Monumento em homenagem às navegações, Padrão dos Descobrimentos é vandalizado em Lisboa

Ponto turístico virou objeto de polêmica em meio a reflexões sobre passado colonial de Portugal

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Lisboa

Um dos principais pontos turísticos de Lisboa, o Padrão dos Descobrimentos —que exalta personagens da época das navegações e do começo da colonização portuguesa— foi vandalizado no último domingo (8).

Uma das laterais do monumento foi pichada com inscrições em inglês com erros ortográficos que dizem: “Velejando cegamente por dinheiro, a humanidade está se afogando em um mar escarlate”.

Padrão dos Descobrimentos, famoso ponto turístico de Lisboa, que foi vandalizado no domingo - Giuliana Miranda/Folhapress

O caso foi registrado pela PSP (Polícia de Segurança Pública) na manhã de domingo.

No começo da tarde desta segunda-feira (9), as inscrições, com cerca de 20 metros de comprimento, ainda não tinham sido apagadas. A maior parte dos turistas, no entanto, parecia ignorar o protesto e seguir normalmente o roteiro de selfies e passeios na região de Belém. De acordo com a agência Lusa, ainda não há suspeitos divulgados.

Em Portugal, o assunto tem movimentado as redes sociais e reacendeu o debate sobre o monumento.

Embora seja um dos cartões-postais mais conhecidos do país, o Padrão dos Descobrimentos é objeto de polêmica, especialmente em um momento em que Portugal se depara com reflexões sobre o legado de seu passado colonial.

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Instalado em frente ao rio Tejo, o monumento é uma espécie de caravela estilizada que reúne 32 estátuas. Segundo o site oficial, as imagens representam “alguns dos protagonistas da gesta ultramarina e da cultura da época, navegadores, cartógrafos, guerreiros, colonizadores, evangelizadores, cronistas e artistas, são retratados com os símbolos que os individualizam”.

Vasco da Gama, Pedro Álvares Cabral, Fernão de Magalhães e Luís de Camões estão entre os representados.

O Padrão dos Descobrimentos foi construído em 1940 inicialmente como um projeto temporário. A obra era parte da chamada exposição do Mundo Português, considerada por historiadores um dos marcos da propaganda nacionalista do ditador António Salazar.

Em 1960, o monumento foi reconstruído de forma definitiva e, em 1985, inaugurado como Centro Cultural das Descobertas.

Com o aumento do debate sobre o passado colonial português, a obra passou a ser mais questionada. Em fevereiro, o deputado Ascenso Simões, do Partido Socialista (atualmente no governo), defendeu a destruição do Padrão dos Descobrimentos em um artigo publicado no jornal Público.

Outros políticos e personalidades, por outro lado, manifestam-se em defesa do monumento e de outras representações das conquistas da chamada Era das Navegações de Portugal.

Também no começo do ano, quando Lisboa debatia a remoção de brasões da época colonial da chamada Praça do Império, que fica em frente ao Padrão dos Descobrimentos, até ex-presidentes entraram na discussão.

Aníbal Cavaco Silva (2006-2016) e António Ramalho Eanes (1976-1986) afirmaram publicamente ser contrários à saída dos brasões.

Em junho de 2020, em meio à onda global de protestos do movimento Black Lives Matter, uma estátua do padre jesuíta António Vieira (1608-1697) também foi vandalizada em Lisboa. O monumento recebeu um banho de tinta vermelha e teve a palavra “descoloniza” pichada em sua base.

António Vieira, um dos mais influentes jesuítas do século 17, viveu durante vários anos no Brasil atuando na catequização de indígenas. Uma corrente de historiadores atribui a ele, paralelamente à relativa defesa dos indígenas da escravização, uma certa condescendência com a situação dos africanos.

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