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Presidente argentino é indiciado por realizar festa durante fase dura da quarentena

Comemoração do aniversário da primeira-dama viola decreto que o próprio Fernández assinou e pode custar votos

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Buenos Aires

Em mais um episódio do principal escândalo político da Argentina, o presidente Alberto Fernández foi indiciado devido à realização da festa de aniversário da primeira-dama, Fabiola Yáñez, em 14 de julho de 2020, quando estava em vigência uma dura quarentena na região metropolitana de Buenos Aires.

O caso, conhecido como Olivos-gate, por ter ocorrido na residência oficial de Olivos, tem causado revolta entre argentinos e esquenta o debate político do país a apenas duas semanas da realização das primárias para as eleições legislativas argentinas, marcadas para 12 de setembro.

Alberto Fernández (à esq.), presidente da Argentina, participa de festa nos meses iniciais da pandemia, quando esse tipo de evento estava proibido no país - @gonziver no Twitter

A festa, que reuniu ao menos 13 pessoas, aconteceu em segredo e foi revelada apenas em 5 de agosto deste ano, quando fotos do encontro vazaram para a imprensa. Como a primeira imagem divulgada mostrava um número menor de participantes, Fernández chegou a sugerir que se tratava de uma manipulação ou que o registro era de um encontro realizado em data anterior à pandemia.

Poucos dias depois, porém, surgiu uma outra fotografia, mais reveladora, que mostrava 13 convidados comemorando os 39 anos de Fabíola, com bolo, jantar e garçons, sem deixar dúvidas de que se a reunião foi na residência oficial e na data indicada. Fernández, então, voltou atrás e pediu desculpas.

Naquela fase da quarentena, os habitantes da Grande Buenos Aires não podiam se reunir na casa de outras pessoas, e só trabalhadores essenciais podiam circular. O comércio e as escolas estavam fechados e, para ir a mais de 500 metros de casa ou usar transporte público, era necessário mostrar um certificado.

Nesta quinta-feira (26), o promotor federal Ramiro González acusou Fernández e a mulher de terem violado o decreto presidencial, e ambos terão de enfrentar um processo. Se for considerado culpado, o presidente argentino pode ser condenado a uma pena de 6 meses a dois anos de prisão por descumprir a própria regra que estabeleceu e por colocar em risco a saúde pública.

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Também nesta quinta, Fernández enviou ao juiz Sebastián Casanello, responsável pelo processo, um pedido de absolvição, com a proposta de doar ao Instituto Malbrán, um laboratório que realiza pesquisas e testes de coronavírus, a metade de seu salário por quatro meses. No texto, afirma que "a conduta não se enquadra numa figura jurídica penal substantiva, e não afeta meu bom nome e a honra de que gozo".

O argumento que o mandatário desenvolve em 36 páginas é o de que, como não houve contaminações no encontro, não houve delito. "Não foi infringida nenhuma medida sanitária, afinal não houve propagação do vírus Sars-Cov-2." O juiz não se manifestou.

As pesquisas eleitorais para as primárias do dia 12 de setembro e para as legislativas de 14 de novembro indicam uma competição acirrada. Embora a coalizão governista Frente de Todos lidere nas sondagens, sua principal opositora, a Juntos por el Cambio, do ex-presidente Mauricio Macri, vem crescendo. Segundo pesquisa da Rouvier & Asociados, os governistas hoje têm 36,7%, e os opositores, 29,5%.

Já a aprovação da gestão de Fernández vem caindo e chegou a 30%, de acordo com levantamento D’Alessio/Berensztein. Para 37% do eleitorado, o escândalo da festa influenciará o voto.

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