Descrição de chapéu Governo Biden taleban

De Bush a Biden, o que mudou no discurso americano sobre o Afeganistão

Depois de 20 anos, veja como se opõem pronunciamentos da invasão e da retirada

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São Paulo

Pouco menos de 20 anos separam o discurso do então presidente George W. Bush na invasão americana do Afeganistão, em 7 de outubro de 2001, e o de Joe Biden, atual líder dos EUA, nesta segunda (16), após a retomada do poder pelo Taleban, com a conquista da capital, Cabul.

Nesse período, não só o presidente americano passou de um republicano para um democrata —com mais um de cada partido no poder entre eles—, como a missão do país parece ter virado do avesso.

George W. Bush discursa durante cerimônia em homenagem às vítimas do ataque terrorista ao Pentágono, em 11 de setembro de 2001
George W. Bush discursa durante cerimônia em homenagem às vítimas do ataque terrorista ao Pentágono, em 11 de setembro de 2001 - Kevin Lamarque - 11.out.01/Reuters

Bush prometeu que, além de lutar contra os terroristas, os americanos entregariam alimentos, remédios e suprimentos, destacando que “o povo oprimido do Afeganistão" conheceria o que chamou de generosidade dos EUA. Biden, por sua vez, ressaltou que o “único interesse nacional vital” no país era e é “evitar um ataque terrorista em território americano”.

O democrata mostrou que o rápido avanço do Taleban nos últimos dias foi inesperado, mas destacou que, com a decisão da retirada das tropas tomada, a missão dependia agora dos militares afegãos.

“Tropas americanas não devem lutar e morrer em uma guerra que os afegãos não querem lutar.”

Em 2001, Bush encerrou seu discurso com um compromisso: “Não vacilaremos, não nos cansaremos, não desistiremos e não fracassaremos. A paz e a liberdade prevalecerão”. Os EUA, 20 anos depois, deixam o Afeganistão. O que vai se dar com a paz e a liberdade, os próximos acontecimentos dirão.

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Leia trechos dos discursos

George W. Bush

7 de outubro de 2001

Inicialmente, os terroristas podem se enterrar mais fundo em cavernas e outros esconderijos protegidos. Nossa ação militar tem por objetivo abrir caminho a operações sustentadas, abrangentes e incansáveis para forçar que saiam e levá-los à Justiça. Ao mesmo tempo, o povo oprimido do Afeganistão conhecerá a generosidade dos Estados Unidos e de nossos aliados. À medida que atacarmos alvos militares, também entregaremos alimentos, remédios e suprimentos aos famintos e sofridos homens, mulheres e crianças do Afeganistão

“Esta ação militar é parte de nossa campanha contra o terrorismo, mais uma frente em uma guerra que já vem sendo travada por meios diplomáticos, inteligência, congelamento de ativos financeiros e detenção de terroristas conhecidos pelas autoridades policiais de 38 países. Dada a natureza e o alcance de nossos inimigos, venceremos este conflito por meio da paciente acumulação de sucessos, e enfrentando uma série de desafios com determinação, força de vontade e propósito."

"Somos um país pacífico. Mas, como aprendemos de forma tão súbita e trágica, não pode haver paz em um mundo de terrorismo súbito. Face à nova ameaça atual, a única maneira de buscar a paz é buscar por aqueles que a ameaçam. Não pedimos esta missão, mas a cumpriremos."

A batalha já começou, em muitas frentes. Não vacilaremos, não nos cansaremos, não desistiremos e não fracassaremos. A paz e a liberdade prevalecerão.


Joe Biden, presidente dos EUA

16 de agosto de 2021

Nossa missão no Afeganistão nunca supôs a construção de uma nação. Nunca foi a de criar uma democracia unificada e centralizada. Nosso único interesse vital nacional no Afeganistão permanece hoje o que sempre foi: prevenir um ataque terrorista em território americano

"A verdade é que isso [avanço do Taleban] se desdobrou mais rapidamente do que prevíamos. E o que aconteceu? Líderes políticos afegãos desistiram e fugiram do país. Os militares afegãos desistiram, algumas vezes sem tentar lutar. Isso comprovou que não devemos estar lá. Tropas americanas não devem lutar e morrer em uma guerra que os afegãos não querem lutar."

"Conversei com Ashraf Ghani [presidente afegão que deixou o país no domingo]. Tivemos conversas francas. Avisei que o Afeganistão deveria estar pronto para lutar uma guerra civil, combater a corrupção e fazer negociações internas. Eles falharam em cumprir tudo isso."

Quantas gerações mais teríamos de enviar para lá? Não vou repetir erros do passado, de lutar em guerras sem fim que não tem a ver com os interesses dos EUA. Mantenho minha decisão. Não haveria uma hora certa para retirar as tropas do Afeganistão

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