em Nova York, que aceitam todos os negócios que aparecem. A pandemia obrigou muitos motoristas, já em situação difícil, a parar de trabalhar, o que resultou em menos táxis nas ruas.

"Hoje, aproximadamente a metade da frota está em operação", o que significa cerca de 100 mil veículos, segundo Allan Fromberg, porta-voz da comissão, que também se disse otimista sobre o futuro próximo. "A cada semana, com o aumento da demanda de passageiros, mais táxis estão em operação."

Por isso faz sentido que os poucos e felizes táxis amarelos nas ruas estejam ganhando mais. As viagens aumentaram 48% nos últimos três meses e "estão capturando mais participação no mercado hoje do que tinham antes da pandemia", explicou Fromberg. O metrô, antes alvo da indignação de muitos usuários, também está recebendo um pouco de amor. Com a queda nos números do vírus, a frequência aumentou.

Entre abril e maio, o número de passageiros cresceu pelo menos 500 mil, segundo Shams Tarek, porta-voz da Autoridade Metropolitana de Transporte. "Estamos animados", disse ele.

Muitos nova-iorquinos —talvez com um toque de amnésia em relação aos vagões lotados e malcheirosos, atrasos na construção e trens parados em túneis escuros— estão entusiasmados por terem o sistema de volta. "Estou tentando economizar uns trocados", revelou Nico Masters, 26, gerente de contabilidade que mora em Manhattan e usa metrô e táxis com frequência. "Para mim, tudo se resume ao preço."

Com uma namorada em Prospect Heights, no Brooklyn, e um bico como carpinteiro em Red Hook, Masters muitas vezes dependia de viagens compartilhadas, mas elas foram canceladas durante a Covid e ainda não voltaram. No último ano, ele às vezes pegou um Uber ou Lyft, mas nos últimos meses percebeu que as tarifas aumentaram. Um dia ele teve a ideia de chamar um táxi. "Foi glorioso", afirmou.

Heredia Jarmoszuk diz que a comissão agora está examinando por que os táxis estão significativamente mais baratos que serviços como Uber (alguns anos atrás era o contrário). "A experiência de alguns passageiros é que os táxis amarelos hoje estão mais acessíveis", disse ela. "É algo que temos de observar. Precisamos garantir que nossos motoristas ganhem salários adequados e sejam competitivos."

Masters disse que o preço continuará sendo uma prioridade para ele. "Se o Uber voltar com o Uber Pool, acho que terei de optar por ele", cogitou. Mas enquanto isso ele aprecia as viagens de táxi. Assim como Wiltshire, ele adora a emoção —praticamente retrô hoje em dia— de chamar um carro na rua. "Você levanta o braço e pronto, o levam embora. Com um Uber ou Lyft, você sabe exatamente quando eles vão chegar."

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O metrô, enquanto isso, está voltando à sua condição de lata de sardinhas conforme mais pessoas são vacinadas e retornam aos escritórios. Uma série de ataques recentes perturbou alguns usuários, mas não está claro se a criminalidade no metrô de Nova York realmente piorou. A maioria dos passageiros parece grata por voltar ao subterrâneo.

Alison Rand tomou o metrô novamente pela primeira vez em maio para o aniversário de sua filha, viajando de sua casa em Flatbush, no Brooklyn, até Chinatown, em Manhattan. "A conveniência de pegar o metrô e atravessar a cidade rapidamente... É tão fácil", disse ela, parecendo surpresa com a eficácia de tudo.

É claro, alguns nova-iorquinos não precisaram do tempo parado para apreciar o metrô, nem puderam tirar uma folga, como os trabalhadores essenciais durante a pandemia. Jamie Smarr, que trabalha numa empresa que desenvolve moradias acessíveis, não parou de pegar o trem, mesmo durante o lockdown.

"Eu cresci no sul, onde você não faz nada sem um carro", disse ele. "Por isso tenho um apreço imediato por chegar a um lugar em 30 minutos sem um." ​

Tradução de Luiz Roberto M. Gonçalves 

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