O governo da Tailândia garantiu há meses à população que um plano de distribuir gratuitamente vacinas contra o coronavírus, fabricadas no país, entraria em ação no início de junho. Assim, cerca de 70% da população nacional seria inoculada até o fim do ano, segundo as autoridades de saúde.
Então começaram os atrasos, justamente quando o país enfrentava o pior surto de coronavírus desde o início da pandemia. Na noite de domingo (13), quase uma semana depois que o programa de vacinação deveria ter começado em ritmo acelerado, os hospitais de Bancoc anunciaram que os horários para imunização já confirmados tinham sido cancelados.
Não houve explicação sobre o motivo do cancelamento nem quando as aplicações serão remarcadas.
O efeito do que parece ser uma escassez maciça de vacinas feitas na Tailândia se irradia para outras partes da região, onde as campanhas de inoculação estão muito atrasadas em relação às de países ocidentais. Os governos de Malásia, Filipinas e Taiwan anunciaram a redução da distribuição de imunizantes devido às remessas tailandesas, entregues em números abaixo do esperado.
(A Tailândia negou as afirmações de que a culpa é dela.)
No ano passado, a Tailândia foi designada polo regional da produção de vacinas da AstraZeneca. Um contrato foi fechado com a Siam Bioscience, farmacêutica controlada pelo rei da Tailândia e sem experiência prévia na fabricação de imunizantes.
O primeiro-ministro do país, Prayuth Chan-ocha, advertiu que críticas à empresa poderiam ser consideradas ofensas criminosas sob as rígidas leis de difamação do reino. Um político de oposição que questionou como a Siam Bioscience conseguiu o contrato foi acusado de lesa-majestade neste ano.
Embora a Tailândia fosse o primeiro país a registrar um caso de coronavírus fora da China, em janeiro de 2020, ela conteve a disseminação do vírus durante a maior parte do ano. No final de 2020, tinha registrado, ao todo, menos de 5.000 casos de coronavírus. Mas hoje a Tailândia lida com milhares de novos casos por dia. Nesta segunda-feira (14), somente cerca de 23% da população tinha sido totalmente imunizada.
Phatorn Chingduang, funcionário de uma empresa de navegação, deveria receber a primeira dose da AstraZeneca no sábado, juntamente com outras 15 pessoas da companhia em que trabalha. Na véspera da vacinação, recebeu uma mensagem cancelando a hora marcada. "O governo não faz o bastante", disse Phatorn. "Esse drama da vacina é muito ruim."
As recriminações reverberam. Ao menos cinco hospitais de Bangladesh disseram na segunda não ter doses suficientes. Todas as vacinas da Tailândia são distribuídas pelo Ministério da Saúde do país.
A pasta retrucou, afirmando ter enviado as doses prometidas para as autoridades locais, responsáveis por alocações específicas a cada hospital. Imunizantes para pelo menos 50 milhões de pessoas foram solicitados, disse Opas Karnkawinpong, diretor do departamento de controle de doenças, nesta segunda.
No mesmo dia, Aswin Kwanmuang, governador de Bancoc, referiu-se a "dificuldades técnicas" e disse que a vacinação em massa na capital seria suspensa nesta terça-feira. "Bancoc retomará a vacinação assim que recebermos as doses", disse ele.
Nesta segunda, enquanto fábricas e prisões na área de Bancoc lutavam com surtos crescentes, as autoridades disseram que parques e museus reabririam na capital, afrouxando um lockdown de meses.
Também retomarão os negócios os salões de tatuagem e de massagem.
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