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Presidente do Peru enfrenta primeira prova de fogo no Congresso

Ministros escolhidos por Pedro Castillo passarão por voto de confiança no Parlamento

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Buenos Aires

O presidente do Peru, Pedro Castillo, passa por sua primeira prova de fogo nesta quinta (26), quando o premiê Guido Bellido Ugarte apresentará, junto aos outros ministros, as principais linhas da nova gestão ao Congresso. Na sequência, os parlamentares decidem se aprovam ou rejeitam os planos do Executivo por meio de um voto de confiança. São necessários 66 apoios para qualquer uma das opções.

Caso seja aprovado, o gabinete pode seguir atuando como planejado. Caso contrário, os ministros têm de se demitir, e o presidente deve escolher os sucessores dentro de um prazo de 72 horas.

Presidente do Peru, Pedro Castillo, durante cerimônia que reconhece o mandatário como chefe das Forças Armadas
Presidente do Peru, Pedro Castillo, durante cerimônia que reconhece o mandatário como chefe das Forças Armadas - Alberto Orbegoso - 5.ago.21/Divulgação Presidência do Peru/AFP

O ambiente é de incerteza, uma vez que têm havido fricções entre o Executivo e o Legislativo. Apesar de ter a maior bancada do Congresso, com 37 congressistas, o partido de Castillo, o Perú Libre, não possui maioria. A segunda maior legenda é o direitista Ação Popular, com 24 cadeiras.

A escolha de Bellido para ser primeiro-ministro, por exemplo, provocou espanto entre parlamentares, e há inclusive um pedido para que ele dê explicações sobre as ações a que responde na Justiça, por lavagem de dinheiro e apologia do terrorismo. Antes de ser eleito, o premiê deu declarações em defesa dos guerrilheiros do Sendero Luminoso —o processo foi suspenso até que o voto de confiança seja definido.

Há, ainda, a rejeição por parte do Legislativo quanto à proposta de formar uma nova Assembleia Constituinte, uma das principais propostas de campanha de Castillo. A oposição é tão marcada que até mesmo um membro do governo que se demitiu em menos de um mês é alvo.

O ex-chanceler Héctor Béjar, que deixou a gestão em razão de falas polêmicas, viu partidos contrários ao presidente se juntarem para interpelá-lo, já que ele afirmou que a Marinha do país, supostamente treinada pela CIA, agência de inteligência dos EUA, estaria por trás da criação do Sendero Luminoso.

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Castillo, 51, surpreendeu ao se destacar nas pesquisas a poucas semanas da eleição. Mais: foi ao segundo turno em primeiro lugar, numa disputa entre 18 candidatos, com apenas 18,92% dos votos.

Nascido em Cajamarca, no norte do Peru, ele é afilhado de Vladimir Cerrón, líder do Perú Libre, ex-governador de Junín, admirador do chavismo e condenado por corrupção. Castillo acabou vencendo no segundo turno, por uma margem de 44 mil votos, a candidata da direita, Keiko Fujimori, filha do ex-ditador Alberto Fujimori, que se encontra preso por crimes contra a humanidade e corrupção.

Não é comum que um gabinete seja rejeitado na primeira oportunidade, e há sinais de que a oposição, dividida, dará uma trégua ao presidente. Na terça, Veronika Mendoza, que foi candidata pelo Novo Peru, partido de esquerda moderada, afirmou que, "apesar de ter críticas", orientará a bancada a votar a favor.

Há divisão também no Ação Popular, comandado pela líder do Congresso, María del Carmen Alva Prieto, cuja posição é ambígua: não disse que votará contra, mas pediu que Castillo "escute a voz da população".

Outro setor do partido pediu, em troca do voto de confiança, que Castillo troque três nomes do ministério, Walter Ayala (Defesa), Iber Maraví (Trabalho) e Juan Francisco Silva (Transportes e Comunicações). Até a publicação deste texto, o presidente ainda não havia decidido o que fazer com os três postos.

Pesquisa do Instituto de Estudos Peruanos indica que 79% dos peruanos desejam uma mudança no gabinete ministerial. Destes, 52% querem uma mudança parcial, e 27%, uma mudança completa. A mesma sondagem, publicada no último domingo, afirma que 38% dos peruanos aprovam o modo como Castillo está atuando, e 46% desaprovam —16% não quiseram opinar.

O presidente, que assumiu o cargo em 28 de julho, vinha adotando um perfil moderado desde o final da campanha eleitoral. Prometeu não realizar estatizações e respeitar a diversidade cultural, sexual e étnica do país. Em outros pontos, no entanto, não mudou o discurso moralmente conservador: segue contra o aborto e o matrimônio igualitário. Tampouco escolheu um gabinete moderado, já que a maior parte dos ministros é de seu partido e podem ser classificados de uma esquerda mais radical.

A única exceção é Pedro Francke, considerado de perfil conciliador e próximo ao mercado. O economista tem como modelo político e econômico o Uruguai governado pela Frente Ampla de 2005 a 2020.Neste período, o país ampliou o gasto social para repasses em assistência e benefícios, sem fazer grandes intervenções na economia. Como resultado, o PIB uruguaio cresceu, em média, 4% ao ano.

Também na terça, Castillo afirmou esperar que o Congresso conceda o voto de confiança, "apesar das diferenças políticas". "Devemos ter confiança no povo para continuar trabalhando. Eu estou aqui pelo Peru e tenho fé neste gabinete". Bellido também pediu "ponderação e responsabilidade aos congressistas".

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